terça-feira, 29 de julho de 2014

PARA TREINADOR BRASILEIRO, "A COPA NÃO TEVE NADA DE MODERNO"

A Copa do Mundo não deixou nenhum legado para o futebol. Não foi visto nada de novo ou inovador, técnica ou taticamente. No máximo uma ou outra seleção atuando de maneira mais “interessante”, enquanto outras dependiam basicamente de seus talentos individuais. Tudo o que Joachim Low, Van Gaal ou Jorge Luis Pinto apresentaram com suas respectivas seleções já é praticado pelos nossos treinadores há tempos. O 3-5-2 é até considerado retrógrado e o fator coletivo é predominante nos times brasileiros.
Essa é a constatação pós-Copa de Vanderlei Luxemburgo, técnico recém-contratado (mais uma vez) pelo Flamengo, e de Dunga, o novo (de novo) técnico da seleção brasileira. Ambos pensadores do futebol com enorme carga de responsabilidade sobre as costas. O 
primeiro volta a comandar o time de maior torcida do país (ou do mundo, como dizem os flamenguistas). E o outro dirige nada menos que a seleção pentacampeã do planeta, única capaz de calçar chuteiras numa pátria que pára durante uma Copa do Mundo para ver os jogos.
Acompanhando as três últimas rodadas do Campeonato Brasileiro, realizadas logo depois do fim da Copa, é possível compreender o que nossos conceituados e atualizados comandantes entendem por já estarmos praticando um futebol tão moderno quanto o europeu.
Por exemplo: O bom e velho recurso do chutão pra frente não pode ser entendido como “lançamento em profundidade”? Por que o chuveirinho na área o tempo todo não pode ser classificado como “jogadas de linha de fundo”? O trabalho exercido pelos defensores brucutus, orientados para sempre parar de forma instantânea qualquer ação do ataque adversário, nada mais é do que a necessária “falta técnica de contenção”, correto? O empurra-empurra na área antes de uma cobrança de bola parada não é a tal da “marcação em zona”? O disputado rachão não é "treinamento tático coletivo"? E o tiro-de-meta cobrado pelo goleiro que faz a bola chegar quase na área adversária não é "jogada de bola aérea”?
Onde está a criatividade de quem assiste futebol neste país? O futebol contemporâneo está aí para qualquer um comparar. Só não vê quem não quer, não é Luxa?


" - Na Copa, eu trabalhei e analisei o que tem de moderno. Nada. Nós elogiamos a Holanda, a Costa Rica, e nós abominamos o 3-5-2. Para mim, é retrógrado. Não vi nada de novo. O que necessitamos é a mudança estrutural do futebol brasileiro."
(Vanderlei Luxemburgo, sobre a Copa do Mundo do Brasil de 2014).

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O SEU TIME EM 1/3 DO CAMPEONATO BRASILEIRO

O Cruzeiro não está acima das demais equipes somente na pontuação do Campeonato Brasileiro. O futebol praticado está muito à frente de todos. O time do técnico Marcelo Oliveira joga para frente, faz muitos gols, toca muito bem a bola, possui padrão de jogo e atua da mesma forma há pelo menos três temporadas. A base é praticamente a mesma e no elenco não há vaidades individuais. O craque do time chama-se Ricardo Goulart, meia talentoso que sabe armar jogadas, longe de ser uma estrela da mídia e que, até pouco tempo atrás, ainda era reserva do veterano Julio Baptista. Organizado taticamente e bem montado no aspecto coletivo, é o único time brasileiro que mais se aproxima do que se viu na última Copa do Mundo. Não há funções determinadas para cada jogador em campo, todos são volantes, meias e centroavantes. O forte do Cruzeiro é justamente isso. O conjunto, a mais nova fórmula vencedora do futebol mundial.
Se ainda vale o velho bordão "aqui é trabalho, meu filho!" é bom o técnico Muricy Ramalho começar a "trabalhar mais". Se antes da parada da Copa o time do São Paulo não jogava bem mas pelo menos pontuava, agora a equipe deixa a desejar até mesmo em partidas consideradas fáceis dentro de casa, com casa cheia e tudo. Mesmo com a chegada de reforços como Alan Kardec e Kaká, o time não empolga. Muricy cobra publicamente maior dedicação de Alexandre Pato, mas prefere suavizar para o limitado Ademílson, titular absoluto do treinador. Ganso continua sendo a maior decepção do futebol brasileiro dos últimos anos, um mero tocador de bola para o lado, longe de ser o exímio armador do primeiro semestre de 2010. Luis Fabiano já não é mais o mesmo de antes e Osvaldo, esse sim, continua sendo o mesmo de sempre. Daqui a duas ou três rodadas, Muricy vai voltar a pedir por "reforços".
O Corinthians sente pela primeira vez a alegria de ser de fato "mandante" e se impõe como favorito no Itaquerão. Vence em casa e empata fora, tudo o que se quer de um time num torneio por pontos corridos, onde as equipes são bastante niveladas. Tem um centroavante goleador auxiliado por dois atacantes jovens e rápidos, Petros e Romero. E uma defesa segura. O retranqueiro Mano Menezes tem um time competitivo em mãos, basta não se preocupar demais em evitar sofrer gols ao invés de querer fazê-los.
O Fluminense é o tal do time "metido a besta". De rebaixado em 2013 passou agora a brigar por vaga na Copa Libertadores de 2015. As chegadas de Conca e Cícero deram muito mais qualidade ao ataque da equipe do bom técnico Cristóvão Borges, que também joga para frente e sabe fazer gols. Normalmente belos gols em jogadas bem trabalhadas.
Sem o apelo de mídia de Ronaldinho Gaúcho, o Atlético-MG volta a ser um time comum, sem animação, sem emoção, mas com o prestígio recuperado, com casa cheia em todas as partidas. A bola fica agora para o velho camarada Diego Tardelli e Jô, a esperança de gols. Por outro lado, o título da Recopa serviu ao menos para os mineiros "exorcisarem o Mineirazzo", o 7 x 1 sofrido para a tetracampeã Alemanha no estádio do Mineirão.
O Santos será novamente um coadjuvante, o que já aconteceu em 2013. A safra atual de novos meninos da Vila pode render daqui a algum tempo, mas neste ano o time deve permanecer na faixa intermediária da tabela, alternando boas e más apresentações, vencendo em casa e perdendo fora. A contratação de Leandro Damião por R$ 42 milhões foi a cereja do bolo de uma diretoria inoperante que vai deixar para o próximo presidente a pior herança política e financeira do clube nas últimas décadas. Fica a esperança para os santistas de que, na Vila Belmiro, o raio sempre volta a cair no mesmo lugar.
Quando se fala em Flamengo, me lembro do passado. De um time quase mágico formado por Zico, Junior, Adílio e companhia. Da mesma forma que, quando se fala em Vanderlei Luxemburgo, também me lembro do passado. De um treinador inteligente e motivador, conhecedor de futebol, o cara que falava a língua dos boleiros, que formou grandes equipes e ganhou títulos importantes. Que seja assim para os flamenguistas a mais nova "velha" relação entre Flamengo e Luxemburgo. Que o futuro repita o passado, antes que seja tarde demais.
O Palmeiras não consegue jogar de igual para igual com os times da Primeira Divisão. Depois da parada da Copa, o time tomou 6 gols em três derrotas seguidas. Porém, venceu o Avaí por 2 x 0, fora de casa, pela Copa do Brasil. Está explicado? O Palmeiras não joga, não ousa, não reage, não se reinventa, não se reanima. O time do técnico Gareca corre sério risco de tentar o terceiro título da Segunda Divisão em 2015.
E assim se desenrola um terço do Campeonato Brasileiro, onde o Coritiba de Zé Love vence o Grêmio por 3 x 2 em Porto Alegre e a Chapecoense vence o São Paulo por 1 x o no Morumbi.
O campeonato até aqui dos "pontos perdidos". Menos para o Cruzeiro, que deve ser campeão dessa vez com seis ou sete rodadas de antecedência.

