sábado, 3 de setembro de 2016

TITE, O BRASIL E O EQUADOR EM SEUS DEVIDOS LUGARES

*por Adriano Oliveira

"O treinador da Seleção procurou saber onde os atletas jogam em suas equipes, em que sistemas, quais posições e funções exercem (...) Gabriel Jesus é o goleador do Campeonato Brasileiro como jogador terminal."


Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, deu essa declaração em entrevista coletiva um dia antes de sua estreia como técnico da seleção brasileira, contra o Equador, pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 2018.
Willian, Neymar, Renato Augusto, Paulinho, Casemiro, Marcelo, Miranda e Gabriel Jesus seguiram à risca as orientações do novo comandante a beira do campo e, como consequência mais provável que improvável, a partida colocou Brasil e Equador em seus devidos lugares. Tite também. Afinal, o melhor técnico do país não poderia estar em outro lugar que não fosse no comando de sua seleção nacional.
Mais do que isso, o Brasil voltou a vencer com propriedade e futebol convincente. Não deu chances ao adversário, especialmente no segundo tempo, quando chegava ao ataque em velocidade, com rápida troca de passes e até com seis jogadores. Gabriel Jesus, cheio de confiança e conforme Tite projetou, foi o tal "jogador terminal" em todos os lances de ataque, fez dois belos gols e ainda sofreu o pênalti convertido por Neymar.
3 x 0 sobre o Equador, a 2.850 metros de altitude em Quito, foi uma vitória maiúscula e mostra que, enfim, o Brasil possui um treinador e, ao que tudo indica, um centroavante.
Se a seleção já tinha a boa vontade da maioria dos brasileiros depois do inédito ouro olímpico, após a estreia de Tite a confiança aumentou ainda mais. Uma confiança que os equatorianos tiveram em excesso antes do confronto, beirando uma soberba inexplicável sabe-se lá vinda de onde que os fizeram não respeitar mais como antigamente o único país cinco vezes campeão do mundo. Embora, é claro, que a CBF tenha dado motivos de sobra para isso nos últimos anos.
Tite é um estudioso do futebol. Goste-se ou não de seus conceitos. Simples assim. Porque Adenor é o tipo do cara que parece só pensar em futebol. Está em sua postura, em seu semblante de cada entrevista. É aquele sujeito que não consegue ficar meia hora sem falar de futebol. E seja você clubista ou não, ele é, com certeza, há dois ou três anos, o técnico brasileiro mais bem preparado para assumir a seleção. Um profissional que, acima de tudo, transmite tranquilidade aos seus jogadores. Algo imprescindível que Leão, Parreira, Mano Menezes, Felipão e Dunga não conseguiram fazer. Dentro da panela de pressão após o interminável 7 x 1, o técnico gaúcho trouxe com ele um ambiente de paz.


O jogador confia no trabalho e na cabeça pensante de Tite. Até a imprensa. Nenhum de seus cinco antecessores tiveram tamanho apoio da mídia. É claro que muita gente da imprensa considerou "controversa" sua primeira convocação. Mas Tite não foi alvejado como os treinadores anteriores. Por outro lado, ele sequer está preocupado se chamou o time que todos esperavam. Audacioso, Tite apenas optou pelos jogadores pensando no time que ele estudou e planejou ver jogando. É o técnico que, em nenhum momento, se preocupa em encantar a mídia baseado em esquemas táticos modernos ou mirabolantes. Agregador, busca um futebol eficiente. Sua equipe funciona dentro de campo. Foi assim que fez do Corinthians um time vencedor que conquistou a inédita Copa Libertadores da América de 2012 de forma invicta e, depois, o Mundial de Clubes. O futebol praticado por seus times não chega a ser brilhante, nem enche os olhos de quem assiste, mas é seguro. É pragmático. E preza o tempo todo pela posse de bola que o faz atacar e ser cauteloso ao mesmo tempo. Uma espécie de controle do jogo ofensivo e individual através do forte espírito de equipe.
Tite estuda o adversário, monta seu time, orienta seus jogadores exatamente como quer que façam dentro de campo. Com e sem a bola. Dá tranquilidade, inspira e tem a confiança de cada um deles. E de todos ao redor. Essa é a fórmula. Por isso seus times, geralmente, funcionam. Goste-se ou não da maneira de jogar.
Em três dias, a "nova" seleção brasileira mostrou que os dois anos que se passaram depois do fatídico 7 x 1 foram jogados no lixo. Um tempo perdido que faz da missão de Tite não torná-lo, pelo menos, totalmente irrecuperável na caminhada em direção à Rússia.



* Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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