domingo, 31 de agosto de 2014

NA HORA DA PESQUISA, QUEM É O TORCEDOR?


Na semana que passou foi divulgada a mais recente pesquisa em nível nacional sobre torcidas, realizada pelo instituto Ibope e encomendada pelo jornal esportivo "Lance!".
Pela metodologia utilizada, esse tipo de pesquisa é superficial. Por quê?
Primeiramente, porque é necessário distinguir o torcedor do simpatizante.
Será que o Flamengo, mesmo com o advento da internet e a transmissão massiva pela TV dos torneios europeus, possui realmente mais de 32 milhões de torcedores? Todas as pessoas que responderam a pesquisa e que dizem torcer para o Flamengo sabem pelo menos o nome de quatro jogadores do atual elenco? Todas sabem dizer contra quem será o próximo jogo e quando e qual foi o último título conquistado pelo clube? Então seria justo a pesquisa classificar quem não sabe o básico de seu "time do coração" como um torcedor?
Torcer para um time porque é o mesmo do pai, do irmão, do namorado ou do marido não faz alguém "torcedor". No máximo, um simpatizante. Gosta daquele time por influência direta ou indireta.
Exemplo: Meu avô (que Deus o tenha) era corintiano fanático. Teve oito filhos, entre homens e mulheres. Um deles é corintiano. O restante se dizem corintianos. Porém, mal sabem quem é o atual goleiro da equipe. E se no almoço de domingo eu perguntar se "o Dentinho deve ser titular no jogo das 16h00", responderão que sim. São torcedores? Para o Ibope, sim.
Uma partida importante do Corinthians sendo transmitida ao vivo na tarde de domingo e a TV sintonizada em algum programa de auditório. Então são esses torcedores que representam os corintianos em uma eventual pesquisa?
O Flamengo, por exemplo, criou uma enorme campanha institucional para angariar 60 mil associados nos últimos dois anos. Por que tanto esforço para um time que possui mais de 32 milhões de torcedores espalhados pelo Brasil inteiro?
Uma pesquisa confiável deveria ter acuracidade maior para identificar quem são, de fato, os torcedores de um clube e não apenas anotar em uma planilha o nome de uma equipe que uma pessoa escolheu por um motivo qualquer. Afinal de contas, o Brasil é o "país do futebol" e, sendo assim, todo brasileiro precisa então ter um time para "chamar de seu", correto? É mais uma questão cultural do que de identificação com o clube para o qual diz torcer.
Qualquer pessoa pode gastar R$ 200 para comprar uma camisa oficial e se dizer "torcedor". Mas também precisa saber onde e contra quem seu time vai jogar na próxima rodada, além de como está sua situação no campeonato. É o mínimo para ser classificado como torcedor. Por que os torcedores são "clientes em potencial" de um clube, ao contrário dos simpatizantes. Os torcedores consomem, vão aos estádios, geram audiência, acompanham e compartilham tudo sobre seus times. Os simpatizantes só ouvem falar.
Outro dado curioso da atual pesquisa: a torcida do Atlético-MG ultrapassou a do Cruzeiro. Só por que o ex-time de Ronaldinho Gaúcho ganhou um título expressivo em 2013 depois de décadas? Se for assim, porque então o Flamengo continua sendo o time brasileiro mais "querido" apesar das campanhas sofríveis na última década?
A paixão por um time de futebol não pode ser explicada por números ou estatísticas. Se torce pelo time pela capacidade que ele possui de mexer com nossas emoções e não por que está mal ou bem nas competições que disputa, tampouco porque ele possui mais ou menos torcedores. Não se mede uma torcida por seu tamanho numérico, mas pela força do sentimento de cada torcedor, que são somados individualmente. Aí se tem uma torcida no sentido próprio e não no sentido figurado.
O Flamengo é o time de maior torcida, depois vem o Corinthians, seguido pelo São Paulo, etc. Isso eu já sei desde quando jogava no campinho com bola de capotão. Contudo, esses números jamais me fizeram "mudar de lado" mesmo durante um longo jejum de títulos, quando meu time sequer ganhava um torneio de par ou ímpar na esquina.
Por essas e outras razões, é difícil confiar em uma pesquisa que pode fazer mudar de lado ou  desaparecer torcedores de um time. A não ser que os tais "desertores" sejam meros simpatizantes.
Pesquisas sobre torcidas deveriam ser bem mais substanciais. Da forma como são elaboradas, servem apenas para confirmar ao mercado que um determinado time pode ser mais "rentável" que outro e, baseados nisso, para os empresários escolherem em quais uniformes vão estampar suas marcas. Também podem ser a"referência" utilizada pelas emissoras para mensurar o espaço de cada clube em suas grades de programação. E para a dona dos direitos de transmissão dividir as cotas de televisão entre eles. Ou então para definir quantas páginas dos jornais devem ser destinadas para esse ou aquele time.
Mas para o torcedor de verdade, que não vê o futebol apenas como negócio, pesquisas como essa não servem para nada.