domingo, 27 de julho de 2014

FRASE, por Vanderlei Luxemburgo

" - Na Copa, eu trabalhei e analisei o que tem de moderno. Nada. Nós elogiamos a Holanda, a Costa Rica, e nós abominamos o 3-5-2. Para mim, é retrógrado. Não vi nada de novo. O que necessitamos é a mudança estrutural do futebol brasileiro."
(Vanderlei Luxemburgo, técnico do Flamengo, em sua primeira entrevista coletiva como novo treinador do time carioca).

FRASE, por Kaká

" - O meu vínculo com o São Paulo vai muito além do campo de jogo."
(Kaká, meia do São Paulo, que foi emprestado pelo Orlando City-EUA ao clube brasileiro até o fim da atual temporada, sobre sua identificação com o time que o revelou).

sexta-feira, 25 de julho de 2014

PALPITES DA RODADA 12

Santos 2 x 1 Chapecoense
Cruzeiro 2 x 0 Figueirense
Criciúma x 1 Vitória
Bahia 0 x 2 Internacional
Sport 2 x 2 Atlético-MG
Corinthians 3 x 1 Palmeiras
Atlético-PR 2 x 1 Fluminense
Goiás 0 x 1 São Paulo
Flamengo 1 x 1 Botafogo
Grêmio 2 x 0 Coritiba

quinta-feira, 24 de julho de 2014

ATÉ QUANDO O FLAMENGO VAI RESISTIR?

