sábado, 15 de outubro de 2016

UM PAPO SENSACIONAL COM O JORNALISTA E APRESENTADOR JOSÉ CALIL

*por Adriano Oliveira

O administrador esportivo, jornalista e apresentador José Calil começou sua carreira em 1984 quando ainda cursava o último ano de jornalismo na PUC, em São Paulo. Desde então, garantiu seu espaço na mídia trabalhando nos principais veículos de comunicação do país, embora admita que o rádio é sua paixão. "Sou e sempre serei um cara do rádio", diz.
Sempre ligado ao esporte, Calil também já trabalhou como gerente de futebol do Grêmio Barueri e foi secretário de esportes da cidade.
Polêmico, perspicaz e dono de um apurado raciocínio analítico, o atual âncora e comentarista da Rádio Transamérica vai sempre direto ao ponto e odeia o tal do politicamente correto que, segundo ele, "é um atraso para a sociedade". Entre admiradores e críticos, costuma dizer no microfone a mesma coisa que fala na poltrona de sua casa ou no boteco.
Seu orgulho como profissional é "ter deixado sempre boas lembranças e impressões em todos os lugares em que trabalhou"Seu craque é Neymar, prefere Maradona a Messi e avalia que "não havia outro caminho para a seleção brasileira senão Tite, que age na cabeça dos atletas"Entende também que "é muito mais difícil ser técnico no Brasil do que na Europa" e afirma que "o Audax merecia ter levantado a taça" do Campeonato Paulista de 2016.
Seu jogo inesquecível? A final da Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994.
Na entrevista abaixo, saiba muito mais o que pensa esse jornalista com mais de trinta anos de carreira que se tornou um dos nomes mais conhecidos e respeitados da imprensa esportiva no Brasil.


- Como surgiu seu interesse e quando você começou a trabalhar com futebol?
Já nasci no futebol. Meu pai amava o esporte e me levava sempre para jogar e assistir. Quando estudei jornalismo na PUC-SP já pensava em trabalhar com futebol. Idem quando estudei gestão esportiva na Fundação Getúlio Vargas.

- Seu nome é um dos mais conhecidos da mídia esportiva. Qual o segredo da longevidade na carreira? Existem novos projetos para o futuro?
A longevidade na profissão se deve, fundamentalmente, à credibilidade mostrada ao longo dos anos. E também, modéstia à parte, à capacidade demostrada no dia a dia. Sobre o futuro, penso apenas em prosseguir na Transamérica. Sou muito bem tratado e tenho uma excelente visibilidade graças à nossa enorme audiência.

- Como formador de opinião, você acredita que o jornalista esportivo também deve se posicionar sobre política e outros assuntos de interesse da sociedade? Ou é melhor se preservar junto ao público?
Não vejo nenhum problema num jornalista esportivo falar sobre política ou economia. Desde que ele tenha o que dizer a respeito desses outros temas.

- A busca pela modernidade e por mais audiência consiste em misturar jornalismo esportivo com entretenimento. Você acredita que essa é uma fórmula irreversível ou apenas uma aposta de marketing que, no decorrer do tempo, pode não funcionar?
Em última análise esporte é entretenimento. Quando comecei a trabalhar com o Gavião tinha dúvidas se essa mistura de humor e futebol daria certo. Hoje tenho certeza que dá. Ele é um gênio. O grande diferencial do nosso trabalho.

- Quem é seu ídolo no futebol?
Não gosto muito dessa palavra "ídolo". Meu único ídolo é Jesus Cristo. Mas para não deixar você sem resposta, no futebol, fico com o Rei Pelé.

- 7 x 1 foi pouco ou apenas um acidente na última Copa? De quem foi a culpa?
A derrota diante da Alemanha não foi acidente. Eles tinham um time melhor. Mas o placar de 7 a 1 foi acidental sim. E, por mais que a maioria culpe o técnico, para mim, naquele dia, no Mineirão, os grandes culpados foram os jogadores. Todos eles.

- Tite é realmente o nome certo para resgatar o futebol e o prestígio da seleção brasileira?
Sem dúvida que sim. As quatro vitórias seguidas mostram isso. Não havia outro caminho senão Tite.

