domingo, 1 de setembro de 2013

O FUTEBOL DO POVO ESTÁ ACABANDO

Estádios novos e modernos, porém com arquibancadas vazias

Nenhum esporte consegue despertar tanta paixão como o futebol. E nenhum esporte consegue ser tão homogêneo socialmente. Na arquibancada, todos fazem parte do mesmo ambiente, da mesma classe, da mesma turma, da mesma tribo. Quando sai o gol, a massa explode, grita, pula, vibra. Torcedores se abraçam sem nunca terem se visto antes. Um empresário abraça um gari, um médico abraça um servente de pedreiro, não importa o nível ou a classe social.  Faça chuva ou faça sol, todos estão ali, reunidos pelo mesmo objetivo e desejando a mesma coisa. Ninguém pede referências à ninguém. Todos são iguais perante o jogo, todos são devotos do time que está vestindo aquela camisa, tão imaculada no coração de seus torcedores. Naquele momento não há distinções, não há discriminação social. E todos são treinadores, todos entendem de táticas simples ou mirabolantes e sempre unidos por um bem comum: a vitória daquele time que os representa dentro de campo.
Mas o politicamente correto parece querer fazer do futebol mais uma de suas vítimas. Quer extinguir as provocações, quer acabar com as rivalidades e até afastar as pessoas mais simples dos estádios. Quer elitizar o esporte mais popular do planeta. Por quê de nada adianta construir suntuosas arenas multiuso e cobrar um valor elevado de ingresso para os padrões do futebol brasileiro. O que se vê hoje são estádios bonitos e modernos, porém vazios. A taxa de ocupação média nas arquibancadas neste Campeonato Brasileiro está em 40%. Isso significa que, a cada 50 mil lugares disponíveis, aproximadamente 30 mil ficam vazios. No jogo Fluminense x Santos, por exemplo, disputado num sábado a noite no novo e belo Maracanã, o público pagante foi de pouco mais de 8 mil pessoas. Atrás dos gols, onde os ingressos são mais baratos, sempre se vê mais público. A parte central, onde é mais caro (e bem mais caro), está sempre vazia. Como era bonito ver um jogo no bom e velho Maracanã lotado.
O futebol não é apaixonante somente dentro de campo, mas são as pessoas que o deixam ainda mais cativante e contagiante. De nada adianta construir belas e modernas arenas multiuso, nos moldes do padrão "FIFA", e afastar os torcedores comuns, os verdadeiros torcedores, aqueles que sempre estiveram presentes. O Flamengo, por exemplo, tem jogado no novíssimo estádio Mané Garrincha, em Brasília. Os cofres do clube talvez agradeçam, pois os ingressos são caros e deve valer a pena a relação custo x benefício. Mas e o torcedor carioca? E o flamenguista autêntico, "da gema", acostumado a extravasar sua alegria todo domingo a tarde no Maracanã? Esse torcedor fiel, apaixonado, "roxo", que sempre gerou receitas, não merece ter seu direito de torcer privado por um sistema caça-níqueis.
Diz a música que "o Brasil está vazio na tarde de domingo, olha o sambão, isso aqui é o país do futebol..." Atualmente não. As arquibancadas que estão vazias, sem a presença do torcedor comum, do verdadeiro amante do futebol. E o genuíno futebol brasileiro, com suas rivalidades, suas tradições, suas provocações, está acabando.
Daqui a algum tempo, será proibido gritar gol nas arquibancadas para não "provocar" o torcedor rival. A torcida que o fizer vai penalizar seu time com a perda de mando de campo, por exemplo. Caçoar do rival, nem pensar. Isso é futebol? 
Com tudo isso o Brasil está deixando de ser, definitivamente, o país do futebol. E o futebol por aqui será somente mais uma opção de lazer para os mais favorecidos da sociedade.

Nenhum comentário: