segunda-feira, 9 de julho de 2018

DE QUEM É A CULPA? DA BÉLGICA.

“É um momento de parar para pensar (...) tem muita coisa pra melhorar. Uma vitória na Copa não melhora os problemas muito sérios do país”.


Essa frase é de um abatido Galvão Bueno, depois de transmitir a eliminação do Brasil nas quartas-de-final da Copa do Mundo disputada na Rússia.
Pode soar como hipocrisia. Afinal, o futebol é um dos principais produtos comerciais da televisão. Por outro lado, se não resolve os problemas “muito sérios” do cotidiano, da política e da economia, o futebol é um fio condutor de alegria para a grande maioria da população. Sim, o povo brasileiro, que tanto sofre com a falta de emprego, de moradia, de segurança e de saúde, precisa de pelo menos um pouco de alegria, que lhe dá coragem para seguir vivendo, para seguir adiante.
Com a eliminação na Rússia, a patrulha da moral e dos bons costumes, sempre em alerta nas redes sociais pela busca incessante do fracasso do brasileiro, finalmente pode dizer agora em alto e bom som:

- Eu avisei, não avisei?

- O povo todo parou para ver futebol e o país sem educação e sem saúde. E agora? Cadê os canarinhos? Vão continuar vendo a Copa enquanto o país continua sem emprego e sem segurança?



Sim, os afiados moralistas de plantão querem colocar a culpa dos “problemas muito sérios” do país na seleção brasileira, como se o futebol tivesse culpa pelo pobre Índice de Desenvolvimento Humano que se vê por aqui. Talvez seja porque sem a Copa do Mundo, certamente a educação, a saúde e a segurança no Brasil estariam idênticos aos índices da Suíça, não é mesmo?

Por sinal, onde estava esse tal de IDH na eliminação da Suíça? Provavelmente os suíços devem estar bastante revoltados porque seu principal jogador, o brilhante IDH, não jogou o suficiente para evitar mais um tropeço numa Copa do Mundo. Ahhh, pobre futebol suíço...

Às favas o moralismo politicamente correto!

Sim, o brasileiro precisa sim do pouco de alegria que, quase sempre, somente o futebol pode lhe proporcionar. Nem que seja para reunir os amigos, fazer um churrasco em dia de jogo da seleção e comemorar a vitória ou chorar a derrota.
Porque o futebol não tem culpa pela crise política e econômica que há anos vive o Brasil. Tite e sua seleção não têm culpa pelas falcatruas, pela corrupção desenfreada, pelo sucateamento da máquina pública, pelo desânimo do povo com os que o representam no poder.
A Copa do Mundo jamais vai resolver os tais “problemas muito sérios” do país. Mas proporciona ao brasileiro uma alegria irreverente e uma leveza de espírito misturados com um sentimento de orgulho pela sua pátria, nem que seja por três ou quatro semanas. E ninguém, nem mesmo o discurso moralista de quem não gosta de futebol, tem o direito de censurar.



No entanto, a Copa do Mundo acabou mais cedo para o brasileiro e a alegria da conquista do hexa não veio. Dessa vez, sem a decepção do 7 x 1 dentro de nosso quintal. Mas com a frustração estampada nas mesmas cores da bandeira alemã.

De quem é a culpa?

Se o 7 x 1 de 2014 foi um desastre psicológico da seleção de Felipão, o que aconteceu em 2018 com a seleção do Tite?
Será que a Bélgica obrigou nossa seleção a jogar mais aberto que o normal?
Ou será aquela velha história de que o Brasil perdeu para os seus próprios erros?
Faltou humildade para Neymar?
O Brasil perdeu por causa de falhas individuais?
Perdeu por causa do gol contra de Fernandinho?
Faltou inteligência coletiva nos momentos críticos da partida?
Ou faltou mesmo qualidade técnica?
Tite cometeu um erro de cálculo quando sua seleção levou o primeiro gol e pela primeira vez na Copa saiu atrás no placar?



Se você respondeu sim para essa última pergunta, é melhor deixar de ler esse texto. Porque futebol jamais será matemática ou uma ciência exata.
Não houve erro de cálculo do senhor Adenor. Sua seleção foi formada pelos jogadores que atuam na elite do futebol mundial. Porém, em nenhum momento, deveria se esperar um futebol vistoso e de encantamento. Tite não joga assim. Nunca conciliou, de fato, eficiência com beleza.
Ademais, nenhuma seleção teve jogo fácil na Rússia.
A Argentina de Lionel Messi, Portugal de Cristiano Ronaldo e a Espanha de Iniesta saíram antes do Brasil de Neymar.
Sim, o Brasil chegou às quartas-de-final do torneio aos solavancos e nenhuma partida anterior credenciou ao torcedor brasileiro o direito de ser otimista e sonhar tão alto.
A Bélgica eliminou o Brasil porque jogou melhor. Foi mais competente e efetiva, exatamente como reza a cartilha do Tite.
E a culpa não foi de Fernandinho. Porque, quando a bola rola, absolutamente ninguém consegue imaginar o que vai acontecer. Nem um estudioso de futebol como Tite. A Bélgica foi mais determinada. E não adianta esbravejar que os dois gols tomados eram “defensáveis” e que Allison acabou falhando quando foi testado. A Bélgica foi superior e soube aproveitar todos os erros individuais e coletivos da seleção brasileira. Não foi uma derrota à custa de um vacilo de Fernandinho ou um jogo atípico. Foi uma derrota num jogo contra um adversário mais competente e mais organizado dentro de campo durante os 90 minutos.



