domingo, 1 de julho de 2018

A SELEÇÃO DO TITE PODE JOGAR BONITO E GANHAR?

"A forma como a equipe está se apresentando me deixa feliz. A equipe resgata o que eu sei de futebol, porque mistura a efetividade em ganhar jogos com a beleza. Dá para jogar bonito e ganhar. Tenho que reconhecer que o grupo de atletas está apresentando esse bom futebol."
(Tite, em entrevista coletiva após a vitória do Brasil por 3 x 0 sobre o Chile, no último jogo das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018).


O que você prefere?
Ver seu time perder a jogar mal? Ou o que de fato importa são os três pontos?

Caso você tenha nascido há mais de três ou quatro décadas e acompanhou futebol durante todo este tempo, sua resposta certamente será a primeira opção.
Porque mais do que ganhar os três pontos, o futebol precisa dos aplausos, dos olhos vidrados, do encanto, do reconhecimento e, principalmente, da admiração do torcedor. Para que, depois de uma inesperada derrota, venha a pergunta que demora a se calar em sua mente:

- Por que perdemos esse jogo?

Afinal, há times na história do futebol que nunca mereceriam perder.
A Hungria de Puskás? A Holanda de Cruyff? O Brasil de Zico, Falcão e Sócrates?
Seleções que, embora derrotadas e órfãs de um troféu de Copa do Mundo, alcançaram um lugar de honra e prestígio na galeria do esporte mais popular da Terra. E são lembradas até hoje.

Agora, caso você tenha nascido neste século, muito provavelmente deve escolher a segunda resposta para a pergunta que abre esse texto.
E deve ter na cabeça uma figura ilustre do nosso futebol que representa bem essa nova realidade: Adenor Leonardo Bacchi. Ou simplesmente Tite.
Mais que um treinador, um estudioso do futebol. O homem que conquistou tudo pelo Corinthians e que levou o time paulista ao topo do mundo, mesmo adotando um estilo de jogo sem brilho, sem plástica, talvez até sem graça, porém bastante eficiente.
Tite não é um técnico de futebol. É um técnico de resultados. E, sendo assim, o mais importante sempre serão os três pontos.




Vitórias com placares apertados? 1 x 0? 2 x 1?
Empates magros em 0 x 0? 1 x 1?
Isso não importa para Tite e seus fiéis seguidores. O resultado final sempre será o mais importante e fazer o primeiro gol da partida, seja qual for o adversário, sempre será o objetivo primordial.

Afinal, existem diversas maneiras de se jogar futebol. E nem sempre o time vitorioso é o que apresenta o melhor ou o jeito mais vistoso de jogar. Um time pode ser vencedor sem necessariamente jogar o futebol mais bem jogado.
E Adenor sabe perfeitamente disso. Seu time pode não brilhar dentro de campo, pode não "encher os olhos" de quem assiste, mas é pragmático, é cirúrgico. E tem sim um jeito de jogar. Existe um conceito e um padrão definidos, assimilados por todos os jogadores. Goste-se ou não, é um conceito que funciona.



Portanto, não se deve esperar “espetáculo” da seleção brasileira que disputa a Copa do Mundo na Rússia.
Se você que nasceu há três ou quatro décadas e viu Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior, Cerezo, Falcão, Zico, Sócrates, Serginho e Éder desfilarem em campos espanhóis, jamais espere que Allison, Filipe Luís, Miranda, Thiago Silva, Fágner, Paulinho, Casemiro, William, Philippe Coutinho, Neymar e Gabriel Jesus façam o mesmo em gramados russos.
Espere sim um futebol solidário, que busca incessantemente a posse de bola através de um conjunto forte. Nada de futebol bonito, ofensivo, que joga e deixa jogar. Mas sim um futebol voluntarioso, onde cada jogador sabe exatamente o que deve fazer dentro de campo, com e sem a bola. Ora ou outra, verá algum lampejo de criatividade de Neymar ou Phillipe Coutinho, mas sem exageros.



A seleção brasileira de Tite não muda sua forma de atuar. Seja diante da Guatemala ou da Argentina, de Trinidad & Tobago ou da França, com os titulares ou com os reservas, num amistoso ou numa semifinal de Copa do Mundo. Mesmo em situações adversas, sob pressão do adversário ou até nas derrotas, o jeito de jogar permanece inalterado e seguido à risca pelos comandados de Adenor.
Jogando feio ou bonito, goleando por 5 x 0 ou administrando um empate insosso de 1 x 1, lá estará o treinador grisalho ensandecido na beira do gramado gritando pela organização tática de sua equipe e pela retomada da bola o mais rápido possível.