Pesquisa "Lance!Ibope" sobre os 18 clubes com maiores torcidas do Brasil: http://nolance.net/1tUcl6d

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O ATLETA E O BOLEIRO


Para cair nas graças da torcida, um jogador precisa ser protagonista. Para o bem ou para o mal. Muitas vezes, para o bem e para o mal.
Mas, afinal, o que é mais fácil? Ser um bom moço, artilheiro, vencedor, profissional, que “sabe falar direitinho e tem todos os dentes na boca”? Ou ser um ídolo polêmico, o vencedor provocador, marrento e vilão?
Existem os atletas e existem os boleiros.
Ambos com o mesmo propósito dentro de campo, porém de estilos muito diferentes. Cada um ocupa um espaço e um sentimento reservado no coração dos torcedores. No fundo, o torcedor sabe distinguir a importância de cada um, adora os dois e não consegue imaginar o time sem eles.
O atleta treina diariamente, é moderado nas palavras, cumpre todas as ordens táticas.
O boleiro normalmente fala e faz o que quer, dentro e fora de campo. É irreverente, o porta-voz do elenco, debochado, divide sua própria torcida. Até resolver um jogo, fazer o gol da vitória num clássico, decidir um título e caçoar do rival nas matérias do noticiário.
O atleta se dedica bastante no treinamento de sexta. O boleiro prefere a balada de sexta. E ambos são ovacionados pela torcida no domingo.
Boleiros tem momentos de heróis e lampejos de estupidez. Fazem jogadas de craque, marcam gols importantes e, de repente, mordem o ombro do jogador adversário. Possuem legiões de fãs. E também de desafetos.
No entanto, os boleiros acabam se tornando ídolos e são tolerados até pelos próprios adversários "mordidos" de raiva. Porque o futebol precisa deles.
E se tivéssemos apenas Didas, Kakás, Caio Ribeiros e Bebetos?
Qual seria a graça do futebol sem os Edmundos e os Romários? Sem os Marcos e Maradonas? Sem os Ibrahimovics e Luis Fabianos?
O futebol não teria a dimensão que possui, nem despertaria essa paixão tão emblemática.
O ídolo erra e acerta, torna a errar e se regenera de novo. Um ciclo quase vicioso que leva torcida aos estádios, que gera audiência, que instiga a rivalidade, que conduz ao delírio.
O atleta faz gols em muitos jogos. Mas certamente gols e partidas inesquecíveis tiveram ele, o boleiro, como protagonista.
O atleta também vive de jogos e gols. Mas o boleiro vive de emoção, de declarações polêmicas, de farpas, de provocações, de dancinhas, de coreografias. Até de gols. No caso, aquele gol. O atleta faz gol quando o placar está 2 x 0. O boleiro faz o gol salvador e sai em disparada no sentido da torcida adversária, dedo em riste pedindo silêncio, batendo forte no escudo do peito, com sorriso de deboche.
O atleta faz parte do time. O boleiro geralmente é a referência do time.
O atleta é apaixonado. O boleiro é apaixonante.
O atleta dribla. O boleiro chama pra dançar.
O bom e velho boleiro faz a jogada inesperada, a pedalada, a letra, o arremate improvisado e certeiro, a plástica, o teatro, a firula, a arte, a molecagem.
O atleta transpira para o boleiro se inspirar.
Na hora do sufoco, jogo acirrado, os atletas tocam a bola para o boleiro. E lhe dizem:
– Está contigo, resolve essa parada aí...”
Há atletas que são craques indispensáveis, porém quase sempre previsíveis. Eu gosto e prefiro o futebol dos boleiros.
Porque futebol é isso, é pura rivalidade, é alegria, é alma, é o que vem de dentro para fora. É emoção. Se não puder mais ser assim, vira jogo de tênis e perde toda a graça.

" - Se eu tivesse levado uma vida regrada como atleta, eu teria feito muito mais gols (...) Mas tenho consciência de que tudo foi muito divertido."
(Romário, ao anunciar o fim de sua carreira como jogador em 2008).