Torcida ganha jogo? Não. Ajuda bastante sim, é claro, independentemente de sua expressão numérica. Mas não ganha. Pelo contrário, diversas vezes até atrapalha ou ajuda o time a sucumbir diante da pressão, das vaias, das cobranças. E por que não do rebaixamento?
O Flamengo, por exemplo. Dono da "maior torcida do mundo", segundo seus próprios torcedores, o clube carioca depois da brilhante geração de Zico, Nunes, Júnior e Adílio coleciona mais infortúnios ou glórias?
Após a conturbada passagem da presidente Patricia Amorim (e de praticamente todos os seus antecessores), Eduardo Bandeira de Mello assumiu o comando na Gávea com a promessa de devolver ao Flamengo, no mínimo, o prestígio que sempre lhe pertenceu.
Só que não. Mais pela força de sua torcida do que pela qualidade do futebol, o Flamengo conseguiu, de importante, o título da Copa do Brasil na última temporada. E só. Neste ano, com todos os mesmos problemas de sempre, o time sequer passou da etapa de grupos da Copa Libertadores da América. Uma enorme frustração. E agora, no Campeonato Brasileiro, a equipe mostra mais do mesmo do que mostrou na última década: a iminência de rebaixamento.
Nesta última semana, as duas últimas pérolas. Depois de mais uma derrota no Brasileiro, dessa vez por uma goleada de 4 x 0 para o Internacional, torcedores rubro-negros resolveram escolher o mais novo culpado: o lateral André Santos, que foi agredido após a partida disputada no Sul. Dias depois, a diretoria do clube decidiu rescindir o contrato de André Santos.
O lateral-esquerdo merece ser dispensado? Talvez, uma vez que está rendendo pouco (bem pouco) na equipe. Mas então seria essa a solução para fazer o elenco render? A última coisa em sã consciência que deveria ser feita era a demissão de André Santos. Essa decisão seria escancarar a "razão" da torcida organizada. Ao melhor estilo "Se bater, as coisas mudam". E quem seria o próximo jogador a servir de exemplo? O que aconteceria a partir dessa atitude marginal, de parte da torcida, referendada pela diretoria do clube?
Percebendo o erro, os dirigentes voltaram atrás. O que representou, pelo menos, falta de coerência ou profissionalismo. E André Santos continua.
Ao mesmo tempo, o técnico Ney Franco foi dispensado. E para seu lugar foi chamado quem? Vanderlei Luxemburgo, ele mesmo. Quase um funcionário do Flamengo, que fica afastado por algum período de tempo e depois retorna, sempre com seu temperamento forte e suas previsíveis palavras de incentivo. Dessa vez, "pensando em Libertadores", mesmo no rodapé da tabela.
Nas quatro passagens como técnico do time de "maior torcida do mundo", Luxemburgo conquistou um único torneio estadual, ainda na administração de Patricia Amorim. Mais nada. E volta e meia, o recolocam no comando do time, com seus discursos ufanistas, seu alto salário e seus resultados cada vez mais decadentes.
Pela exposição na mídia, pelo tamanho de sua torcida e pela grandeza, o Flamengo deveria ser hoje o maior clube da América do Sul. Mas está longe, muito longe disso. Graças aos gênios arrogantes do futebol brasileiro.
Luxemburgo prometeu uma "revolução", mas sabe que, com alguma sorte, chega no máximo até o fim da temporada como técnico do Flamengo. E estará sempre a disposição, até a próxima crise.
E não, de uma vez por todas, torcida não ganha jogo. Nem que seja a "maior torcida do mundo".

terça-feira, 22 de julho de 2014

DUNGA, DE NOVO, TÉCNICO DA SELEÇÃO. MAS E DAÍ?


As vezes é preciso parar de enxergar o futebol como mero torcedor, cego e apaixonado, para tentar entender que, nos bastidores, muitas vezes o futebol nada mais é do que uma "ação entre amigos".
Por exemplo: Por que a CBF resolveu dar mais uma chance a Dunga? De todos os principais nomes cotados para assumir o lugar de Luiz Felipe Scolari, Dunga era sequer lembrado, praticamente uma carta fora do baralho. Seria por que então os chefões da CBF, por algum motivo, preferem os gaúchos?
Acredito que não.
Mas pode ser por um motivo bem mais simples. A cúpula da CBF confia plenamente em Dunga. É a fome que se junta com a vontade de comer. Além dos números, digamos, satisfatórios de Dunga a frente da seleção brasileira, o ex-treinador conhece os meandros da linha de frente que comanda o futebol no Brasil. E mesmo depois de deixar a seleção em 2010, em nenhum momento Dunga fez críticas severas, não falou demais e sabe de cor e salteado a "cartilha" da boa conduta. Não é capaz de trazer "problemas". Trabalha quieto e ainda tem o estilo "linha-dura" com os jogadores, além de estar sempre carrancudo e avesso à profissionais da imprensa contrários às decisões da entidade.
Mal-educado, bronco e grosseiro. O "Zangado" incorporado no Dunga a cada entrevista coletiva. O treinador de hoje é o espelho do que era como jogador. O escudo perfeito.
Técnico da seleção brasileira é cargo de confiança da turma de Marin e Del Nero e o nome de Dunga e Gilmar agradam mais pela postura de ambos do que pelo trabalho propriamente dito.
Pep Guardiola, José Mourinho ou Van Gaal seriam melhores que Dunga para renovar e modernizar o jeito de jogar da seleção brasileira?
Guardiola, por exemplo, aceitaria treinar a seleção no mesmo instante em que fosse chamado. Qualquer treinador do planeta gostaria de ocupar esse cargo. Porém, é claro que o competente e renomado técnico espanhol faria uma série de exigências e jamais ficaria omisso diante de fatos que não concordasse. Guardiola teria que realmente estar no comando de fato para realizar seu trabalho e dar os resultados esperados de acordo com a rica e invejável história da seleção brasileira.
Até mesmo Tite ou Muricy Ramalho teriam posturas mais firmes e seriam mais difíceis de "lidar". Ao contrário de Dunga, que está do lado da CBF e tem a confiança de quem manda e desmanda na seleção. Aliás, por que esse pessoal manda e desmanda na CBF? O futebol é um patrimônio cultural do Brasil e não entendo o porquê de a CBF ser uma espécie de entidade privada, onde ninguém se atreve a interferir e todos os clubes têm que assistir calados à tudo o que se faz no topo, seguindo a máxima do "manda quem pode e obedece quem tem juízo". Embora aos clubes, apenas as migalhas. E são justamente quem deveria ser a razão de existir de uma Confederação de Futebol.
Se a rejeição a Dunga atinge mais de 80% não importa. Dunga é o nome perfeito e estratégico. Foi a resposta do tipo "Olha, fizemos alguma coisa. Trocamos o treinador, estão vendo?". E essa decisão não muda em nada a filosofia, a forma de pensar, o conceito. A nova "velha" dupla Gilmar e Dunga é somente mais do mesmo no "museu de grandes novidades" da CBF.
Apenas trocaram duas peças de lugar no meticuloso e engenhoso jogo de xadrez praticado nos bastidores do futebol.
E segue o jogo.

sábado, 19 de julho de 2014

QUAL TIME DEVERIA SER A BASE DA "NOVA" SELEÇÃO?


