quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A FÓRMULA DO "PESO DA CAMISA"

*por Adriano Oliveira


Quem pode salvar a temporada do São Paulo?
O elenco, mais uma vez, pede "vergonha na cara". E os jogadores dizem não haver nenhum "mal-estar" ou "racha" no ambiente entre eles.
Estão falando a verdade? Ou os jogadores têm receio de expor seus dirigentes?
No começo da temporada, o São Paulo não tinha patrocinador. Agora tem. Ao que tudo indica, os salários (que estavam atrasados) estão em dia.
Então, quem pode salvar o ano do São Paulo? O peso da camisa?
Quem sabe o primeiro passo fosse deixar a soberba de lado, entender que só a camisa não mais ganha jogo e que o "blá-blá-blá de camisa que entorta varal" ou então "El Morumbi te mata" são citações que permanecem apenas nos gloriosos anos de um passado cada vez mais distante da realidade do clube.
Afinal, a crise não chegou ao Morumbi quando o árbitro Wilton Pereira Sampaio apitou o fim da partida em que o limitado time do Juventude, que disputa a Série C do Campeonato Brasileiro, venceu o São Paulo por 2 x 1 em pleno Morumbi, no primeiro jogo das oitavas-de-final da Copa do Brasil.
A crise chegou ao Morumbi quando o são-paulino passou a comemorar vaga na Copa Libertadores da América. E só. Ao invés de títulos, o torcedor passou a celebrar "o maior público da temporada" e o "escudo de clubes mais bonito do mundo".
É só isso que o tal peso da camisa pode proporcionar? Por que?
O São Paulo é, dentro de campo, o reflexo do que vem acontecendo em seus bastidores. Há muito tempo se mostra um clube confuso e politicamente efervescente, do tipo que coloca um técnico como Doriva no lugar de um Juan Carlos Osório, por sua vez um treinador que mesmo sem conquistar grande coisa na carreira foi imediatamente "endeusado" pela torcida por ser um estrangeiro, apesar de ter trabalhado em nada menos que sete clubes nos últimos oito anos. Seu melhor desempenho havia sido no Atlético Nacional-COL, onde não teve aproveitamento maior do que 60%. Contrariando os "entendidos da bola", o colombiano não deu aulas de futebol como se profetizou, nem revolucionou o jeito de jogar no Brasil. Ainda assim, em alguns momentos de sua passagem, Osório se colocou acima do São Paulo que, na verdade, foi o maior clube em que ele trabalhou. Sob atritos com dirigentes, o treinador se foi na primeira oportunidade que apareceu.
E quando sai um Edgardo Bauza e chega um Ricardo Gomes? Existe um conceito, ao menos uma tentativa de continuidade de filosofia? Parece que não.
Dentro de campo, o problema hoje é Carlinhos? Wesley? Dênis? Um dia o problema já foi o Maicon (que está no Grêmio), depois passou a ser Lucão e agora a bola da vez é o goleiro? Ou Michel Bastos? A culpa é desse ou daquele jogador? Do Thiago Mendes? Tais jogadores podem até correr mais, contudo não jogarão melhor, com mais qualidade, só porque estão sendo vaiados e cobrados pela torcida.
Outro alvo predileto dos torcedores se tornou a arbitragem. Sim, ela é implacável de tão ruim, não há como negar. No entanto, existe um único momento no futebol em que todas as torcidas, de qualquer divisão ou campeonato neste país, puxam exatamente o mesmo grito: quando o homem com apito na boca, vestido de preto, de amarelo, de azul ou de vermelho, tanto faz, entra em campo ao lado de seus dois assistentes. Todas as torcidas entoam o mesmo coro e, claro, homenageiam a mãe do apitador. Mas para boa parte dos são-paulinos, ficou mais fácil reconhecer que ele, o homem do apito, tem sido o grande responsável pela derrotas, pelas seguidas eliminações em todos os torneios. Ganhando ou perdendo, o torcedor são-paulino e sua mania de perseguição mantém a teoria conspiratória de que o juiz cometeu, de propósito, algum erro crasso contra seu time que fatalmente justificou o tropeço dentro das quatro linhas. A mesa de bar não escapa do famoso bordão: "Contra tudo e contra todos".
Mas todos quem?
É mais fácil, por exemplo, colocar a frente o erro do árbitro do que reconhecer a superioridade de um forte Atlético Nacional que venceu por 2 x 0 uma partida semifinal de Libertadores em pleno Morumbi com mais de 60 mil são-paulinos?
É tão difícil reconhecer que não era a noite de Maicon, Calleri ou Lugano? E que era sim a noite de um único jogador, Miguel Borja?
Como reclamar que o árbitro é o maior vilão da história recente do time quando, em 14 clássicos disputados na temporada passada, o São Paulo perdeu nove vezes, empatou três e venceu apenas duas? Levou 31 gols de Corinthians, Santos e Palmeiras e fez apenas 11, um saldo negativo de 20 gols diante de seus rivais?
O São Paulo foi eliminado do Campeonato Paulista de 2014 pela Penapolense, no Morumbi. No mesmo ano, foi eliminado da Copa do Brasil pelo Bragantino, então o 18º colocado da Série B do Campeonato Brasileiro, também dentro de casa. Em 2013, foi eliminado da Copa Sul-Americana em derrota por 3 x 1 para a Ponte Preta, na época já rebaixada para a Série B. Onde? Sim, novamente no Morumbi. E nunca foi tão ameaçado pelo descenso como aconteceu no Campeonato Brasileiro daquele mesmo ano.
Mais? Em 2015, o time então dirigido pelo interino Milton Cruz foi impiedosamente goleado por 6 x 1 pelo time reserva do Corinthians, no fim do Campeonato Brasileiro. Meses depois, o São Paulo deixou o Campeonato Paulista de 2016 após sofrer nova goleada, dessa vez para o Audax, o modesto time de Osasco, por 4 x 1.
Esse é o retrospecto recente diante de clubes considerados pequenos para um time cuja torcida se orgulha por ser "soberano" ou "diferenciado"?
" - Ahhh, mas o São Paulo chegou às semifinais da Libertadores deste ano".
Sim, chegou. Mas como chegou? Desde o início, o time não tinha a confiança de mais de 90% de seus torcedores, perdeu para o inexpressivo The Strongest no Pacaembu e por muito pouco não foi eliminado ainda na etapa de grupos. Teve uma ou duas vitórias com tons "épicos" na fase de mata-matas, porém insuficientes para uma equipe inconstante, que alternava boas e más apresentações. Mais uma vez, no momento mais importante, faltou o "algo a mais" sempre fundamental em toda conquista, que exige mais do que apenas um time competitivo.


Ao deixar o gramado do Morumbi depois de outra inesperada derrota, essa para o Juventude, o cabisbaixo Maicon, zagueiro que custou mais de R$ 20 milhões aos cofres do clube, concordou que seu desempenho atual "não é mais o mesmo do primeiro semestre". Porém, logo em seguida, disparou a velha máxima que "está na hora do elenco sentir o peso da camisa do São Paulo".
Até quando, de um modo geral, o jogador e o torcedor são-paulinos insistirão no discurso da tal "camisa pesada" e coisas do gênero? Colocando, a frente de tudo e de todos os problemas, as glórias soberanas de um passado que levou o clube ao patamar de "modelo" na América do Sul, mas que atualmente passa a comemorar somente "maior público no estádio", "escudo mais bonito" e vaga na Libertadores?
A fórmula, faz tempo, não está funcionando mais.


Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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