Só
para se ter uma idéia do quanto significaram tais títulos, no começo da
temporada de 2013 e após a volta do Japão com o troféu do Mundial a tiracolo,
muitos corintianos pediram à diretoria que Tite fosse efetivado de forma
vitalícia no posto de treinador. Nunca um técnico foi tão ovacionado por uma
torcida, mesmo jogando um futebol feio, sem brilho, sem plástica, sem graça,
porém eficiente. O futebol feio e de extrema marcação praticado pelo
Corinthians, que priorizava o resultado, era sinônimo da “Titebilidade". Uma
filosofia que o treinador procurava explicar com esquemas táticos, termos
técnicos e até um certo exagero na busca por palavras difíceis, utilizando de
certo modo uma linguagem até culta demais para a torcida do chamado “time do
povão”. Mas a tal “Titebilidade” engrenava e fazia o time passar de fases,
fazia o time se sobressair, conquistava títulos. Jogos que terminavam em 0 x 0,
1 x 1, e com vitórias magras, geralmente por 1 x 0 ou 2 x 1. Isso não importa.
O resultado final sempre era o mais precioso. Até que no 2º semestre de 2013
veio a síndrome do "Empatite", o famoso trocadilho utilizado para
mostrar o grande número de empates da equipe.
Contrariando
todas as otimistas apostas de grande parte da mídia, o time de Tite desandou
neste Brasileirão. De largamente cotado a favorito para erguer o troféu, o
Corinthians fez uma campanha bem abaixo da média e do que se esperava do “campeão
do mundo”, empatando demais, sem conseguir fazer gols e perdendo jogos bobos,
mesmo dentro do Pacaembu. E não apenas não conseguiu sequer vaga para a Copa Libertadores
de 2014, como também somente conseguiu se livrar do risco de rebaixamento a
quatro rodadas do fim do campeonato. Nada mais funcionou neste Brasileirão como
funcionava antes. E até jogadores antes idolatrados pela torcida, como Danilo e
Emerson Sheik, foram duramente questionados pelo mau desempenho neste 2º
semestre.
Tite
perdeu o comando que sempre teve sobre o elenco. Talvez tenha perdido também o
"vestiário", um ambiente sagrado para os jogadores, tão vital no
mundo do futebol para manter a harmonia entre comandante e comandados. Em 2013 também
houve desentendimentos nos bastidores, como no episódio que culminou com a
saída de Jorge Henrique, por exemplo. Algo que nunca acontecera antes.
E
ficou complicado para Tite cobrar os jogadores a cada rodada, depois dos
importantes títulos conquistados recentemente. A desconfiança surge e os
argumentos vão acabando. Esvaziam-se. Motivar um elenco vitorioso se torna um desafio,
algumas vezes inglório para o comandante, que sabe que um trabalho somente
sobrevive de resultados positivos.
Tite
sentiu a pressão. Não aquela pressão da derrota vergonhosa para o Tolima, na
Pré-Libertadores de 2011. Mas a pressão voltou. A torcida apoiou treinador e
jogadores mesmo após a eliminação para o Boca Juniors nas oitavas-de-final da
Libertadores deste ano. Contudo, passou a cobrá-los com o rendimento ruim no
Brasileirão, vendo a vaga no torneio sulamericano ficando cada vez mais distante
e a zona de descenso cada vez mais próxima.
Sem
conseguir criar algo novo e motivador para melhorar a situação do time, Tite
teve que aceitar a não-renovação de seu contrato. Fez até juras de amor ao
Corinthians, afirmando que "no Brasil não dirige mais nenhum outro
time". Será mesmo, Adenor? Ou só o tempo dirá? Na entrevista coletiva ao
lado do presidente Mario Gobbi (que beirou a hipocrisia), apenas agradeceu a torcida
e o clube pela gestão em conjunto.
Mesmo
com Tite ainda no comando até dezembro, o clube já fechou com Mano Menezes para
2014, técnico que devolveu o Corinthians para a 1ª Divisão em 2008. Mas cabem
aqui as perguntas: o quê Mano Menezes tem de diferente em relação à Tite? Por
quê acreditar que, com Mano, o time vai voltar a render? O quê Mano vai acrescentar na continuidade de um projeto que Tite teve êxito? Ambos são mais ou menos equivalentes
no jeito de pensar o futebol (leia-se retranqueiros de ofício). E certamente Tite até se sobressai em relação à eficiência de padrão de
jogo.
Mano
Menezes também é bastante querido no Parque São Jorge, mas vem de passagens
frustradas por seleção brasileira e Flamengo. Nada ou quase nada pode ou deve mudar
na maneira de jogar do Corinthians para a próxima temporada. Resta apenas aos corintianos a esperança
de que o novo técnico consiga "motivar" mais o elenco do que seu
antecessor. Porque tanto Mano quanto o time do Corinthians precisam de uma boa dose de injeção de ânimo para a próxima temporada. Porém, a sombra de Tite estará sempre pairando no Centro de
Treinamento, especialmente nas derrotas.
Enfim,
tecnicamente não vejo nenhuma reformulação a vista.
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