Depois da humilhação sofrida naquilo que talvez ainda julgávamos sermos os
melhores do mundo, a renovação do futebol brasileiro é o assunto do momento.
Porém, continua sendo mais que um desafio. É um tabu.

Um exemplo do choque de opiniões:
Qual é o melhor time do Brasil na atualidade?
O Cruzeiro, campeão brasileiro de 2013 e o atual líder do Campeonato Brasileiro de 2014. Com sobras. E cuja base está jogando junta há bastante tempo.
E quais jogadores do Cruzeiro estavam no elenco da seleção brasileira que disputou a

Copa? Nenhum.
Aqui no Brasil se valoriza muito jogadores que atuam no futebol europeu. E o técnico Luiz Felipe Scolari não pensou diferente. Chamou para a Copa os seus "homens de confiança", contudo, todos jogadores conceituados em seus respectivos clubes na Europa. Do futebol brasileiro chamou somente Jô e Fred que, por sinal, chegou a ser cogitado no Barcelona antes do início do Mundial.
Antes de a Alemanha se consagrar como a melhor seleção do planeta ao conquistar
o tetracampeonato no Maracanã, só se falava em Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, David 
Luiz, Rooney e Van Persie, entre alguns outros.
Depois da Copa, a ordem é enaltecer o “conjunto”. Afinal, o trabalho em equipe e a disciplina tática da seleção alemã se sobressaíram ao talento.
Antes de 13 de julho, eram os craques os responsáveis pelo sucesso. Depois dessa data, tornou-se inconcebível no futebol moderno uma equipe depender exclusivamente de um ou  outro talento individual. Há uma semana, isso é coisa de um passado quase remoto. Nenhum treinador em sã consciência pode depender de seus craques, mas sim da "força coletiva".
O segredo do futebol moderno passou a ser o conjunto.
Então, vem novamente a questão: Se o conjunto é a fórmula infalível do futebol vencedor, a base da “nova” seleção brasileira não deveria ser o time do Cruzeiro?
E Marcelo Oliveira não poderia ser o novo treinador?

Talvez melhor não, já que ainda podemos resistir e insistir com as idéias de nossos
pensadores tão brilhantes, enraizados na linha de frente de nosso futebol.

POR QUE GILMAR? E PARA QUE SERVE A CBF?


Ao dispensar a comissão técnica “fracassada” na Copa de 2014, a Confederação Brasileira de Futebol resolveu chamar o ex-goleiro Gilmar Rinaldi para o cargo de coordenador-técnico.
Gilmar foi goleiro-reserva da seleção tetracampeã nos Estados Unidos em 1994 e, depois de se aposentar, se tornou um renomado empresário de atletas.
Mesmo que não esteja mais atuando no ramo, como diz, o ex-goleiro continua conhecendo muita gente do meio e sua imagem dificilmente deixará de ser associada a esse mercado. Neste caso, por que Gilmar?
Poderia ser Leonardo, Edu Gaspar, José Carlos Brunoro, Zico, José Roberto Guimarães, Paulo Roberto Falcão... Mas a CBF optou por Gilmar. Qual foi o critério, digamos, técnico? O que Gilmar possui de tão especial em seu currículo que o credencia à função de coordenar o que seria a renovação do futebol brasileiro?
E para que serve de fato a CBF? Nunca entendi bem essa história de que a CBF é uma espécie de entidade privada e que por isso não pode haver ingerência por parte do poder público.
A imagem sempre carrancuda de seu atual presidente (e de seus antecessores também), nos remete ao coronelismo do passado.
O retrógrado José Maria Marin, ex-governador de São Paulo durante o regime militar, diga-se de passagem, é herdeiro do trono de Ricardo Teixeira, que foi obrigado a renunciar em 2012 por fortes suspeitas de corrupção. Neste mesmo ano, Marin recebeu da entidade que representa e que "administra" o futebol nacional a bagatela de R$ 4 milhões, referentes à salários e bônus.
A Federação de Futebol da Alemanha, por exemplo, é vista hoje pelos alemães como uma das instituições de maior credibilidade do país. E a CBF no Brasil? É para dar risada.
As funções da CBF hoje se resumem a fechar patrocínios milionários, divulgar a lista de convocados, cuidar da logística em cada viagem da seleção e, por fim, agradar suas respectivas federações estaduais, dentro de um modelo de gestão que confere a Estados onde nem há futebol profissional (como Acre e Tocantins, por exemplo) o mesmo peso de votação que São Paulo e Rio de Janeiro.
Para se enxergar o "novo" é preciso, antes de mais nada, ter "olhos novos".

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O "FUTEBOL DE RESULTADOS" APRENDEU A JOGAR BONITO


Depois de um vexatório 7 x 1, é normal surgirem teorias de todos os lados.
Todo mundo "já sabia", "o time é fraco" e o treinador "pior ainda". Todos parecem ter a certeza de porquê aconteceu e sobram planos infalíveis para, a partir de agora, renovar o futebol brasileiro.