Sim, Tite é um estudioso que busca conhecer seus adversários. Exatamente o que não fez o mestre Telê Santana a frente da brilhante seleção de 1982, aquela que entre outras jamais mereceria perder. Se Tite fosse o técnico daquele time quase mágico, o Brasil certamente não jogaria aquele futebol bonito que tanto encantou o planeta. Por outro lado, o histórico time de Falcão, Zico e Sócrates não seria eliminado pela Itália no fatídico "Desastre de Sarriá". Porque bastava um empate. E Tite não arriscaria jogar de forma tão ofensiva e ao mesmo tempo tão vulnerável como a seleção de Telê Santana jogou. Mesmo que para isso fosse necessário sacar dois atacantes e colocar dois goleiros dentro do gol para garantir um simples 0 x 0. O Brasil de Telê ficou cego pela arrogância de praticar o futebol-arte a ponto de não se importar com o forte time italiano de Gentille, Cabrini, Bruno Conti e Paolo Rossi, que acabou sendo campeão daquela Copa. Para Telê e aquela geração de craques, era melhor perder a jogar feio.



Portanto, jamais espere um Brasil irreverente, arrogante ou até mesmo "irresponsável" sob a batuta de Tite. Espere pelo resultado dentro de campo. Aquele time que não joga bonito, mas que fez a melhor campanha das Eliminatórias e conseguiu o passaporte para a Rússia de maneira inquestionável, classificando-

se com antecedência. Nada mal para um treinador chamado às pressas pela CBF para substituir o fraquejado Dunga, e cuja missão principal era de salvar a pátria e evitar que o Brasil ficasse pela primeira vez na história fora de uma Copa do Mundo.
Antes de criticar, lembre-se primeiramente que essa é a seleção dos eleitos do Tite. Não é a sua, nem a minha ou a de qualquer outro desses milhões de treinadores espalhados de norte a sul do país.


Afinal, existem várias maneiras de se jogar futebol. E goste-se ou não da filosofia ou das fórmulas usadas por Tite, uma coisa é certa e inegável: a seleção brasileira é hoje muito bem treinada. Mesmo que isso incomode tanta gente, especialmente os que nasceram há mais de três ou quatro décadas.



Leia mais: "O Desastre de Sarriá": https://cenaslamentaveis.com.br/jogos-memoraveis-1982-a-tragedia-de-sarria/



Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 45 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

6 comentários:

Anônimo disse...

Sim. Pode jogar bonito E ganhar. Mesmo que esse "bonito" não seja o mesmo espetáculo de outras seleções brasileiras, mesmo que não seja um "futebol arte". Mas acredito que sim, até a seleção do Tite virar hexa, vai jogar bonito, vai surpreender, vai deixar o torcedor boquiaberto sim!
Nasci há mais de três décadas, acompanhei pouco (quase nada) do que tu disse; concordo com partes do seu ótimo e muitíssimo bem escrito texto mas penso de forma mega positiva e a seleção "do Tite" vai dar um show levantando a taça! rsrsrs

Alessandro disse...

Jogar bonito ou não, depende da filosofia de cada treinador. A "titebilidade" nos ensina que é possível vencer sem jogar o futebol bem jogado de gerações passadas, mas que não levantaram o troféu. Eu não acredito que a seleção do Tite será campeã jogando um futebol de "encher os olhos", mas acredito que vai triunfar, sim. Aliás, torço pela renovação de seu contrato como treinador independentemente do que vai acontecer nesta Copa do Mundo. Tite não está preocupado em deixar o torcedor "boquiaberto", mas certamente estuda e pensa 24 horas por dia no hexacampeonato mundial. A seleçao brasileira está nas mãos certas.
Mas...por que "anônimo"? rsrs
Muito obrigado!

Unknown disse...

Texto maravilhoso! Acho que li umas 6x rs..
Queremos tanto ganhar e de qualquer forma que as vezes isso nos cega um pouco. Ok, não tem aquele briiiilho mas temos resultados. TiTe é focado nisso e ponto. Apesar de tudo, acredito que aos poucos, esses milhões de técnicos estão concordando.
Volto a dizer, você escreve muito! E sobre um assunto é tão sua praia rs..
Abraços!

Alessandro disse...

Os milhões de técnicos espalhados pelo país normalmente concordam até a página 3. Em caso de eliminação, surgem as mais variadas ideias mirabolantes de como a seleção deveria ter jogado.

Obrigado pelos elogios e pela leitura!

Anônimo disse...

Texto bacana vei prabens

Alessandro disse...

Muito obrigado, amigo. Abraço!