- Qual a sua relação com o patrulhamento do politicamente correto dentro das redes sociais?
Odeio esse papo de politicamente correto. É um atraso para a sociedade. Não sou assim e não pratico essa hipocrisia.

- De maneira geral, como você avalia o nível dos treinadores de futebol brasileiros em comparação com os europeus?
Uma vez Muricy Ramalho disse que ser técnico no Brasil é muito mais difícil do que na Europa. Foi ridicularizado por isso. E tinha total razão. Lá o treinador forma seu elenco para a temporada e ninguém mexe mais. Aqui o cara perde jogadores a todo momento, ou para o próprio mercado europeu, ou para essas convocações absurdas. Nossos técnicos nada devem aos europeus. Vejam o que acabou de ocorrer com Paulo Bento: técnico de renome na Europa, não conseguiu trabalhar aqui. Aqui é muito mais difícil.

- Cristiano Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho ou Ronaldo Fenômeno?
Desses três fico com Ronaldinho Gaúcho, o mais completo deles. Pena ter largado a carreira.

- Você é a favor do uso de recursos eletrônicos na arbitragem?
Sou totalmente contra a intervenção da tecnologia na arbitragem de um jogo de futebol. No máximo o chip na bola, porque, aí, o relógio do juiz vibra e ele sabe imediatamente se a bola entrou ou não. Quem defende que um jogo de futebol seja paralisado por três ou quatro minutos para que uma decisão do árbitro seja legitimada desconhece totalmente a essência do esporte.

- Existe hoje um perfil de liderança ideal para ser técnico de futebol de um clube considerado grande?
Hoje o treinador é, antes de tudo, um gerenciador de pessoas. Tite nos mostra isso todos os dias. Chamou quase todos os mesmos jogadores que Dunga chamava, não alterou muito o esquema tático e conseguiu uma produtividade muito maior. Porque age na cabeça dos atletas. Para treinar time grande tem que ser assim.

- Como foi sua passagem como gerente de futebol do Grêmio Barueri? E, na sua opinião, qual é a principal causa da situação caótica do clube em 2016?
Minha experiência como gerente de futebol do Barueri foi maravilhosa, mas curta demais. Por questões políticas do clube e da cidade não fiquei no cargo nem um ano. Mas me saí muito bem. Quem trabalhou comigo é testemunha. E o clube acabou depois que foi levado para Presidente Prudente numa transação desastrosa para todos os lados envolvidos.

- Lionel Messi ou Diego Maradona?
Sem dúvida Maradona e por uma simples razão: muitas vezes foi campeão e brilhou jogando sozinho, em times muito ruins. Messi é gênio, mas sempre teve muitos craques ao seu lado.

- Qual é o time mais rejeitado do futebol brasileiro? E por que?
Depende do momento. Rejeições e rivalidades são cíclicas. Principalmente onde há mais de dois times grandes.


- O que aconteceu com a Portuguesa de Desportos desde o polêmico rebaixamento em 2013? Existe uma solução a curto prazo?
A solução imediata para a Portuguesa é construir um projeto para o seu departamento de futebol totalmente dissociado do restante do clube. Tem que ser formado um grupo de trabalho onde todos que trabalhem recebam em dia. Clube chegou à atual situação porque foi roubado por muitos dirigentes.

- Cite um momento marcante e um momento para ser esquecido em seus mais de 30 anos como jornalista e administrador esportivo.
Meu melhor momento como jornalista foi a cobertura da Copa de 1994. O pior foi ser demitido na emissora em que eu trabalhava em plena lua-de-mel. Os caras foram todos no meu casamento e, dias depois, me puseram na rua. Como gestor, o melhor foi a consolidação do trabalho do time que subiu para a elite nacional em 2008 e o pior foi ter que sair por razões políticas, sem nada que tivesse a ver com o meu trabalho.

- Qual é o seu jogo inesquecível como torcedor do Santos Futebol Clube?
Meu jogo inesquecível como torcedor foi o último em que estive nessa condição: a final do Paulistão de 1984. Dias depois já frequentava os estádios só para trabalhar.

- Por que ainda hoje, mesmo com a forte presença da internet e da ampla oferta de canais de TV, o rádio mantém seu charme e a conexão com o torcedor?
O rádio jamais morrerá. As características do veículo são únicas. Diziam que a TV e a Internet iriam acabar com o rádio. Nada disso. Ele fica cada dia mais forte.

- Nos últimos anos, tem se valorizado ex-atletas assumirem cargos no corpo diretivo dos clubes. Você acredita que a experiência dentro de campo é mais importante que a formação acadêmica?
Sou a favor da soma de conhecimentos. Tanto nos comentários de uma partida, quanto na administração de um clube, acredito que o ex-atleta e o cara que fez faculdade devem trabalhar juntos. São sabedorias que se completam.

- Você é a favor de torcida única em dias de clássico? Por que?
Sou radicalmente contra a torcida única. É uma violação à nossa Constituição. É a falência total do Estado e das autoridades. E não resolve nada. As brigas com destruição e mortes continuam acontecendo.

- Foram justas as vaias da torcida santista à Robinho no jogo contra o Atlético-MG na Vila Belmiro? Ele ainda pode ser considerado como ídolo dos torcedores?
A torcida do Santos fez mal ao vaiar Robinho na Vila Belmiro. Ele segue sendo um dos principais ídolos da história do clube e só não está no Santos hoje por incompetência da diretoria que não soube construir um projeto para contratá-lo.

- Zico, Falcão e Sócrates em 1982 ou Dunga, Romário e Bebeto em 1994?
Falcão em 1982 e Romário em 1994.

- Se José Calil fosse presidente da República por um dia, qual seria sua primeira providência a ser tomada?
Jamais pensei nisso pois jamais serei Presidente da República.

- O presidente Calil faria uma Copa do Mundo e uma Olimpíada no Brasil?
Faria sim. A Copa e a Olimpíada aqui foram retumbantes sucessos. E não são culpadas pela roubalheira que houve. Roubalheira há e haveria aqui com ou sem Copa e Olimpíada.

- Diego Maradona declarou certa vez que “no Brasil, Ayrton Senna é mais querido que Pelé”. Você concorda com tal afirmação?
O brasileiro não tem memória. É capaz, mesmo, dos mais jovens acharem que Ayrton Senna foi mais importante do que Pelé. E emoção trazida pela morte dele na pista também pesa bastante.

- Mata-mata ou pontos corridos?
Sem dúvida pontos corridos. Eu brigo quando participo dessa discussão. Pontos corridos sempre.

- Qual é o maior clássico do futebol brasileiro na atualidade?
Em termos de fama é o FLAFLU e de rivalidade é o GRENAL.

- A Primeira Liga, com a presença de clubes paulistas e nordestinos, seria a alternativa ideal para ocupar o lugar dos torneios estaduais?
A Primeira Liga já nasceu morta. Não vai dar em nada. Não classifica para competição alguma. Foi apenas uma manifestação política, sem nenhum sentido desportivo.

- Pep Guardiola ou José Mourinho?
Pela mesma razão da pergunta "Messi ou Maradona", fico com Mourinho. Ele foi campeão europeu com FC do Porto, Inter de Milão. O futebol dos times de Guardiola é muito mais vistoso. Mas ele sempre tem muitos craques à disposição.

- Você é a favor dos contratos por produtividade para técnicos e jogadores?
No futebol contratos de produtividade não funcionam. Futebol é coletivo. Você não pode remunerar a produtividade individual. Um atleta não depende só de si. Paulo Nobre, aliás, fracassou redondamente nessa ideia. Se insistisse nisso jamais teria contratado os jogadores e técnicos que contratou.

- Neymar será o melhor jogador do mundo?
Sem dúvida será. E num prazo bem curto.

- Qual dos dois times era melhor: o Santos campeão brasileiro de 2002 ou o Santos campeão da Copa Libertadores de 2011?
Fico com o de 2011. Era mais consistente e tão artístico quanto o de 2002.

- Prefere ver seu time perder a jogar mal ou o que de fato importa são os três pontos?
Quero que meu time sempre jogue bem e mereça vencer. Repilo aquele papo de querer que o time de coração ganhe no último minuto com um gol roubado. Eu não sou assim. Não gostei, por exemplo, do último título do Santos. O Audax merecia ter levantado a taça.

- Qual o maior golaço que José Calil já fez na vida?
Meu maior gol na vida é lutar pela Justiça e pela Verdade o tempo todo.




* Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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