sábado, 31 de janeiro de 2015

TORNEIOS ESTADUAIS: BOM DIA, VIETNÃ


Vivi a época áurea dos torneios estaduais, quando ser campeão paulista, por exemplo, era tão ou mais importante do que ser campeão brasileiro. Sim, apesar da cara de "mamão murcho" de muita gente da atual geração Playstation quando lê algo do gênero, a Copa Libertadores tinha até menos prestígio que o Campeonato Paulista. Mas isso passou. E passou faz tempo. Hoje essas competições, desorganizadas e que atendem aos interesses de quem nunca chutou uma bola na vida, são verdadeiramente uma piada de mau gosto. E o que causa indignação a quem gosta de futebol é a apatia e o conformismo dos verdadeiros artistas, os jogadores, que ano a ano continuam abaixando a cabeça e dizendo "sim" a tudo o que lhes é imposto.
Precisamos de jogadores que tenham coragem de divergir, que assumam de fato suas posições de protagonistas nesse jogo. "Jogadores são pessoas normais, com a vantagem de ter um alto-falante capaz de reverberar suas palavras", como diz Artur Galocha, designer espanhol apaixonado por futebol e autor de uma exposição chamada “Palabra de Futbolista”.
Parece que no "show business" do futebol brasileiro há uma recomendação básica dada aos jogadores, de qualquer nível e qualquer time, de que pessoas do futebol não devem falar sobre assuntos fora do futebol.
No Rio de Janeiro, por exemplo, a federação estadual decide quais serão os preços dos ingressos, os locais em que ficarão as torcidas no Maracanã, os mandos de campo para cada clube e, neste ano, ainda promete que vai multar o dirigente ou o jogador que falar mal do "seu" Campeonato Carioca. Baseado em que a federação acredita ter tamanha autoridade? Talvez por que todos aceitam tudo passivamente? No último encontro entre os quatro grandes clubes cariocas e a FERJ, o presidente do Flamengo deixou a reunião antes do fim após o presidente da entidade literalmente "xingar sua mãe" e usar palavras de baixo calão, enfurecido depois de ouvir críticas ao regulamento do Estadual. A que ponto chegamos. Parece que tem boi na linha, certo?
Em São Paulo, cujo torneio estadual é considerado o mais competitivo do Brasil, as coisas não são diferentes. O ingresso de uma partida entre um time grande com escalação mista contra um modesto time do interior, em plena quarta-feira às 22h00, com transporte ruim e falta de segurança, custa três vezes mais caro que uma peça de teatro de alto nível ou assistir a estréia de um filme de primeira linha dentro de uma confortável sala de cinema 3D, com direito a estacionamento e segurança do lado de fora.
Isso é ou não é uma piada de mau gosto?
Os campeonatos estaduais insistem em sobreviver somente no Brasil, ao contrário de outros mercados onde o futebol há tempos é tratado de forma séria e profissional, se consolidando como um ótimo e lucrativo negócio, bom para todos os envolvidos: Ligas independentes, televisão, patrocinadores, empresários, mídia, clubes, jogadores e torcedores.
No Brasil, o torcedor ainda "abraça" os torneios estaduais pela paixão que o move e não pelo "espetáculo" que lhe é proporcionado. Porém, a cada temporada, uma parcela maior de torcedores, embora ainda apaixonados, decidem parar para fazer as contas e descobrem a temerária relação custo-benefício de tais campeonatos. E desistem. A prova disso é que os Estaduais no Brasil possuem médias de público inferiores às das competições de futebol no Vietnã, Tailândia, Uzbequistão, Indonésia e Irã.
Enquanto isso, a Federação Paulista de Futebol libera nos estádios a venda de cerveja quente e sem álcool a R$ 12. E proíbe o uso de pau de selfie.

Leia mais: site Super Esportes"Público nos estaduais é pior do que no Vietnã, na Malásia e na quarta divisão inglesa" http://migre.me/oqohC

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