O estádio de futebol
é talvez o único lugar capaz de reunir ao mesmo tempo, pelo mesmo motivo e com a mesma intensidade, milhares
de pessoas de todas as idades, estilos, crenças e classes sociais.
Faça frio ou
faça sol, durante o dia ou de noite, o estádio se torna a catarse coletiva que
transcende a razão. O gari e o médico que se abraçam celebrando o
grito de gol. O vendedor e o advogado que berram juntos xingando o árbitro pela
marcação de um impedimento duvidoso.
É ali, no meio
de tanta gente movida pelo mesmo ideal, que o torcedor ri, chora, se lamenta, vibra, se desespera, desabafa a insatisfação com seu emprego, digere a bronca do chefe no fim do
expediente, se liberta da relação mal resolvida que vive dentro de casa.
É no estádio que
o torcedor pode extravasar sua emoção. No entanto, o mesmo torcedor
não pode se sentir no direito de acreditar que, ali no estádio de futebol, tudo é permitido e tudo deve ser tolerado. Não pode haver a falsa sensação de que ali pode tudo. Sim, existe um limite, um ponto até onde se pode chegar.
não pode se sentir no direito de acreditar que, ali no estádio de futebol, tudo é permitido e tudo deve ser tolerado. Não pode haver a falsa sensação de que ali pode tudo. Sim, existe um limite, um ponto até onde se pode chegar.
A exclusão do Grêmio
da Copa do Brasil por insultos racistas ao goleiro santista Aranha, dentro de
seu estádio, é inaceitável, assim como é inadmissível a injúria racial.
Mas que seja punido o autor do disparo e não o fabricante da arma.
O clube não pode ser penalizado dessa forma por
causa de meia-dúzia de inconsequentes que, em pleno século 21, ainda
discriminam um ser humano pela cor de sua pele. O clube não pode
ser responsável por atos criminosos de pessoas que vestem sua camisa. Não há como controlar a
reação do torcedor, uma vez que ali existe todo tipo de gente.
Não é obrigatório exame de sanidade mental ou psicológico
na hora de comprar ingresso na bilheteria. Nenhum torcedor responde a um teste
eliminatório de bons modos antes de passar pela catraca. O clube não tem como
prever o que uma pessoa vai fazer dentro ou fora de seu estádio. É preciso identificar e punir quem cometeu os insultos racistas ao goleiro do Santos, que estava ali simplesmente fazendo o seu trabalho.
Por outro lado, expulsar o time gaúcho da Copa do Brasil não vai acabar com o racismo ou atitudes covardes de quem está na arquibancada.
Neste episódio, a imbecilidade das ofensas de alguns torcedores ao Aranha sequer os beneficiaram de alguma forma, uma vez que o Grêmio perdeu a partida de ida das oitavas-de-final para o Santos por 2 x 0, em
seus próprios domínios. A exclusão da equipe do técnico Luiz Felipe Scolari nem soa tanto como "punição", já que dificilmente conseguiria reverter a
vantagem de dois gols do Santos jogando dentro da Vila Belmiro. Ou seja, a eliminação dos gaúchos era quase iminente, somente foi antecipada pelo STJD.
Mas para o gremista sempre haveria uma chance, por menor que fosse. E a expulsão do time por atos racistas, que fogem totalmente ao
controle da instituição, puniu o Grêmio e seu torcedor do bem, aquele que faz parte da esmagadora maioria.
O futebol não pode
pagar pela estupidez do ser (des)humano.
2 comentários:
Iniciou-se uma nova fase no Brasil, e esta será exemplo para o mundo todo. Pois, com a decisão do STJD, inédita no Planeta, demarca-se o Antes e o Depois da mesma. No Antes, podia cair o alambrado e ferir centenas de torcedores, podia atirar sinalizadores do exército no adversário, podia bater com barra de ferro, podia jogar tijolos, vaso sanitário na cabeça, xingar de "macaco ou FDP" - até podia alusionar os mesmos a Ministros do Supremo - , e inclusive podia marcar encontros e brigas pela Internet, organizadamente. Mas isto era o antes. no momento atual, o STJD do Brasil, um país extremamente mais avançado que os outros, resolveu dar um "Basta!" à violência moral e física nos estádios, cortando o mal abruptamente pela raiz. Assim puniu severamente ao Grêmio e a seus torcedores com uma exclusão direta da Copa do Brasil, baseado no fato de que alguns indivíduos identificados praticaram as mesmas injúrias que outrora não eram levadas tão a sério. Deste modo, na época da nova moralização, já estamos vivendo as semanas do Depois, da linha dura e Justiça Desportiva infalhável. E como já estamos vendo, a partir do presente só será tolerado: torcedores do Flamengo que gritarem "racistas" para gremistas ou outros, membros do STJD postando conteúdos supostamente de cunho racista, e o que a grande imprensa quiser omitir, não importando o que seja. Por conclusão, e considerando a boa educação e o profissionalismo que tanto impera neste nosso país exemplar, logo logo ninguém mais será punido com gravidade e em poucos meses só será permitido e considerado normal o que ocorrer conforme a dureza das regras do Antes desta decisão do STJD. Duvida? O tempo te mostrará...
Concordo. E acredito que os indivíduos identificados nas arquibancadas devem ser julgados e punidos de acordo com a legislação vigente. Punir o clube, como aconteceu com o Grêmio, abre um perigoso espaço para o "falso torcedor", ou seja, o sujeito mal intencionado que pode se infiltrar na torcida adversária com o intuito de prejudicar um dos times. E tal medida de exclusão não acaba com o racismo, infelizmente.
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