segunda-feira, 19 de junho de 2017

A CULPA ERA DO LUCÃO?

"Lamento, porque vaias e aplausos são do jogo (...) É sempre ruim quando você é vaiado, mas tem de ter cabeça no lugar para não dar uma declaração que não possa se arrepender futuramente. Eu sou de uma época em que, independentemente de vaias, era sempre muito especial jogar pelo São Paulo. Queria que ele tivesse também esse tipo de sentimento."


A frase acima é de Rogério Ceni, técnico do São Paulo, em entrevista coletiva depois da partida diante do Atlético-MG, no estádio do Morumbi, e se refere ao zagueiro Lucão, eleito por boa parte dos são-paulinos como o grande responsável pela derrota por 2 x 1.
Contestado há muito tempo pela torcida, Lucão falhou nos dois gols do time mineiro, que ocupava a zona de descenso do Campeonato Brasileiro.
O zagueiro foi o principal alvo dos repórteres assim que os jogadores deixaram o gramado e, abatido pelas vaias, falou em tom de desabafo que "para alegria de muitos, já está indo embora".
Sim, tudo o que acontece de errado no Morumbi é culpa do Lucão. Era de Casemiro, depois passou a ser de Maicon (atualmente no Grêmio), chegou a ser de Reinaldo, do goleiro Dênis e agora a bola da vez era o Lucão.
Formado nas categorias de base do clube em Cotia, Lucão ficou marcado nas duas últimas temporadas pelas falhas grosseiras, especialmente em clássicos contra o Corinthians. Com a chegada de Rogério Ceni, teve um período de reabilitação e voltou a ganhar espaço na equipe titular.
Mas a culpa era só mesmo do Lucão?
O Atlético-MG, um time de alta qualidade técnica, de bons valores individuais, porém em má fase, desorganizado em campo e com esquema tático confuso, vinha de derrota em casa para o lanterna na rodada anterior. Mesmo assim, "achou" dois gols contra o São Paulo de Lucão. Pobre Lucão.
A torcida não cansou de achincalhar o zagueiro, no Morumbi e nas redes sociais. Mas será que xingamentos e vaias poderiam transformar Lucão num Franco Baresi ou num Paolo Maldini? Creio que não. Sequer o fará se aproximar de Diego Lugano, seu substituto direto que fica no banco de reservas.
E simplesmente porque esse é o futebol de Lucas Cavalcante Afonso, o Lucão. As pesadas e costumeiras críticas não o fizeram melhorar, mas certamente o deixaram cada vez mais inseguro dentro de campo.
Por que então os críticos de Lucão também não detonam os tais profissionais que tanto insistiram em mantê-lo no time? Sejam eles membros da diretoria ou da comissão técnica?
Lucão, o "vilão do Morumbi", não veste mais a camisa do São Paulo. No entanto, foi titular com Muricy Ramalho, Juan Carlos Osorio, Milton Cruz, Doriva, Edgardo Bauza, Ricardo Gomes e agora com o inabalável ídolo Rogério Ceni. Cada um desses treinadores possui uma linha de trabalho distinta um do outro, em maior ou menor grau, mas todos eles acreditaram e avalizaram o futebol do jogador que cresceu dentro do clube.


Será que era mesmo somente o Lucão o culpado pelas derrotas e pelo mau futebol do time há tanto tempo?
O São Paulo foi eliminado precocemente de três competições em 2017 e disputa hoje apenas o Campeonato Brasileiro. E, mais uma vez dentro de casa, o time voltou a decepcionar sua torcida.
Uma derrota inesperada por 2 x 1 para um bom time, porém desacreditado neste início de torneio, realmente deve ser atribuída somente ao jogador que novamente falhou, que mais uma vez "entregou o jogo", mas que seu treinador decidiu mantê-lo como titular ao invés de optar por Diego Lugano, por exemplo?
Já que Rogério Ceni esperava "outra postura" de Lucão ao contrário do desabafo feito à imprensa após tantas reclamações, por que então não afastou o jogador por deficiência técnica ou pelo menos para blindá-lo das críticas? Por que Lucão continuou jogando?
Falta mais atitude no time do São Paulo, que tem qualidade acima da média no campeonato. Atitude de todos, não apenas de um zagueiro limitado que supostamente vai deixar de vestir a camisa do time devido às vaias dos torcedores ou à confiança de seu treinador e companheiros de equipe.
De Muricy a Ceni, o time do São Paulo continua sem "brilho nos olhos", sem confiança, sem a personalidade de quem quer ser campeão, em qualquer competição que dispute.
E embora nem o mais pessimista são-paulino imaginasse uma derrota para o então combalido Atlético-MG dentro do Morumbi, uma possível solução já foi encontrada: a culpa não será mais do Lucão!



Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 44 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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