Porém, existe algo bastante característico do brasileiro, e não só no futebol: o nariz sempre empinado, incapaz de procurar entender o que o outro faz de bom para ao menos tentar copiá-lo. Como fizeram conosco, no futebol.
Há pouco tempo, durante o auge do Barcelona campeão de tudo e que encantava o planeta com seu futebol total, o técnico Pep Guardiola disse que "o segredo de seu time era praticar um futebol rápido e envolvente, mantendo sempre a posse de bola". E que esse esquema era baseado exatamente no futebol brasileiro de três décadas atrás, mais precisamente na seleção da Copa de 1982, então comandada pelo técnico Telê Santana.
Sim, mesmo sem conquistar o Mundial na Espanha, aquela seleção se tornou uma referência do futebol bem jogado, como já havia acontecido duas Copas antes com o "Carrossel Holandês" do lendário técnico Rinus Michels.
Os europeus desenvolveram projetos baseados em nosso futebol, modernizando e aprimorando fundamentos, mais os aspectos físicos e técnicos, inerentes à evolução do esporte. Porém, mantiveram o nosso conceito de jogar, com velocidade e toque de bola, acrescentando organização e disciplina tática.
Júnior, Leandro, Falcão, Zico e Sócrates podem ser vistos em campo hoje atualizados no futebol de Sneijder, Schweinsteiger, Göetze, Robben e Iniesta.
A seleção da Espanha, que entre 2008 e 2012 conquistou duas Eurocopas e uma
Copa do Mundo, era o retrato quase fiel do estilo moderno de jogar do quase
imbatível Barcelona. E a Alemanha de hoje? É quase o espelho do Bayern de Munique, time mais badalado do mundo na atualidade e campeão europeu e mundial de 2013.
Ou seja, não são apenas esquemas táticos que funcionam. São filosofias de trabalho. Uma cultura de futebol que começa lá embaixo, nas categorias de base.
Os clubes alemães, por exemplo, adotam um padrão de jogo peculiar que começa nos times juvenis e chega até a seleção nacional. O tetracampeonato diante da forte Argentina no Maracanã é resultado de um trabalho de pelo menos uma década, não alterando a forma de jogar mesmo diante dos revezes nas Copas de 2006 e 2010.
Onde estão os craques brasileiros que serviram de referência para quase todos os
grandes clubes da Europa?
Quantos Ronaldinhos ou Neymares estão surgindo pelo país?
Pouquíssimos. Quase nenhum.
Hoje o foco é outro. As categorias de base dos times brasileiros não têm mais a preocupação primordial de revelar talentos. São balcões de negócios e atendem aos interesses do mercado, cada vez mais rentável para empresários e dirigentes.
Onde está o jovem habilidoso, ofensivo? Que avança driblando em velocidade com a bola grudada nos pés, sempre em função de fazer gols? Esse sim é o jogador genuinamente brasileiro que ainda existe por aí nos campinhos e que deveria ser lapidado, cuidado, valorizado. O moleque que arrisca, que parte para cima, que inventa dribles e caminhos dentro de campo. O craque.
Mas qual é a prioridade nas categorias de base? Qual é a mentalidade das pessoas responsáveis pela formação de novos meninos com DNA brasileiro, atrevidos, irreverentes? E por que não dizer até mesmo "irresponsáveis" com a bola nos pés?
Sem Neymar, o Brasil foi um time comum e desrespeitoso, pois o nosso treinador imaginou que poderia jogar de igual para igual contra os alemães.
É preciso repensar o futebol tupiniquim e resgatar a essência, o futebol travesso, produzir mais “inhos” correndo atrás da bola.
Menos William José, Luiz Gustavo, Edson Silva, Anderson Martins.. e mais Zico, Tostão, Dadá, Ronaldinho, Kaká, Robinho. Menos truculência e mais inteligência.
Hoje não revelamos boleiros ou baixinhos artilheiros nas bases. Mas atletas de laboratório, altos, robustos, sem ginga ou jogo de cintura, dotados de muita força física e resistência, mas que não sabem pensar o jogo, não conseguem driblar ou fazer uma jogada de efeito. Ficam o tempo todo tocando a bola de lado ou para trás, ansiosos por um erro de marcação do adversário, e torcendo para que o centroavante consiga cavar uma falta ou um pênalti, para quem sabe, o "especialista em bola parada" fazer o gol. Mas são essas as nossas "revelações" que atendem ao mercado de países com futebol inexpressivo, como no Leste Europeu, na Ásia ou na Rússia, mas que pagam bem e rápido.

Hoje não jogamos para vencer, como antigamente. Mas jogamos para não perder. Nossos treinadores, praticamente todos eles, são adeptos de um futebol feio, retrancado, defensivo, bem distante de nossas origens, da vocação para o talento, da improvisação e da invenção.
Estamos orfãos de nós mesmos, de nosso verdadeiro futebol. Não fazemos nenhuma questão de adotarmos uma nova mentalidade para que possamos usufruir daquilo que ainda produzimos tão bem. E o que foge à regra das mentes brilhantes de nosso futebol, como o aparecimento de Lucas e Neymares, se torna produto de exportação imediata. E lá fora não são capazes de desenvolver uma forma de talento nato, autêntico, genuíno. Brasileiro.
Os europeus estão bem a frente dos brasileiros porque simplesmente modernizaram um jeito de jogar futebol essencialmente latino: técnico, ofensivo, rápido, envolvente.
O tradicional "futebol de resultados" alemão se aprimorou e hoje faz muitos gols. O 7 x 1 sobre o Brasil em plena semifinal de Copa do Mundo é a comprovação disso. Um "tapa na cara" no país do futebol que ficou para trás.
O aprendiz foi mais inteligente e aprendeu além do que o mestre ensinou.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

7 x 1 QUE ABSOLVEU O MARACANAZZO


"No Brasil, a maior pena é de trinta anos, por homicídio. Eu já cumpri mais de quarenta anos de punição por um erro que não cometi." (Barbosa, goleiro da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1950, falecido em abril de 2000, aos 79 anos).

