Há 8 meses o
Gigante acordou de um sono profundo, deitado eternamente em berço esplêndido. A
voz das ruas deu o tom e uma onda de protestos varreu o Brasil de norte a sul.
Afinal, como pode um país onde as pessoas morrem por falta de hospitais ou que
sequer tem ensino decente gastar mais de R$ 30 bilhões na preparação e construção de
estádios para um torneio de futebol que vai durar um mês? Pior: um evento que,
ao contrário do que os donos do poder sempre disseram, não deixará nenhum legado para a
população? Pois é.
Mas ainda
assim, apesar desse surto recente, o povo brasileiro é o menos patriota,
politizado e ideológico da América Latina. Veja o esporte como exemplo.
O Brasil
possui esportistas que se tornaram ídolos no mundo inteiro e que, por aqui, são
pouco reverenciados ou até lembrados. Ayrton Senna, por exemplo, finalmente
neste ano foi homenageado por uma escola de samba de ponta do Rio de Janeiro.
Mas acabou? E antes disso? Na Europa, certamente o maior piloto de Fórmula 1 de
todos os tempos é bem mais reverenciado do que por aqui. Isso existe em todos
os esportes onde o Brasil se destaca pelo mundo, sendo que o exemplo mais gritante
está no futebol. O maior jogador de todos, o Rei do Futebol, é lembrado e
querido no tal do “país do futebol”? Basta fazer uma comparação com nossos
vizinhos hermanos, tão apaixonados por futebol quanto os brasileiros. Lá, Diego
Maradona é simplesmente idolatrado. Não como ídolo, mas como um Deus, um ícone
genuíno que está acima do bem e do mal, e pouco importa a sua conduta fora de
campo. Até para quem não gosta de futebol. A rivalidade também é deixada de lado, pois Maradona é como se fosse um máximo
denominador comum entre os argentinos. Sejam eles torcedores do Boca
Juniors, do River Plate, do Velez Sarsfield, do Independiente, do San Lorenzo,
de qualquer um. Maradona é “Díos” em terras portenhas. Nos jogos da seleção
argentina, o que mais se vê nas arquibancadas de qualquer estádio do país são
faixas e bandeiras com frases e imagens celebrando e homenageando Dom Diego, além de outros craques, como Batistuta, Passarella, Caniggia, Kempes,
Messi e até Palermo. E
no Brasil? Alguém se lembra de ter visto alguma vez uma única faixa em alusão à
Garrincha, Zico, Falcão, Junior, Vavá, Romário, Rivelino, Ronaldo,
Sócrates, Cafu, Nilton Santos, Gylmar, Alex, Ademir da Guia,
Tostão, Bebeto, entre tantos outros craques do passado ou do presente, em algum
jogo da seleção brasileira? Não. Nem Pelé, O Rei
do Futebol, estimado em todo o planeta, possui em seu país o status e o
reconhecimento que Maradona possui na vizinha Argentina, longe disso. Pelé, por
exemplo, não é unanimidade sequer entre os atuais boleiros, o que dirá para o
torcedor que alimenta uma rivalidade travestida de recalque e inveja e que lhe
fecha os olhos para admirar e reconhecer ídolos de times rivais? O brasileiro parece não gostar de Pelé ou de quem se destaca demais na mídia. Como dizia Tom Jobim, "No Brasil o sucesso incomoda".
Se os nossos "gênios" tivessem nascido em outro lugar seriam
mais queridos. Mais um exemplo? se o Papa fosse brasileiro e revelasse seu time
do coração (como o Papa argentino fez), muita gente por aqui provavelmente não
iria gostar dele só por causa disso. Sem contar que sobrariam "piadinhas"
a respeito em redes sociais.
E é bastante comum se ver por aqui brasileiros desfilando nas ruas vestindo camisas da seleção argentina com o nome de "Messi" nas costas. Será que existem argentinos com camisas da seleção brasileira estampadas com "Neymar" nas costas?
Então. Coisas do Brasil e dos brasileiros. E não se surpreenda se, caso tivermos um Brasil x Argentina durante a Copa (e será ótimo para o futebol se isso acontecer), você ver uma multidão de pessoas apostando na seleção de Messi, Higuaín, Agüero e companhia. Até gente que você conhece.
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