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O DOMINGO DE GANSO E GABRIEL


Em comum, Paulo Henrique Ganso e Gabriel Barbosa têm o clube em que ambos cresceram e foram projetados para o futebol.
Ganso, um pouco antes. Gabriel, neste momento.
Paulo Henrique Lima, que depois se tornou Ganso, fez parte da terceira geração de Meninos da Vila que conquistou títulos e encantou o país ao lado de Robinho, Neymar, André, Wesley e companhia. Foi decisivo e maestro de um time que jogava um futebol ofensivo, ousado, de toque de bola envolvente e que fazia muitos gols. Atrapalhado por seguidas lesões e com rendimento em declínio, entrou em rota de colisão com a torcida e dirigentes. Em meio à desavenças e desafetos, a lua-de-mel acabou, foi taxado de mercenário e deixou o clube que o revelou sob moedas atiradas por torcedores que tanto o idolatraram um dia. Ressentido e após uma novela quase interminável, foi jogar no rival na expectativa de logo partir para algum clube grande da Europa, o que sempre foi seu maior desejo.
Gabriel começou a aparecer quando Ganso desapareceu. Fez fama ainda na base, a Jóia sendo lapidada, a esperança sempre acesa de que existe algo de misterioso naquele lugar tão abençoado pelos deuses do futebol, onde o raio costuma cair com certa freqüência. A safra de novos meninos não era tão boa quanto a anterior do colega Paulo Henrique Ganso, mas aquele jovem tinha algo diferente, se sobressaía, era atrevido, driblava, sabia fazer gols. Tinha o DNA daquele lugar. O mesmo de Ganso.
Na tarde ensolarada de um domingo de agosto, pela 17ª rodada do Campeonato Brasileiro, o estádio do Morumbi aplaudiu a redenção de Paulo Henrique Ganso. E viu mais uma molecagem desses meninos tão atrevidos que sobem a serra. Meninos que já sambaram sobre o escudo e que tantas vezes dançaram em frente à torcida dos donos da casa, que bateram pênalti com irresponsável paradinha sem tomar conhecimento de quem estava a sua frente, que já fizeram gol de letra, que driblaram, que sorriram, que provocaram como Gabriel após bater o pênalti neste domingo de sol. Rogério de um lado, bola do outro. Dedo em riste pedindo silêncio à torcida. Bate-boca com o goleiro-artilheiro. A juventude desafiando a experiência. De novo. Um menino que pela ousadia tão peculiar desses que vêm da Baixada já se candidata à ídolo. Talvez ainda nem tanto pelo que faz com a bola nos pés, mas pela personalidade e o novo capítulo de audácia naquele palco tão acostumado às provocações desses indigestos visitantes.
O domingo que também foi de Ganso. O golaço, a comemoração efusiva, com raiva, gritante, que devolveu ao são-paulino o talento que havia sido trocado pela raça. O momento da libertação, da vingança contra aqueles que o rejeitaram, talvez até mesmo daquela criança que tirou a mão ao cumprimentá-lo no primeiro jogo por seu novo time em sua ex-casa. O momento de passar a borracha no jogador problemático, questionado e irregular. O momento de devolver as moedas atiradas sobre ele com juros. A hora de provar que o talento sempre prevalece. Como nos velhos tempos, quando estava do lado dos meninos abusados como ele.
O domingo em que o brilho de Ganso se libertou das amarras do rancor. Da vingança do craque incompreendido.
O domingo de um Gabriel audacioso, vilão, motivo de piada, provocador, que divide sua própria torcida. Que pretende ter uma história para contar.
Um domingo com todos os ingredientes da essência do futebol.

sábado, 23 de agosto de 2014

NO BAR DE SEMPRE, O DE QUASE SEMPRE. E UM BRINDE AO CENTENÁRIO.