Deve ser doloroso para um centroavante ficar sem fazer um gol sequer num Mundial. E Gabriel Jesus ficou. Na partida derradeira contra a Bélgica, por exemplo, foi o jogador que menos tocou na bola. Philippe Coutinho, o jogador altamente técnico que bota a bola onde quer, que chuta bem ao gol, forte ou colocado, com efeito ou de longe, fez uma partida tão ruim diante da Bélgica ao ponto de errar muitos passes simples. Marcelo esteve em campo, mas ficou longe daquele lateral habilidoso e que sabe apoiar tão bem o ataque. Thiago Silva foi discreto. Letal em seus arranques ofensivos, William foi o jogador que menos correu frente aos belgas. O Brasil não teve a jogada inesperada de um Lukaku ou a finalização certeira de um De Bruyne. E Neymar não foi um jogador excepcional com a humildade de um jogador comum.

Mas e agora? O que fazer?



Cabe às “mentes brilhantes” de quem comanda a CBF um mínimo de bom senso e profissionalismo para renovar imediatamente o contrato de Adenor, conforme deseja 89% dos torcedores brasileiros.
Porque antes de Tite assumir a seleção, o Brasil corria um risco muito grande de ficar fora pela primeira vez na história de uma Copa do Mundo. A campanha da seleção nas Eliminatórias era tão ruim quanto seu ex-treinador, Dunga. Tite chegou e recolocou o Brasil em seu devido lugar, o das grandes seleções que sempre chegam com força e são favoritas num Mundial.
Com o trabalho de Tite, o Brasil reconquistou o prestígio internacional após o fatídico 7 x 1. E goste-se ou não de suas ideias e métodos, o país voltou a ser uma potência, pelo menos no futebol.
Sem Tite, certamente a seleção brasileira voltará à estaca zero. E a eliminação na Copa de 2018, por falhas individuais e coletivas, dará lugar à uma derrota ainda maior: a da falta de planejamento e competência, que tanto se vê por aqui, seja no futebol ou na política, na economia ou na educação, na segurança ou na saúde.





Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 45 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ahhh pobre coração brasileiro... esse mar de positividade e otimismo não foi o suficiente para voltarmos hexa para casa. Tirando esses falsos torcedores (moralistas), o torcedor de verdade não vai julgar, não vai criticar, não vai pesar a mão como a imprensa fez. Vai lamentar sim, chorar, se chatear, usar o "Somos o melhor do mundo. Somos a única seleção penta." como frase de consolo... e torcer para que os próximos quatro anos e alguns meses a mais, passe logo para voltarmos pra casa hexa.

Quanto ao Tite, um dos 5 melhores técnicos do mundo, rsrs, não há o que falar. Um time não é o Técnico. Um time não é um jogador. Não adianta uma caça às bruxas após uma derrota. Eu, como simpatizante, não sou ignorante para culpar o menino Neymar muito menos o Tite. Foi uma soma de fatores que resultaram nisso... infelizmente. Uns tem que perder para que outros possam ganhar. Sou uma pessoa competitiva e odeio essa frase mas meu lado racional sabe que é a real. Bola pra frente, que o hexa tá logo ali!!!

Texto sensacional, sem tirar nem por. Parabéns sempre!

Alessandro disse...

Como consumidor de um meio de entretenimento caro como é o futebol, o torcedor de verdade pode e deve julgar o que ele vê dentro de campo, cobrando de todos os envolvidos na CBF (dirigentes e comissão técnica) a correção de erros cometidos, sem jamais deixar de torcer pela sua seleção nacional. Falso moralismo não tem nada a ver com patriotismo, muito pelo contrário, é a reafirmação constante de o quanto ainda somos complexados em relação ao sucesso.

O futebol tem como ingrediente principal o imponderável e é isso o que o torna apaixonante. Porém, de um modo geral, faltou experiência para Tite comandar sua seleção em momentos de pressão, além de inteligência coletiva na partida derradeira desta Copa diante da Bélgica. O que não o tira da lista dos cinco melhores treinadores da atualidade: Jurgen Klopp, Pep Guardiola, Diego Simeone, Zinedine Zidane e Tite, nessa ordem.
Bola pra frente, sempre!

E muito obrigado sempre!