Pelé nunca foi brilhante com
as palavras da mesma maneira que foi brilhante com a bola nos pés. Mas uma das
frases do Rei do Futebol merece destaque: “O
jogador deve abandonar o futebol antes que o futebol o abandone”. Concordo.
Compreender o momento certo de parar é tão louvável quanto uma carreira
vitoriosa e repleta de títulos. Tão importante quanto o caminho que se percorre.
O paranaense Rogério Ceni,
41 anos, anunciou sua aposentadoria para o fim da temporada de 2014. Dessa vez
em entrevista coletiva e de forma “oficial”, já que o fim da carreira vem sendo
arrastado pelo goleiro há dois anos.
Trata-se do maior
jogador da história do São Paulo, a frente de Pedro Rocha, Daryo Pereira e Raí.
No Morumbi desde 1990, já atuou em 1.119 partidas oficiais pelo clube,
ultrapassando o recorde de Pelé, que fez 1.116 jogos pelo Santos. O ídolo que
conquistou 17 troféus com a camisa são-paulina e o goleiro-artilheiro que já marcou 113 gols, um feito que jamais será alcançado por outro jogador de sua
posição.
Mas por quê Rogério adiou
sua aposentadoria há dois anos e agora diz que realmente vai parar?
Porque ele queria encerrar a
carreira com um título, de preferência expressivo. Uma Libertadores, por
exemplo, para coroar uma trajetória tão vitoriosa. Seria a cereja do bolo. Teve a
chance no ano passado, mas o São Paulo fez sua pior temporada da carreira de
Ceni. Em 2013, o capitão do time encarou um inferno astral. No Paulista, teve sua pior
média de gols sofridos: 20 gols em 17 partidas. Na Libertadores, uma campanha
frustrante, que quase não passou da etapa de grupos. No Brasileiro, o clube
viveu seu pior campeonato da história e somente se livrou do rebaixamento para
a 2ª divisão a poucas rodadas do fim. Não era isso que Rogério esperava para o
fim de sua carreira. O próprio goleiro disse mais de uma vez que “seu lado emocional estava muito pesado e que
havia envelhecido 10 anos em 6 meses”. Afinal, sobre quem recaíram a
maioria das críticas? Em qualquer time grande, o jogador que mais se destaca é
também o mais cobrado.
Ceni sabe que o momento do
São Paulo ainda é confuso e pode não ser diferente em 2014, como mostrou a
participação do time atual no Campeonato Paulista. Por isso, resolveu que parar
ainda “por cima” é o melhor a ser feito.
Exatamente o que fez o
ex-goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras e também de outras torcidas, muito por
seu estilo “boleirão” e “despojado” de ser. Além de questões físicas (que
também atrapalham Ceni), Marcos percebeu que o Palmeiras não lhe daria a
oportunidade de encerrar a carreira com um título importante e decidiu parar. E
Rogério não tem o mesmo carisma de Marcos diante dos torcedores de outros
clubes, por isso se torna ainda mais “alvo” das críticas. Em qualquer situação
negativa de seu time, é a primeira “vidraça” a ser apedrejada.
Além da questão física, há também a parte técnica. Rogério Ceni ainda é o
goleiro rápido e habilidoso de antes, que sempre fazia gols e que sempre se
mostrava bastante seguro com a bola nos pés? Ainda é aquele goleiro que sabia
como poucos sair jogando, que não errava reposição de bola e que esbanjava
confiança? Se ao invés de uma "chegada triunfal" começam a aparecer tantas pedras no meio do caminho, por que então arriscar tudo o que já foi tão bem percorrido?
Ele tem um nome e uma história
a zelar dentro do São Paulo e diante de seus súditos são-paulinos. Uma história
que ele próprio escreveu com dedicação.
Por isso resolveu pendurar
as chuteiras no fim da atual temporada e perpetuar sua imagem na galeria dos
grandes jogadores. Sem arranhões.
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