E lá estavam eles, sentados no bar de sempre, falando sobre o de quase sempre.
“ - É, mermão. Aqui não é time de colina não. Aqui é Nação! E tem gente aí que vai passar o centenário na berlinda, aquela maré de novo”, disse ironicamente o que vestia uma camisa rubro-negra, aliás, o mesmo que não aparecia no bar há tempos.
- Pode ser. Eu parei de acompanhar. Não adianta ficar sofrendo enquanto um punhado de jogadores não honram a camisa que vestem. Se fosse no tempo de Dudu, Ademir e Luis Pereira, esses perebas de hoje não jogariam não”, desabafou o torcedor cujo time passaria o aniversário de 100 anos no rodapé da tabela.
- Eu sinto cheiro de título”, disse o outro de camisa tricolor, que outra vez voltou a sonhar.
“ - Título? Há uma semana você estava aqui mesmo nessa mesa pedindo a cabeça dos jogadores e do técnico porque foram eliminados da Copa do Brasil. E de novo para um time do interior”, indagou o alvinegro, eufórico com a realização do sonho da casa própria.
- Não esquenta. Na próxima derrota já voltam a criticar todos no clube, do massagista, passando pelo atacante 'fabuloso' ao presidente”, retrucou o de camisa branca, com o nome de Robinho estampado nas costas.
- É que não enxergamos as pedras menores e tropeçamos”, tentou justificar o tricolor.
- Então melhor usar óculos, brother. Porque já não haviam enxergado antes Ponte Preta e uma tal de Penapolense”, lembrou o rubro-negro a contragosto do “soberano” sentado à mesa.
" - Oi? Parece que ouvi alguém me chamando?”, perguntou o de verde.
" - Deve ser o Cruzeiro, só que está tão longe que você não consegue enxergá-lo”, tripudiou o carioca para todos rirem.
" - Mas o que estão fazendo com seu time, hein? Em busca do tri-campeonato da Segunda Divisão?”, disparou o gaúcho de vermelho ao que “segurava a lanterna” do torneio.
- Boa pergunta. Já tivemos há pouco tempo um economista dirigindo o clube. Só ilusão. Agora um presidente jovem, empreendedor, junto com um gerente renomado, especialista em gestão. Porém, estamos de novo nesse sufoco.”
- Entre o economista e esse empreendedor teve um que foi flagrado na praia, saboreando uma água de côco bem gelada, no dia seguinte ao segundo rebaixamento do time, lembram?”, comentou rindo o alvinegro de Itaquera.
- Estava bastante preocupado com a situação do time, com certeza, né?”, cornetou o gaúcho.
- Saudade da leiteria?”, provocou o tricolor para gargalhada de todos, referindo-se à Parmalat, empresa italiana que comandou o Palmeiras na década de 90, no período em que o clube mais conquistou títulos.
- Mas o nosso centroavante faz mais gols que um tal de Damião, um mico que custou a bagatela de R$ 42 milhões”, alfinetou o alviverde, para mais risada de todos.
" - Verdade. Mas falando em centroavante, que bela troca vocês fizeram, né?" rebateu o "menino da Vila", já não mais tão menino assim, claro. E emendou:
" - Trocaram o Alan Kardec pelo Alan Terna", para delírio do bar em gargalhada.
“ - Mico mesmo é o tal do Mago, aquele que desaparece quando precisa jogar. Já deve estar voltando para a Disney, de chinelinho”, cutucou o torcedor alvinegro da zona leste.
- Pelo menos estamos terminando nossa casa com nosso suor. Não recebemos estádio doado pelo programa 'Minha Casa, Minha Vida', como foi feito para a comunidade de Itaquera”, disse o torcedor alviverde, novamente para risada geral de todos.
- Somos o time do povooo!”, berrou o incomodado alvinegro.
O de camisa imaculadamente branca pediu então mais uma rodada de cerveja e convocou um brinde em homenagem ao centenário do time verde.
Antes, fez um breve discurso:
- Um brinde aos 100 anos do time que um dia já foi Verdão. Afinal, é muito mais raro e mais difícil ser tri-campeão da Segundona do que ser campeão da Libertadores!
Todos brindaram e beberam sorrindo, comemorando uma paixão que somente o futebol é capaz de proporcionar. Porque das coisas menos importantes da vida, o futebol é a mais importante.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

FRASE, por Petros

" - Com todo respeito aos que julgam, é incabível. Ser um jogador de caráter não é levado em consideração. Me sinto como um criminoso, um assassino, um serial killer. Não posso ser injustiçado dessa maneira (...) Saio muito triste, decepcionado, porque não é dessa forma que se julga uma pessoa que não tem nenhum tipo de antecedente. Uma pessoa que não se encaixa no perfil de um desequilibrado, de um agressor."
(Petros, meio-campista do Corinthians, sobre a suspensão de 180 dias aplicada a ele pelo STJD por uma suposta agressão ao árbitro Raphael Klaus durante o clássico contra o Santos, no estádio da Vila Belmiro, pela 14ª rodada do Campeonato Brasileiro).

