E por quê tal frase deve ser sempre relembrada? Veja aí o caso do paranaense Rogério Ceni, 40 anos, goleiro do São Paulo desde 1990. Ídolo, maior jogador da história do São Paulo, provavelmente superando até mesmo o uruguaio Pedro Rocha, que tanto encantou os são-paulinos na década de 70. Além de seus históricos 109 gols marcados na carreira e de conquistar todos os títulos possíveis (menos o da Copa do Brasil), o ídolo e goleiro-artilheiro Rogério Ceni foi eleito o melhor jogador dos Campeonatos Brasileiros de 2006 e 2007 e indicado ao prêmio da Bola de Ouro em 2008 pela revista francesa France Football. É fato que não possui o mesmo carisma do ex-goleiro Marcos, que é querido até por quem não é palmeirense, mas Rogério é idolatrado pela grande maioria dos são-paulinos. Mesmo assim, já está passando da hora de deixar o futebol, porque como diz a frase, o futebol já está o deixando. Chegou o momento de fazer o que o palmeirense Marcos fez: pendurar as chuteiras (ou as luvas, como queiram) e perpetuar sua imagem na galeria dos grandes jogadores, sem arranhões.
Marcos encerrou a carreira no começo de 2012. Quando viu que já não estava mais atuando em alto nível, sem o mesmo reflexo (indispensável para o bom goleiro) e que suas apresentações ficavam aquém do esperado, simplesmente parou para não decepcionar seus fãs. Sem alarde, sem hesitar. O desempenho quase sempre irregular nas últimas partidas poderia manchar a boa imagem perante todos os torcedores, especialmente por ter sido o goleiro titular da seleção brasileira pentacampeã mundial na Copa da Ásia de 2002.
Rogério não é mais o goleiro rápido e habilidoso de antes, que participava dos jogos fazendo belas defesas e gols de bola parada, que sempre se mostrava bastante seguro com a bola nos pés. Não é mais aquele goleiro que sabia como poucos sair jogando, que não errava reposição e esbanjava confiança nos recuos de bola de sua zaga.
O goleiro-artilheiro vem falhando e não é de hoje. Teve lances bisonhos neste Campeonato Paulista, como na partida contra o modesto Ituano, um frango inconsolável em pleno estádio do Morumbi. Sofreu 20 gols em 17 partidas em que atuou na atual temporada, o que significa 1.17 gols sofridos por jogo, sua pior média nos últimos 5 anos.
Porém, são nos jogos mais importantes que as falhas se tornam mais visíveis. No melhor clássico paulista até o momento, o São Paulo foi derrotado de virada pelo Corinthians pelo placar de 2 x 1 e o goleiro são-paulino foi destaque da partida. De forma negativa.
Rogério errou "feio" pelo menos três vezes: ao repor uma bola ainda no primeiro tempo, entregando de graça para um jogador corintiano próximo da área; ao se atrapalhar numa defesa com os pés e "furar" na pequena área ao disputar bola com o corintiano Paulinho; e principalmente no lance capital do jogo, ao perder o tempo de bola e sair mal num recuo de seu zagueiro, fazendo pênalti durante disputa com o atacante corintiano Alexandro Pato.
É bem verdade que o zagueiro Rafael Tolói deixou Rogério em maus lençóis ao recuar erradamente uma bola fácil, dominada. O habilidoso e veloz Pato, percebendo o erro do adversário, saiu em disparada e muito mais rápido chegou na bola antes, tirando-a do alcance do goleiro com o bico da chuteira. Rogério, mais lento e sem tempo de bola como no passado, chutou violentamente o pé do atacante, derrubando-o e cometendo pênalti. Ele próprio se machucou no lance. Apesar dos protestos de jogadores e torcedores são-paulinos, foi pênalti claro e o goleiro deveria ter sido expulso, porque se não fosse derrubado, Pato entraria com bola e tudo para dentro do gol. Rogério Ceni chegou a "implorar" a não marcação do pênalti, ajoelhando-se pateticamente diante do árbitro. E mesmo se adiantando uns 2 metros como de costume na cobrança do pênalti, não conseguiu evitar o gol do mesmo Pato que deu a vitória ao Corinthians. E, mais uma vez, saiu reclamando da arbitragem no fim do jogo.
Rogério Ceni precisa compreender que reconhecer a hora de parar também é louvável, assim como comemorar títulos, gols e vitórias. Isso faz parte dos grandes feitos dos grandes jogadores.
Portanto, encerre sua vitoriosa carreira ainda com bom futebol antes que o bom futebol o abandone...de vez.
2 comentários:
Me fez lembrar do ídolo de muitos, Schumacher, que também deveria ter parado quando estava no auge, em 2009, acho.
Ótimo texto, boa visão de um futuro não promissor para o Rogério. É fato. Hora de pendurar as chuteiras, literalmente.
Sim, também não concordei com o retorno do alemão às pistas. Porém, no fim da temporada de 2012 da Fórmula 1, o mito Michael Schumacher me surpreendeu com uma declaração. Ao ser perguntado por um repórter sobre o que ele teria "aprendido" com sua volta apagada, ele respondeu: "Aprendi a perder". Acredito que Rogério Ceni não terá a mesma humildade para admitir isso no fim de sua carreira se insistir em continuar por mais tempo.
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