" - É agora que entra o meu trabalho, vou poder treinar e montar a equipe mais ou menos com a minha feição. Vamos buscar o Brasileiro, vamos brigar, vamos ser campeões."
(Cuca, técnico do Palmeiras, em entrevista após eliminação de seu time da Copa Libertadores da América e do Campeonato Paulista)
Porque o palmeirense comemorou o título do Campeonato Brasileiro de maneira diferente.
Não foi a mesma sensação de exatamente um ano atrás, com Marcelo Oliveira, que também foi campeão nacional pelo clube. Com Cuca, foi diferente. Afinal, o técnico campeão da Copa do Brasil de 2015 não deixou nenhum legado a não ser um estoque de "chuveirinhos", que nem o mais otimista dos torcedores acreditou que daria certo para sempre. Mas conquistar o longo e concorrido Campeonato Brasileiro, sem drama e sem sofrimento, faz esquecer o que ficou para trás.
Depois das eliminações no Campeonato Paulista e precocemente na Copa Libertadores da América, Cuca prometeu o título brasileiro aos palmeirenses. E cumpriu.
O torcedor sabe que o campeão deste ano não foi brilhante. Que não encantou. Talvez por não ter o elenco igual ao do Atlético-MG, considerado o "favorito" para ganhar tudo em 2016. Mas Cuca conseguiu fazer o time jogar. Se não tinha em mãos um elenco primoroso em qualidade técnica, restou a ele formar um bom conjunto e treinar uma equipe bem organizada taticamente, que logo ganhou entrosamento e cresceu de produção. De um grupo assustado e desacreditado após a eliminação ainda na fase de grupos da Copa Libertadores, o Palmeiras passou a ser um time determinado e confiante. Cuca fez o time "funcionar".
Da cara fechada, sisuda e austera do ex-técnico Marcelo Oliveira comandando o vasto repertório de "chuveirinhos" na área, o time passou a ter a humildade e o carisma de um autêntico boleiro jogando com seu time na beira do campo. E contou com algo a mais: o empurrão da torcida, que fez a diferença no Allianz Parque sempre lotado. Uma energia que veio sempre das arquibancadas, razão de ser desse esporte.
Sob seu comando, o time se transformou. Mais motivado, mais concentrado. O Palmeiras de Cuca não admitia perder. É claro que o treinador não fez milagre, mas com a bola rolando, o time se mostrava, pelo menos, diferente de uma irritante normalidade dos adversários. As vitórias quase sempre eram convincentes, o time administrava o controle dos jogos a seu favor e protegia sua liderança a cada vitória. Desde o início do 2º turno, o Palmeiras se tornou claramente o time a ser batido. Tinha pinta e também sorte de campeão. Não teve um "mago" da camisa 10 no meio de campo para armar jogadas sensacionais, nem aquele volante moderno que sabe atacar e defender com intensidade. Porém, nenhum outro time do campeonato se compara à disciplina tática exibida pelo Palmeiras de Cuca durante os 90 minutos. Nem o Atlético-MG de Robinho, Fred e Pratto, com o "melhor elenco" do país, ou o Flamengo de Guerrero, Diego e Leandro Damião. O Palmeiras do pastoral Cuca se tornou um time quase imbatível porque simplesmente sabia se defender e atacar buscando sempre a vitória, dentro e fora de casa. O grande segredo foi a força do jogo coletivo, do jogo solidário, sem vaidades individuais. E sem perder a capacidade de jogar para frente e fazer brilhar Gabriel Jesus, por exemplo. A questão primordial era entrar em campo e, com eficiência, jogar pelos três pontos.
O treinador deu "uma cara" ao time, mudou o jeito de jogar e, principalmente, criou um ambiente de paz que foi fundamental para alcançar o maior objetivo de todos no clube: ser campeão, como ele prometeu sete meses antes.
Cuca foi o líder por sua influência, jamais por autoridade. Fez jogadores, dirigentes e torcedores confiarem em seu propósito, em seu trabalho. Isso não fez do Palmeiras um time espetacular e sem defeitos, mas o tornou um time protagonista, que em cada rodada entrou em campo para buscar o troféu.
Cuca aprendeu mais. Está mais eloquente do que nunca. Basta assistir, na íntegra, uma entrevista sua. Tudo o que ele fala melhora o ambiente. Mesmo numa situação adversa, ou antes e depois de uma partida importante, seu semblante e sua fisionomia traduzem um cara "injustiçado" por anos no meio do futebol. De um técnico que sempre montou equipes competitivas que não ganhavam títulos, ao olhar de quem mantém a fé e acredita no que está dizendo e fazendo. É o ex-boleiro que agora está na beira do gramado pedindo calma a seus jogadores e, ao mesmo tempo, disposto a ligar o botão do "foda-se" a qualquer momento se for preciso.
Com Cuca, o Palmeiras voltou a sorrir em campo, voltou a dançar na hora do gol, voltou a celebrar uma justa e merecida conquista depois de 22 anos. E fez o palmeirense voltar a fazer parte da torcida que canta, vibra e comemora. Com méritos. E de verdade.
* Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 44 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.
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