domingo, 17 de agosto de 2014

A COLETIVA EM MAIS UMA NOITE DE ELIMINAÇÃO

Fim de jogo. Pela terceira vez seguida nos últimos oito meses, o time acabara de ser eliminado de um torneio de mata-mata, em mais uma noite fria e tensa de quarta-feira. E pela terceira vez dentro de casa, diante de sua torcida e novamente para um time do interior paulista. Ponte Preta em 2013. Penapolense e Bragantino em 2014. Este último o 18º colocado na 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro. Depois de um tempo, lá vem ele para a hipotética entrevista coletiva da qual faço parte. Me posiciono num lugar estratégico no meio de tanta gente ávida por uma declaração bombástica que possa estampar as capas dos jornais na manhã seguinte. Será que ele pediria demissão? Muito pouco provável. Ele tem um nome a zelar dentro do clube, não pode sair por baixo como saíram todos os seus antecessores desde a sua última passagem por ali há cerca de cinco anos.
Senta-se. Cara de poucos amigos. Abaixa a aba do boné até quase a metade do rosto. Cruza os braços. Sisudo, olha fixamente para os entrevistadores na sala, sem mexer o corpo colado na bancada. Apenas os olhos se movimentam na direção de cada um. Uma voz anuncia o início da coletiva.
As perguntas começam a ser feitas e a prioridade é atender aos veículos que estão mostrando a entrevista ao vivo no rádio e na televisão.
Enquanto isso, fico revisando as perguntas que preparei. Preciso escolher duas ou no máximo três das nove que estão no meu bloco de notas. São essas:
1) Existe alguma resistência em trabalhar com as categorias de base ou o CT de Cotia, tão bem estruturado, tem dificuldade para revelar jogadores? Se existe, qual é o motivo dessa resistência?
2) Fazer críticas públicas ao elenco ou direcionadas à alguns jogadores é algum tipo de técnica motivacional?
3) Por que, nas últimas temporadas, os times treinados pelo senhor apresentam "decréscimo de resultados" no decorrer das competições?
4) O senhor concorda que se o Milan tivesse um elenco com Rogério Ceni, Álvaro Pereira, Ganso, Alexandre Pato, Kaká, Alan Kardec e Luis Fabiano seria idolatrado aqui no Brasil?
5) Por que então esse time não consegue engrenar, mesmo com a chegada dos reforços solicitados? Esse time não "pode mais"?
6) Por que a constante preocupação em não levar gols, mesmo dentro de casa, se o time possui um ataque que pode ser bem mais criativo e fazer mais gols do que levar?
7) Contra Ponte Preta e Bragantino, o time treinado pelo senhor perdeu em casa, de virada e pelo mesmo placar, 3 x 1. Por que a queda de produção durante jogos decisivos e contra times considerados pequenos?
8) Por que tamanha falta de confiança a um time grande e com elenco acima da média?
9) Creditar sempre o favoritismo ao adversário não abala a "auto-estima" do grupo, principalmente antes de partidas importantes?
De repente, por causa de uma pergunta questionando o esquema tático de sua equipe no jogo, ele se levanta rapidamente e sai da sala, irritado com o autor da questão. É o fim da coletiva.
Eu não tive tempo de sequer fazer uma pergunta. Mas certamente terei outras oportunidades em outras noites de quarta-feira ou domingo. A maioria dos torcedores ainda quer que ele fique onde está.

FRASE, por Alexandre Kalil

" - No Atlético é o seguinte: do porteiro ao presidente, se tiver ruim, é só pedir pra ir embora. Sem drama e sem conversinha."
(Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, rebatendo o técnico Levir Culpi que fez críticas ao clube e a alguns jogadores do elenco em entrevista a um site esportivo).

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

SAN LORENZO DE ALMAGRO E A LIBERTADORES DE TODOS OS SANTOS


Depois de quatro anos de domínio brasileiro, outro país tem o dono da bola no continente. Elevada aos céus por um torcedor ilustre, a Copa Libertadores da América entra pela primeira vez na galeria do argentino San Lorenzo, o time do Papa Francisco. Em dezembro, o Ciclone (como é conhecido na Argentina) irá ao Marrocos para muito provavelmente enfrentar o Real Madrid na disputa do título mundial de clubes, com a benção de todos os santos.
Mais pela vontade do que pela intimidade com a bola, o time do Papa venceu na final disputada em seu estádio o paraguaio Nacional pela contagem mínima de 1 x 0, gol de pênalti muito bem batido pelo atacante com jeito de "peladeiro" Néstor Ortigoza aos 36 minutos do 1º tempo, placar que se arrastou até o apito final do árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci.
O time de Almagro era o único dos mais tradicionais da Argentina que ainda não havia provado o glorioso sabor de levantar o troféu mais desejado da América. Com o triunfo, se tornou o oitavo clube argentino a conquistar a Copa Libertadores, ao lado de Independiente, Boca Juniors, Estudiantes, River Plate, Racing, Argentino Juniors e Vélez Sarsfield. Apenas o Brasil possui uma diversidade maior, com dez times que já levantaram o tão cobiçado troféu.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

FRASE, por Levir Culpi

" - Se tivermos um nível de confiança que permita que eu tire a concentração, vou tirar. Vou aguardar um pouco e ver a reação do elenco (...) Preciso cobrar profissionalismo. Essas coisas que um atleta obrigatoriamente deve ter. Pode viver com a família normal. O atleta não pode ser encontrado numa balada até às 6h. Ele é um atleta de futebol. É uma questão de conscientização."
(Levir Culpi, técnico do Atlético-MG, sobre o fim das concentrações para os jogadores).

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

CURTAS E RASTEIRAS - RODADA 14 DO #BRASILEIRO


* O técnico Ricardo Gareca começou mal seu trabalho. Com 33% de aproveitamento sob seu comando, o Palmeiras está há 8 jogos sem vitória, é o único time da Série A que ainda não venceu após a parada para a Copa do Mundo e possui mais derrotas que os 4 times que ocupam a zona de descenso. O pior: apenas um ponto separa o Palmeiras do Z4. Abalado, o treinador argentino se negou a dar entrevista após a nova derrota por 2 x 1 para o Atlético-MG. Dias difíceis virão, de novo. E dessa vez no ano do centenário.
* Um jogo duro, truncado, disputado, decidido mais pela desvantagem numérica do Santos em todo o 2º tempo (o volante santista Alison foi expulso de maneira duvidosa ainda no 1º tempo). Nos contra-ataques, o Santos até assustou, porém desperdiçou muitas chances de gol. Após a saída de Robinho (a referência do ataque santista), o Corinthians foi para o "tudo ou nada" nos últimos 10 minutos e conseguiu o gol da vitória por 1 x 0 em cobrança de escanteio. A bola pune e castigou o time de branco. De qualquer forma, Robinho continua invicto diante do Corinthians, pois no tempo em que permaneceu em campo o placar ainda estava 0 x 0. Fica clara a limitação da equipe santista ao se constatar que Robinho, apresentado na quinta-feira e já em campo no domingo, foi o melhor do time no clássico. Preocupante.
* O São Paulo finalmente desencantou no Morumbi. Após tropeçar em seu estádio diante de Chapecoense e Criciúma, dessa vez venceu o Vitória por 3 x 1 na reestréia do ídolo Kaká perante sua torcida. E com direito a dois gols do atacante que "tem a cara" do clube, Alexandre Pato. O São Paulo pode mais, Muricy.
* O Flamengo venceu o Sport por 1 x 0 e deixou a lanterna. Vanderlei Luxemburgo já deve estar pensando em Libertadores.
* O Coritiba encarou o Fluminense em pleno Maracanã, empatou por 1 x 1 e até merecia um resultado melhor. Germano, voluntarioso e esforçado, fez um golaço daqueles que jamais voltará a fazer na carreira. É o lanterna, mas atrapalhou bastante a vida do Fluminense. No jogo e na tabela.
* Somente uma pergunta em relação ao empate de 0 x 0 do líder do campeonato diante do modesto Criciúma, mesmo fora de casa: Será, Cruzeiro?
* O Grenal foi doloroso para Luiz Felipe Scolari. Em seu retorno ao Grêmio, o treinador foi tão hostilizado pela torcida colorada que a derrota por 2 x 0 foi o que menos importou. A humilhante goleada sofrida pela seleção brasileira por 7 x 1 para a Alemanha não será esquecida tão cedo e Felipão ficará com a cabeça quente em todos os estádios que visitar. As entrevistas coletivas prometem.
* O técnico Oswaldo de Oliveira decidiu poupar os titulares e escalou o time de juniores contra o Londrina, na partida de ida pela 3ª fase da Copa do Brasil. Segundo ele, devido à "sequência difícil" que teria pela frente no Campeonato Brasileiro. Resultado: o Santos perdeu para o Londrina (2 x 1) no Paraná, perdeu para o Internacional (1 x 0) em Porto Alegre e agora perdeu para o Corinthians (0 x 1) na Vila Belmiro. Bela estratégia, professor.
* O soco proposital do volante corintiano Petros nas costas do árbitro Raphael Claus vai ficar impune, mesmo diante das imagens de televisão? O que fará o STJD?
* Se perder o clássico para o São Paulo, será o fim da linha para Ricardo Gareca. E Oswaldo de Oliveira será técnico do Palmeiras. Em breve.

FRASE, por Nasser Al-Khelaifi

" - Não acho que foi muito caro. É um grande jogador. Claro que eu tentei pagar mais barato, mas é o preço."
(Nasser Al-Khelaifi, xeique árabe de 41 anos, proprietário e presidente do Paris-Saint-Germain-FRA, sobre o investimento de R$ 150 milhões na contratação do zagueiro brasileiro David Luiz junto ao Chelsea-ING. Esse foi o valor mais alto pago por um zagueiro na história do futebol).

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

QUANTO VALE O FUTEBOL DE ROBINHO?