Pena? Frustração? Revolta? Vergonha?
Como definir algum tipo de sentimento?
Até mesmo o torcedor vira-lata, que sempre acha o brasileiro inferior ao estrangeiro, não entendeu bem o que aconteceu.
Inexplicável. Indescritível. Inimaginável. Eu diria até mesmo surreal.
Vontade de chorar. E vontade de rir logo em seguida. De fazer piada, já que não há sentimento. Nem do torcedor e nem dos jogadores. Não teve mais Copa após o apito inicial do árbitro mexicano Marco Antonio Rodríguez. Não teve mais nada.
De uma maneira geral, nenhuma seleção foi brilhante nessa Copa. Não havia uma equipe tão acima das outras. O Mundial disputado no Brasil não teve um time a ser batido.
Por outro lado, nenhuma outra seleção se abdicou tanto de jogar como fez o Brasil contra a Alemanha, no momento mais importante, quando só faltava fazer a curva e entrar na reta final para a bandeirada.
Agora finalmente existe um time a ser batido, mesmo que só tenha mais um jogo. No caso, "o jogo". E também há um time batido e abatido de forma implacável, sem pena nem piedade. Mas futebol é isso. Uma vez que fazer gols é a melhor forma de respeito ao adversário.
Como eu disse desde o começo do torneio (http://almanakfc.blogspot.com.br/2014/06/e-se-neymar-fosse-argentino.html), com Neymar as chances de o Brasil ser campeão eram de 70%. Sem o craque, as chances se reduziriam para algo em torno de 20%. Me enganei. Depois do Mineirazzo, ficou claro que as chances sem Neymar simplesmente não existiam. Aliás, o Brasil não fez questão de existir. Sabe-se lá por quê.
Como eu também disse, a Alemanha possui hoje uma equipe altamente competitiva, bem organizada em campo e com certa qualidade técnica, exatamente como sempre foi. Mas longe de exibir um futebol sublime durante a Copa, pelo contrário, teve enorme dificuldade para empatar com Gana ainda na etapa de grupos e só passou pela Argélia na prorrogação, já pelas oitavas-de-final. Por isso mesmo, nem eles, os próprios alemães, conseguem explicar a real dimensão do que aconteceu no massacre por 7 x 1 sobre os brasileiros em plena semi-final. E jogando no Brasil. Talvez uma catarse coletiva movida por alguma espécie de transe, ao melhor estilo “bumba-meu-boi”. Mas qualquer um sabe, principalmente eles, que poderia ser pior. Sim, porque os frios alemães decidiram parar de jogar no 2º tempo. Passaram a régua antes do 8º gol.
Mas afinal era ou não era uma partida semi-final de Copa do Mundo? Parecia mais um jogo de rua, de campinho, no pátio da escola na hora do intervalo, um típico “vira 5 acaba 10” com requintes de crueldade e momentos de comédia pastelão. Ou aquele chute ao gol do meia Oscar, do lado esquerdo quase na pequena área, que fez a bola atravessar de um lado para o outro e sair pela lateral não foi motivo de dar risada? (e olha que a partida já estava 6 x 0 para a Alemanha).
Por mais que tentassem dessa vez, nem Thiago Silva nem Julio César conseguiriam chorar. Seriam ainda mais vaiados e mais vergonhoso para uma nação que, mesmo sem o seu principal jogador, resolveu acreditar que era possível.
Uma coisa é certa: não dá para ficar triste. Não dá para sentir nada.
De bom fica somente a absolvição do ex-goleiro Barbosa, vítima cruel e quase eterna do Maracanazzo de 1950. Barbosa sofreu o restante de sua vida como o único brasileiro culpado por causa de um lance daquela fatídica final de Copa contra o Uruguai que decretou sua pena perpétua, uma suposta falha na derrota por 2 x 1 diante de quase 200 mil espectadores no Maracanã.
O que se tornou essa partida perante a vexatória goleada por 7 x 1 para a Alemanha na tragédia do Mineirazzo?
Barbosa, descanse em paz. Finalmente.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

