domingo, 4 de dezembro de 2016

O PALMEIRAS DE CUCA, QUE CANTA E VIBRA. DE VERDADE.

*por Adriano Oliveira

" - É agora que entra o meu trabalho, vou poder treinar e montar a equipe mais ou menos com a minha feição. Vamos buscar o Brasileiro, vamos brigar, vamos ser campeões."
(Cuca, técnico do Palmeiras, em entrevista após eliminação de seu time da Copa Libertadores da América e do Campeonato Paulista)


Cuca chegou ao Palmeiras para ser campeão. De verdade.
Porque o palmeirense comemorou o título do Campeonato Brasileiro de maneira diferente.
Não foi a mesma sensação de exatamente um ano atrás, com Marcelo Oliveira, que também foi campeão nacional pelo clube. Com Cuca, foi diferente. Afinal, o técnico campeão da Copa do Brasil de 2015 não deixou nenhum legado a não ser um estoque de "chuveirinhos", que nem o mais otimista dos torcedores acreditou que daria certo para sempre. Mas conquistar o longo e concorrido Campeonato Brasileiro, sem drama e sem sofrimento, faz esquecer o que ficou para trás.
Depois das eliminações no Campeonato Paulista e precocemente na Copa Libertadores da América, Cuca prometeu o título brasileiro aos palmeirenses. E cumpriu.
O torcedor sabe que o campeão deste ano não foi brilhante. Que não encantou. Talvez por não ter o elenco igual ao do Atlético-MG, considerado o "favorito" para ganhar tudo em 2016. Mas Cuca conseguiu fazer o time jogar. Se não tinha em mãos um elenco primoroso em qualidade técnica, restou a ele formar um bom conjunto e treinar uma equipe bem organizada taticamente, que logo ganhou entrosamento e cresceu de produção. De um grupo assustado e desacreditado após a eliminação ainda na fase de grupos da Copa Libertadores, o Palmeiras passou a ser um time determinado e confiante. Cuca fez o time "funcionar".
Da cara fechada, sisuda e austera do ex-técnico Marcelo Oliveira comandando o vasto repertório de "chuveirinhos" na área, o time passou a ter a humildade e o carisma de um autêntico boleiro jogando com seu time na beira do campo. E contou com algo a mais: o empurrão da torcida, que fez a diferença no Allianz Parque sempre lotado. Uma energia que veio sempre das arquibancadas, razão de ser desse esporte.
Sob seu comando, o time se transformou. Mais motivado, mais concentrado. O Palmeiras de Cuca não admitia perder. É claro que o treinador não fez milagre, mas com a bola rolando, o time se mostrava, pelo menos, diferente de uma irritante normalidade dos adversários. As vitórias quase sempre eram convincentes, o time administrava o controle dos jogos a seu favor e protegia sua liderança a cada vitória. Desde o início do 2º turno, o Palmeiras se tornou claramente o time a ser batido. Tinha pinta e também sorte de campeão. Não teve um "mago" da camisa 10 no meio de campo para armar jogadas sensacionais, nem aquele volante moderno que sabe atacar e defender com intensidade. Porém, nenhum outro time do campeonato se compara à disciplina tática exibida pelo Palmeiras de Cuca durante os 90 minutos. Nem o Atlético-MG de Robinho, Fred e Pratto, com o "melhor elenco" do país, ou o Flamengo de Guerrero, Diego e Leandro Damião. O Palmeiras do pastoral Cuca se tornou um time quase imbatível porque simplesmente sabia se defender e atacar buscando sempre a vitória, dentro e fora de casa. O grande segredo foi a força do jogo coletivo, do jogo solidário, sem vaidades individuais. E sem perder a capacidade de jogar para frente e fazer brilhar Gabriel Jesus, por exemplo. A questão primordial era entrar em campo e, com eficiência, jogar pelos três pontos.


Cuca não veste terno na beira do campo. Não tem o jeito catedrático de um Tite ou o ar professoral de um Dorival Júnior. E está muito longe da dureza carrancuda de um Muricy Ramalho. Cuca é humano ao extremo. Ele berra, chora, sorri, fala palavrão, se desespera com os erros da arbitragem, quase entra em campo na hora do escanteio para cabecear. Cuca estuda cada adversário, mas sabe que, dentro das quatro linhas, o futebol jamais será uma ciência exata.
O treinador deu "uma cara" ao time, mudou o jeito de jogar e, principalmente, criou um ambiente de paz que foi fundamental para alcançar o maior objetivo de todos no clube: ser campeão, como ele prometeu sete meses antes.
Cuca foi o líder por sua influência, jamais por autoridade. Fez jogadores, dirigentes e torcedores confiarem em seu propósito, em seu trabalho. Isso não fez do Palmeiras um time espetacular e sem defeitos, mas o tornou um time protagonista, que em cada rodada entrou em campo para buscar o troféu.
Cuca aprendeu mais. Está mais eloquente do que nunca. Basta assistir, na íntegra, uma entrevista sua. Tudo o que ele fala melhora o ambiente. Mesmo numa situação adversa, ou antes e depois de uma partida importante, seu semblante e sua fisionomia traduzem um cara "injustiçado" por anos no meio do futebol. De um técnico que sempre montou equipes competitivas que não ganhavam títulos, ao olhar de quem mantém a fé e acredita no que está dizendo e fazendo. É o ex-boleiro que agora está na beira do gramado pedindo calma a seus jogadores e, ao mesmo tempo, disposto a ligar o botão do "foda-se" a qualquer momento se for preciso.
Com Cuca, o Palmeiras voltou a sorrir em campo, voltou a dançar na hora do gol, voltou a celebrar uma justa e merecida conquista depois de 22 anos. E fez o palmeirense voltar a fazer parte da torcida que canta, vibra e comemora. Com méritos. E de verdade.




Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 44 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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