Leandro Damião custou R$ 42 milhões aos cofres da Vila Belmiro. Não vale, claro.
Mas e Robinho?
Quanto vale, para o santista, o futebol de Robinho?
Quanto valem as oito pedaladas sobre o lateral corintiano Rogério na final do Campeonato Brasileiro de 2002?
Os dribles, as firulas, a irreverência, a molecagem naquele campeonato histórico que tirou o Santos de um jejum de 18 anos, exatamente a idade de Robinho à época. E as finais decisivas justamente contra “eles”, o que torna a conquista ainda mais “saborosa”.
Quanto vale o gol de letra em cima de Rogério Ceni, logo em sua reestréia pelo Santos em 2010?
O Golaço por cobertura sobre o goleiro Victor, do Grêmio, pelas semi-finais da Copa do Brasil do mesmo ano?
Quanto vale ensinar o argentino Carlitos Tevez a “sambar”, durante uma comemoração depois de um 3 x 0 sobre o Corinthians?
Quanto vale um jogador que nunca perdeu para o Corinthians?
Quanto vale o "ataque dos 100 gols" ao lado de Neymar e Ganso?
O futebol de Robinho vale bem mais que 213 jogos, 94 gols, dois Campeonatos Brasileiros, um Campeonato Paulista e uma Copa do Brasil, o que já não é pouco.
Robinho é cria da casa, menino da Vila.
Dono de um futebol moleque, quase irresponsável, o menino que um dia decidiu pular o alambrado e levar para dentro de campo o que fazia sempre sorrindo e alegre nas praias da Baixada.
Na Idade das Trevas, foi uma das luzes que devolveu a magia ao Santos e o orgulho aos santistas. E entrou para a galeria dos ídolos eternos, aqueles de verdade, que estão acima do bem e do mal.
Para o santista, nenhum outro jogador vai pedalar como Robinho. E pouco importa para o torcedor o seu salário ou as suas supostas exigências para voltar para sua casa. Para o torcedor, o que importa de fato é aquilo que Robinho representa e o que faz com a bola nos pés no lendário time todo de branco, sinônimo de futebol-arte e de muitos gols. O que Robinho fez ou deixou de fazer na Europa, se foi ou não uma decepção nos clubes que passou, se foi titular ou reserva, se tem um alto salário livre de impostos, tudo isso não tem a menor relevância. O importante para o santista é o Santos, e o que Robinho fez ou fará pelo Santos.
Aos dirigentes e empresários o que sempre será deles. Ao Santos, o que sempre lhe pertenceu: o futebol bem jogado, alegre, ousado.
O encanto, os dribles, os gols, a ginga e as pedaladas valem bem mais do que cifras.
O futebol não é matemática, números ou uma ciência exata. Não é razão. O futebol é emoção.
E não tem preço que pague a paixão, cega ou não, do torcedor.
Menos talvez para aquele torcedor que nunca teve um Robinho em seu time.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

LIBERTADORES 2014: PARA EXORCIZAR O PASSADO OU SER ELEVADA AOS CÉUS


Houve um tempo em que a Copa Libertadores da América era o Olimpo do futebol sul-americano, uma conquista quase inatingível para os times considerados normais.
Aos menos favorecidos, restava a participação honrosa e a esperança de não fazer feio no torneio de clubes mais difícil do mundo, a panela de pressão efervescente da catimba e da rivalidade, do suor e da técnica.
Mas hoje as coisas mudaram e o bicho-papão da Libertadores já não amedronta tanto.
Aquele torcedor que temeu um dia morrer sem jamais ver seu time campeão já teve esse gosto tão especial, tão duradouro, virou gente grande no continente e ganhou passaporte.
Em 13 de agosto, o estádio argentino Nuevo Gasômetro mostrará o mais novo e inédito campeão da América integrante do seleto grupo dos times normais.
De um lado, um time paraguaio que ficou 63 anos sem levantar um troféu e que sofreu três rebaixamentos. Que viu sua torcida diminuir de tamanho por consequência de um clube que se apequenava a cada temporada. Que só voltou a ser vencedor em 2009. É o Nacional, mas o do Paraguai, o primo pobre do Nacional de Montevidéu, do Uruguai, este sim bem mais famoso. Essa será a oitava vez em que um time paraguaio chega à final de uma Libertadores. As outras sete vezes foram com o Olímpia. E quem diria, o Nacional desbancou e chegou à uma final antes de um compatriota bem mais conhecido, o Cerro Porteño.

