terça-feira, 8 de outubro de 2013

O CRAQUE DO TIME TEM QUE CUMPRIR O SEU PAPEL DE CRAQUE

Seedorf é hoje o jogador mais vaiado do Botafogo

Não discuto o salário de ninguém. Na minha opinião, é no mínimo equivocado afirmar que "fulano ganha bem ou ganha mal". E por uma razão que beira a obviedade: cada um ganha aquilo que merece. Ou alguém acha que uma empresa de sucesso no mercado vai questionar os ganhos de seu principal executivo? Tudo depende da estreita relação entre o custo e o benefício proporcionado. E no futebol não pode ser diferente.
Pouco importa para os torcedores se um jogador de seu time ganha R$ 1 milhão mensais. Se for o craque do time e o responsável por vitórias e, consequentemente títulos, isso é o que interessa a todos, inclusive para os dirigentes. Vitórias e títulos resultam em maior exposição na mídia e maior exposição na mídia significa melhores contratos de patrocínio e maiores cotas de televisão, entre outras benesses. Até as placas de publicidade no entorno do gramado serão mais caras, assim como maior arrecadação de bilheteria, tanto dentro quanto fora de casa, afinal, os torcedores querem assistir os melhores de perto, em todos os lugares.
Veja o exemplo do holandês Clarence Seedorf, 37 anos. Há um ano e três meses, o veterano jogador reconhecido mundialmente estreou com a camisa do Botafogo num jogo do Brasileirão contra o Grêmio. Aplaudido e ovacionado de pé pela torcida carioca, a derrota para o adversário naquela partida pouco importou para os botafoguenses, carentes de tamanha alegria por estarem de volta às manchetes do noticiário nacional e internacional. Na última rodada do Brasileirão deste ano, o Botafogo voltou a perder para o mesmo Grêmio, novamente dentro de casa. Só que dessa vez, ao invés de aplausos efusivos, Seedorf passou por uma situação em que ele próprio revelou nunca ter passado antes: foi o alvo das vaias da torcida.
A pergunta: Seedorf foi vaiado dessa vez por receber um salário elevado? Ou por fraco desempenho dentro de campo? Algum torcedor santista chegou um dia a vaiar Neymar por seus vencimentos ou por falta de dedicação? Zidane já foi vaiado por sempre ter tido um alto salário? E Messi? E Cristiano Ronaldo? Torcedores catalães já vaiaram algum jogador do Barcelona por conta de seu salário?
Em qualquer profissão ou atividade, o profissional somente é questionado a partir do momento em que deixa a desejar no cotidiano. Quando o desempenho começa a cair, automaticamente as dúvidas começam a surgir e as reclamações (no caso as vaias, único meio explícito de revolta do torcedor) se tornam inevitáveis.
Seedorf sabia disso, apesar de se declarar "surpreso". Mesmo jogando no Brasil e num time onde é o ídolo máximo e a principal contratação há muitos anos, seu desempenho está diretamente associado ao rendimento da equipe. E sem esse rendimento vêm as cobranças. É assim no Real Madrid, no Milan e até no Botafogo. Quanto maior a responsabilidade, maiores também as cobranças. Até por que a única "regalia" que um craque pode ter dentro de um time é o salário diferenciado que recebe mensalmente (justamente por ser um jogador também diferenciado dentro do elenco).
É claro que existe um enorme problema no calendário brasileiro por causa do excesso de jogos em cada temporada. Por outro lado, se no passado o jogador corria, em média, 6 Km por partida e hoje corre 9 Km, é bem verdade também que a preparação física e técnica acompanhou essa evolução. Os métodos de fisioterapia, fisiologia e alimentação existentes atualmente são bem mais avançados do que há 20 anos, por exemplo. Até mesmo o uniforme e até a bola estão bem mais aperfeiçoados do que em décadas anteriores.
O fato é que o torcedor é apaixonado, dispensa a razão e ainda paga caro pelo seu time do coração: Ingressos, transporte, estacionamento, TV por assinatura, camisas e artigos oficiais e o pior, as gozações dos rivais por derrotas e as vezes por vexames. Natural que exija do clube e de seus principais jogadores que pelo menos cumpram seu papel dentro de campo com disposição.
Afinal, a velha e coerente máxima da "relação custo-benefício" também vale por aqui. Principalmente num país onde o futebol é, das coisas menos importantes, a mais importante.

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