ROBINHO SERIA O CURINGA NO BARALHO DE FELIPÃO


Pelé representava para a seleção brasileira da Copa de 1962 a mesma importância que Neymar representa para a seleção da Copa de 2014, guardadas, é claro, as devidas proporções.
Amarildo entrou no lugar de Pelé e foi decisivo, além do que se esperava dele. Fez 3 gols em quatro jogos, sendo os 2 gols da vitória por 2 x 1 sobre a Espanha, de virada, na época a seleção mais temida da Europa. Mas além de Pelé, o Brasil tinha Vavá, Nilton Santos e Garrincha. Esse último tão espetacular quanto o Rei do Futebol. E veio o bicampeonato mundial no Chile, mesmo sem Pelé.
E agora em 2014?
Com a saída de Neymar, por sinal com os mesmos 22 anos que Pelé tinha em 1962, quem pode assumir a responsabilidade e conduzir o Brasil ao hexa restando apenas dois jogos?
Não há hoje no futebol brasileiro um jogador no mesmo nível de Neymar. Em qualquer aspecto. Talentoso e midiático, Neymar está no topo, bem acima dos demais jogadores que estão à sua sombra.
E se não temos no momento outro jogador para assumir o posto estelar do menino-craque, precisamos de pelo menos um “Amarildo”.
Ou será que não temos sequer um "Amarildo" em 2014?
Poderia ser Lucas? Sim. Jogador também jovem, bastante habilidoso e de raciocínio rápido. Mas Lucas não tem a mesma "experiência" de Neymar em lidar com a pressão que vem de todos os lados. Até nesse quesito Neymar aprendeu rápido e sempre se saiu muito bem.
Bernard é esforçado, possui habilidade, porém se destaca mais pela correria do meio para a frente. É pouco decisivo e não finaliza tão bem. Talvez um Maikon Leite melhorado, com grife.
William é versátil, joga em várias funções, voluntarioso, mas longe de ser um jogador que desequilibra, que faz a jogada inesperada que somente os craques conseguem fazer.
O jogador que mais se aproxima do “Amarildo” seria Robinho. Audacioso, driblador, travesso, hoje o atacante nato com a experiência e o "jogo de cintura" necessários nessa altura da Copa do Mundo. Seria. Impossível retirá-lo agora do álbum de figurinhas da Copa e adesivá-lo no Mineirão ou no Maracanã.
Como se vê, estamos em situações opostas 52 anos depois da conquista da Jules Rimet no Chile. O Brasil era uma equipe muito técnica e ofensiva, contra um adversário temido. E só. Enquanto sobrava talento ao elenco brasileiro.
Hoje a Alemanha é uma equipe altamente competitiva, melhor tecnicamente que o time brasileiro (quem diria, hein?), com quase uma muralha debaixo das traves.
Já que não temos um curinga no baralho de Felipão, resta ao treinador orientar o time para segurar o jogo atrás e sair nos contra-ataques, aguardando um erro dos alemães. Por quê não? A Costa Rica fez isso a Copa inteira e por muito pouco não avançou às semi-finais, desbancando pelo caminho seleções fortes e tradicionais como Uruguai, Inglaterra, Itália e quase a Holanda.
Por outro lado, adotar essa tática em plena semi-final dentro de casa, seria escancarar que o Brasil possui atualmente um nível técnico muito baixo e que a dependência de Neymar é absoluta. Não combina com o estilo de Felipão, onde o padrão coletivo sempre foi o mais importante.
Mas também podemos ser mais brasileiros e atacar, como sugere a nossa escola. Afinal, a Alemanha teve grande dificuldade para empatar em 2 x 2 com a seleção de Gana, ainda na primeira fase, num jogo em que os africanos não abdicaram de jogar para frente, em vários momentos sufocando os alemães.
Esse era o jogo de Amarildo. E 52 anos depois, seria a hora de Robinho.

sábado, 5 de julho de 2014

A COPA ERA O SONHO DO MENINO


Todo mundo se lembra da infância através de uma música, de um filme, um programa de TV, um desenho.
Aquela música ou aquele filme que marcou uma época inesquecível da vida, de descobertas, de expectativas, em que os sonhos ainda existiam.
E no campinho não é diferente. Todo menino que passa o dia todo correndo atrás de uma bola tem o sonho de um dia se tornar jogador de futebol. O sonho de jogar no time do coração ou num grande time da Europa. E por que não, quem sabe, jogar uma Copa do Mundo pela seleção? A glória. O apogeu. O Olimpo.
Neymar também tinha esse sonho.
Foram nove anos no Santos. Das categorias de base ao time profissional.
Ganhou títulos. Prestígio. Dinheiro. Fama. De Santos para o mundo. E depois para a seleção brasileira. Vestir a camisa 10 do Brasil na Copa do Mundo disputada em seu país era a realização plena do sonho daquele menino, dono de um futebol irreverente, malicioso, que chega a ser atrevido, ousado, alegre. Genuinamente brasileiro.
O menino-craque, que na infância fazia arte nos campinhos e nas praias de Santos, pulou o alambrado e estava agora do lado de dentro, no gramado do Maracanã, do Mineirão ou do Castelão, aos olhos do mundo inteiro, arrancando sorrisos, provocando alegria e também uma espécie de ira misturada com inveja de alguns torcedores com complexo de vira-lata. Afinal, futebol tambéé isso.
Seus gols e suas jogadas desconcertantes carregavam os sonhos de milhões de outros meninos, que correm felizes atrás da bola, na esperança de que um dia também possam estar vestindo aquela camisa 10 amarela. Ou a 7, a 8, a 9...
Com seu futebol moleque, havia a esperança de que o caminho do hexa seria mais fácil e, dentro de casa, mais bonito. Quase uma certeza. Quase.
Por que existem os craques, os gênios. E existem os brucutus. Pseudo-jogadores que se propõem a entrar em campo e que pouco se importam com a presença ou não da bola.
Por volta de uma hora e trinta minutos após o fim da partida dramática entre Brasil 2 x 1 Colômbia, válida pelas quartas-de-final, o médico Rodrigo Lasmar concedeu entrevista para anunciar que Neymar, 22 anos, sofreu lesão na terceira vértebra da região lombar e que estava fora da Copa do Mundo. Vítima de uma entrada maldosa do zagueiro colombiano Zuñiga, aos 40 minutos do 2º tempo. Uma joelhada desleal por trás, nas costas.
O que se passou pela cabeça de Neymar quando foi retirado de ambulância para o hospital? Chorando como a criança de outrora que um dia sonhou em vestir a camisa da seleção numa Copa do Mundo?
Neymar faria a diferença. Ele sabia disso mais do que ninguém. Para o bem e para o mal. Seria o herói da conquista ou o símbolo do fracasso. Mas e daí? O que isso importa agora? Como essa pergunta será respondida? Uma falta proposital impediu o menino de dar essa resposta aos brasileiros e ao planeta. Uma entrada covarde que sequer deu ao craque a chance de, mais uma vez, se jogar para fugir de uma lesão grave.
Um ato impensado que tirou um pouco mais do brilho da Copa, onde teoricamente estão somente os
melhores. Mas é possível tentar compreender. A Colômbia tem um James Rodríguez e mais dez. Um desses dez tinha que ser um tal de Juan Zuñiga. Normal para o padrão de qualidade colombiano. Uma seleção que, sabe-se lá porquê, chegou a imaginar que poderia eliminar o país pentacampeão do mundo dentro de sua casa.
Perto de Juan Zuñiga, o que fez o uruguaio Luisito Suárez? Uma "mordida" perto de uma falta criminosa?
O zagueiro colombiano sequer recebeu cartão amarelo. Já Neymar foi obrigado a se despedir de uma Copa que era dele. Na casa dele.
Uma Copa que agora fica sem a ousadia e a alegria de um menino-craque que sempre sonhou com ela.
Azar da Copa.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A COPA FOI COMPRADA COM CHEQUE?

E lá estavam eles, sentados no bar de sempre, falando sobre o de quase sempre.
Eram companheiros de copo há muitos anos e havia algo em comum: não entendiam de futebol. Pelo menos esse que se fala atualmente na internet, no rádio e na televisão. Por exemplo, agora existe o tal do "pivô", do "ala" e costumam chamar passe de "assistência".
Mas eles não. São ex-boleiros do campo ondulado, de grama alta ou de terra socada, onde não há estatísticas, glamour ou replay. E não compreendiam como alguém que se formou em jornalismo e que nunca chutou uma bola na vida, podia falar com tamanha "propriedade" sobre tudo o que acontece dentro das quatro linhas. Afinal, até onde eles imaginavam, não existe faculdade com aprendizado ou disciplina de futebol.
São os novos "profissionais da mídia" que fazem questão de falar difícil sobre algo tão simples.
Mas naquela noite e naquela mesa de boteco, eles assistiam a mais uma partida da Copa do Mundo. Bélgica x Estados Unidos. Mais um jogo duro, disputado.
Um deles, incrédulo em relação à autenticidade do torneio, disse que a Copa no Brasil estava indo bem, com bons jogos e muitos gols, apesar de "encomendada" para a seleção anfitriã.
O outro riu e respondeu:
" - Mas então pagaram com cheque, certo? Porque se não fosse a trave, tudo já teria acabado para os donos da casa nas oitavas-de-final."
O parceiro, irritado por ter sido contrariado, afirmou que, no final, os quatro primeiros seriam Brasil, Argentina, Alemanha e Holanda. Nessa ordem.
" - Sim, são equipes fortes, no mínimo competitivas, que se respeitam entre si. Possuem tradição, camisa. Se for nessa ordem, nada mais lógico". Foi a resposta.
Mais irritado, o outro riu de maneira sarcástica e perguntou se ele realmente acreditava que a seleção brasileira ganharia por méritos, mesmo com o "futebolzinho" medíocre?
" - Não. Vai ser campeã por demérito. Se tivesse um pouco mais de preparo, especialmente psicológico, ou de mérito como queira, seria campeã de maneira bem mais simples. O Brasil não está jogando como favorito. Está obrigado a vencer a Copa. Não fosse essa pesada obrigação, da imprensa à torcida, as coisas seriam bem mais naturais, mais tranquilas".
Em sua visão, nenhuma outra seleção jogou tão melhor nesta Copa que a brasileira. Não há um time a ser batido, todos se equivalem. As seleções que o amigo citou como "as quatro primeiras" podem ser de fato campeãs como também já poderiam ter sido eliminadas nas oitavas-de-final. O Brasil foi salvo pela trave, na prorrogação e nos pênaltis. A Holanda classificou-se no último minuto assim como a Argentina, no fim do 2º tempo da prorrogação. E a Alemanha, que já havia sofrido para empatar com Gana na primeira fase, teve enorme dificuldade para passar pela inexpressiva Argélia.
Além de que os goleiros roubaram a cena em várias partidas, mesmo com a enxurrada de gols. A "Copa do sufoco" possui a maior média de gols da história.
" - Algum desses jogos teve indícios de favorecimento?", questionou ao colega ainda contrariado.
Uma pausa para encher os copos. Silêncio.
" - Pelo contrário. Todos esses jogos tiveram ares de crueldade para o torcedor, cheios de adrenalina, tensos", conclui.
O outro, querendo logo encerrar, indagou:
" - Mas e o alto investimento que foi feito no país? Como fica?"
" - Esse foi o esquema. Agora é só futebol".
" - Então fica aí com seu futebol romântico, à moda antiga, de verdade, com emoção ao invés de razão".
Os dois riem, pedem a saideira e terminam por ver a vitória da Bélgica, novamente na prorrogação por sinal, placar apertado de 2 x 1.
E um deles sorriu mais feliz, porque sabe que o futebol não se traduz somente em dinheiro, fama, números ou termos técnicos e táticos. Mas puramente emocionais.