Do outro lado, a quinta ou a sexta força do futebol argentino. Porém, de ilustre torcedor. Na verdade, de um santo torcedor. É o San Lorenzo, um time bem mais consciente de sua "normalidade". Nada copeiro. Nada favorito. Todos os outros rivais argentinos já conquistaram a Libertadores. Até o Argentinos Juniors. Menos o time de Francisco, o papa. A equipe do técnico Edgardo Bauza alternou boas e más partidas desde o início da etapa de grupos, passou para os mata-matas literalmente "por milagre" e adquiriu a confiança de que precisava ao desbancar nada menos que Grêmio e Cruzeiro, este último o grande favorito na competição. Prova de que na Libertadores não há ateus. Pelo menos não nas arquibancadas e na disputa por pênaltis.
Assim como aconteceu com Corinthians e Atlético-MG nas duas últimas edições, a Copa Libertadores de 2014 será colocada em uma galeria nunca antes adentrada.
Para exorcizar o passado ou ser elevada aos céus.

domingo, 3 de agosto de 2014

OS TIMES DO "TEATRO DOS VAMPIROS"

Muito se fala agora da necessidade em moralizar e reestruturar o futebol brasileiro depois do fracasso na Copa do Mundo disputada em nosso quintal.
Muitas coisas precisam ser repensadas. O processo é longo e requer esforços de todos os lados. E, principalmente, disposição e vocação para mudar.
E essa renovação passa irremediavelmente por quem exibe o futebol.
Atualmente, a maior parcela das receitas dos clubes no Brasil pertence às cotas de televisão. Em segundo lugar vem o dinheiro do patrocinador e lá embaixo, bem distante, vêm as ações de marketing, o licenciamento de exploração comercial da marca e a arrecadação com bilheteria.
Mas quais são os critérios de distribuição das cotas de TV no futebol brasileiro?
Em quase todos os grandes campeonatos da Europa (e temos sempre que copiar de quem deu certo, claro), a televisão busca homogeneizar o montante de dinheiro destinado aos clubes. 70% do valor dos direitos de transmissão é dividido igualmente entre todas as equipes, e o restante varia de acordo com a classificação de cada time na tabela, índices de audiência e número de partidas transmitidas ao vivo. Ou seja, um sistema "inteligente" baseado em critérios de igualdade, desempenho e exposição de cada agremiação, não privilegiando o time A ou o time B. Uma associação de fatores que se ligam entre si de acordo com o aproveitamento e, consequentemente, com a visibilidade de cada time na temporada.
E no Brasil? Como é feita a distribuição das cotas pela emissora que detém os direitos de transmissão?
Por aqui o modelo é monopolizado. A mesma emissora transmite em TV aberta, TV fechada e Pay-Per-View, em todas as categorias e níveis, da Copa São Paulo de Futebol Júnior à Copa do Mundo. Não há outro critério para definição das cotas que não seja o econômico. A detentora dos direitos paga os valores que ela própria estipula para cada equipe e, claro, privilegia os times que mais lhe interessam comercialmente.
Esses times dominam as transmissões e a exposição em toda a temporada, mesmo que mostrem um futebol sofrível dentro de campo e uma administração desastrosa fora dele. Aos demais clubes, sobram as migalhas e os minutos pulverizados em sua grade de programação esportiva.
O Cruzeiro, por exemplo. É o time que joga o futebol que mais se aproxima do que se viu de moderno na última Copa. Campeão brasileiro absoluto de 2013 e caminhando a passos largos para o bi em 2014. Mas e daí? Qual a vantagem em procurar se estruturar e formar uma equipe vencedora que ganha títulos? Como é a exposição nacional e qual é o retorno financeiro obtido através da televisão? O clube mineiro recebe hoje cerca da metade do valor recebido pelos dois clubes mais abonados pela TV. Essa é uma maneira justa de privilegiar um clube que joga atualmente o melhor futebol do país? Esse é o incentivo que se dá à competência?
O Cruzeiro ou qualquer outro time do chamado "pelotão intermediário" pode ser campeão, bi-campeão ou tri-campeão que nada vai mudar. Os privilegiados continuarão sendo os mesmos. Essa é a lei que impera hoje no lucrativo e atraente "show business" que se tornou o futebol no Brasil.
Jogos realizados durante a semana as 22h00? Esse é o melhor horário para o torcedor assistir aos jogos ou para ir ao estádio? Porém, o futebol não pode atrapalhar a novela, como se sabe. Mas quem está preocupado com a população que gosta, que consome e que ainda dá audiência ao futebol?
Fica a pergunta:
- Os times são privilegiados pela TV porque têm mais torcida ou têm mais torcida porque são privilegiados pela TV?
Se não houver mudança estrutural, em todos os segmentos, corre-se o risco de se matar o futebol no Brasil. E isso vai começar a acontecer de fato a partir do momento em que o torcedor sentir que o "Teatro dos Vampiros" impôs ao seu time o mero papel de eterno coadjuvante.