segunda-feira, 1 de maio de 2017

O QUE TE FALTA PARA SUPERAR A PRESSÃO, PONTE PRETA?


Diferentemente de boa parte das coisas da vida, o futebol é uma opção. Seria muito bom, por exemplo, se ao nascer todos nós tivéssemos a opção de escolher entre ser pobre ou ser rico. Mas não, essa escolha é pertinente ao futebol, a mais importante das coisas menos importantes da vida.
Sendo assim, é você quem escolhe para qual time deseja torcer.
E por que cargas d'água se decide torcer então para um time pequeno, do interior, que pouca gente conhece sua história, aquele que será sempre considerado "zebra"? Um time que jamais conquistou um título importante?
Embora seja aparentemente simples, trata-se de uma escolha difícil, afinal, você deverá amá-lo para o resto da vida, na alegria e na tristeza.


Portanto, por que alguém pode escolher "sofrer"?
Porque o futebol faz parte de um universo paralelo, das "coisas da coisa", aquelas que não têm explicação.


E, longe de "sofrer", torcer para a Ponte Preta é um caso de amor. De muito amor.

Quase, digamos, uma obrigação, dentro de uma cidade que se divide apenas entre dois times, uma metade verde e outra alvinegra. Pois é, em Campinas ou se torce para a Ponte Preta ou para o Guarani. Não há espaço para outras cores, nem para os times considerados grandes, dos craques, da televisão e dos holofotes da mídia. Por lá não existe o chamado "torcedor misto" entre bugrinos e ponte-pretanos, aquele sujeito que até acompanha o time de sua cidade, mas que na verdade torce mesmo é para o time grande da capital.

No entanto, falta um "algo a mais" para a Ponte Preta. Talvez, o mais importante. Falta sentir o sabor de se comemorar um título, falta levantar um troféu durante uma volta olímpica. Seu arquirrival, o Guarani, certa vez teve a petulância de ser campeão brasileiro. E da Primeira Divisão.
Mas e a Macaca?

Nada. Nenhum título, apesar de várias chances para triunfar.
Nas decisões dos Campeonatos Paulistas em 1977, 1979, 2008... E, principalmente, teve a chance de ser campeã de um torneio continental. Sim, a Ponte Preta era o "patinho feio" da Copa Sul-americana de 2013, mas jogou como gente grande e mostrou determinação ao despachar o Deportivo Pasto na altitude colombiana, deu de ombros para a tradição do Velez Sarsfield em Buenos Aires e passou com propriedade pelo São Paulo dentro de um Morumbi lotado. Chegou às finais com pompa e circunstância, como protagonista de uma decisão que poderia estrear sua sala de troféus com um título internacional, o que faria morrer de inveja qualquer torcedor bugrino. Mesmo sendo a prima pobre da Copa Libertadores da América, a Copa Sul-americana seria o Olimpo para todos os ponte-pretanos. A Ponte Preta, então, novamente atraiu os flashes e o foco das câmeras, chamou atenção da imprensa esportiva nacional, mas esbarrou em algo que sempre aparece em sua direção nos momentos realmente decisivos: a pressão.
O Lanús (a Ponte Preta da Argentina) venceu a grande final por 2 x 0 e foi campeão. Assim como o Corinthians em 1977 e 79, e o Palmeiras em 2008.

Muito provavelmente, sua bisavó ainda nem tinha nascido quando a Ponte Preta surgiu, no longínquo ano de 1900, uma década depois da Proclamação da República. Ou seja, faz muito tempo. É o time profissional de futebol mais antigo do Brasil, cuja galeria de troféus continua vazia e empoeirada.
O que acontece em Moisés Lucarelli?




A Ponte foi seis vezes vice-campeã paulista. E ficou na segunda colocação da Série B do Campeonato Brasileiro em 1997 e 2014.
Agora, 40 anos depois, a Ponte Preta volta a decidir uma final de Campeonato Paulista contra o Corinthians. Outra final histórica, não como foi em 1977 para o Corinthians, claro, mas porque o time de Campinas pode finalmente ser campeão pela primeira vez, embalado ao eliminar Santos e Palmeiras antes de chegar às finais. Com exceção de corintianos e bugrinos, todos torcem pela Ponte Preta.

E só a Ponte Preta poderia dar tal brilho reluzente ao modorrento e desprestigiado Campeonato Paulista, encerrando assim seu jejum de títulos.
O Majestoso, como é conhecido o estádio alvinegro de Campinas, estava lotado no primeiro jogo das finais. Era o momento de acreditar e reviver os áureos tempos de Carlos, Oscar, Dicá, Polozzi e companhia.

 É hoje!! Dessa vez, vai! - gritavam os ponte-pretanos cheios de esperança.

E de novo, de forma implacável, o time esbarrou em que? Na pressão.


O que te falta para administrar e superar a pressão, Ponte Preta?


O Corinthians venceu por 3 x 0, com facilidade. Será campeão em Itaquera com uma tranquilidade absurda, inimaginável até para o mais otimista dos corintianos.

À Ponte Preta, faltou o futebol que parece ter chegado no limite antes do momento mais importante. Ou, quem sabe, o algo a mais que só os times vencedores possuem.
Assim como em todas as outras vezes em que decidiu uma competição, o time hoje treinado por Gilson Kleina esbarrou na pressão, pesada demais para um time como a Ponte Preta.


Apesar de tudo, felizmente o futebol é uma opção. E a paixão, enigmática, insiste em continuar.




Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 44 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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