segunda-feira, 3 de julho de 2017

ROGÉRIO CENI: QUANDO OS NÚMEROS NÃO MENTEM

"Você não pode se apegar somente aos números".

Essa frase é de um inquieto e abatido Rogério Ceni, ainda goleiro e capitão de seu time, logo depois de um clássico disputado no Allianz Parque diante do Palmeiras, pela 9ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2015. O placar do jogo apontava 4 x 0 para os donos da casa e o time palmeirense, liderado por Dudu, só não fez mais gols porque não se preocupou com isso. Sim, o jogo mais pareceu um típico "vira-dois-acaba-quatro", um resultado de tirar o sono para o então recém-chegado técnico Juan Carlos Osório.
Detalhe: o Palmeiras ocupava a 15ª posição na tabela, enquanto o São Paulo era o vice-líder.
Porém, na análise do capitão são-paulino, aquele foi um jogo para "não se apegar aos números".


O paranaense Rogério Ceni é, sem dúvida, 0 maior ídolo da história do São Paulo. Trata-se do maior jogador que vestiu a camisa tricolor, a frente de Pedro Rocha, Daryo Pereira e Raí. Disputou mais jogos pelo São Paulo do que Pelé pelo Santos, conquistou 17 troféus pelo time do Morumbi e se tornou o maior goleiro-artilheiro da história do futebol, um feito que jamais será alcançado por outro jogador da mesma posição. Encerrou sua carreira como goleiro há pouco menos de dois anos, porque soube compreender o momento certo de "parar", algo tão louvável quanto brilhar numa carreira tão vitoriosa e cheia de conquistas.
Até que, uma temporada depois de "parar por cima", Ceni aceitou o convite para ser treinador de futebol no clube onde reinou. Esse foi seu maior erro.
O ex-goleiro não estava preparado para assumir o posto de técnico de um clube como o São Paulo. O seu clube.
Em 37 partidas na temporada, o time treinado por ele conseguiu 14 vitórias, 13 empates e 10 derrotas. Aproveitamento inferior a 50%, com 55 gols marcados e 42 gols sofridos.
Diferentemente daquela derrota por 4 x 0 para o Palmeiras há exatamente dois anos, em sete meses como técnico, Ceni sempre fez questão de enaltecer os números. A cada entrevista coletiva, os números mostravam que, matematicamente, o time era perfeito. Ou quase perfeito. Porém, eram estatísticas inúteis, afinal, os resultados eram desastrosos, como foi aquela goleada sofrida no Allianz Parque. Este ano, antes da metade do primeiro semestre, o time de Rogério Ceni foi eliminado de três competições: Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Copa Sul-americana, essa última dentro do Morumbi para o fraco e modesto Defensa Y Justicia, equipe argentina debutante em torneios internacionais.
Após série negativa de cinco derrotas e na 17ª colocação, a campanha do time no Campeonato Brasileiro de 2017 é muito parecida com a de 2013, quando o São Paulo se livrou do rebaixamento a poucas rodadas do fim. No final daquele ano, Ceni declarou que "emocionalmente, havia envelhecido 10 anos em 6 meses"Mas e agora como treinador, em 2017, com 11 pontos conquistados em 11 rodadas?
Um inferno astral.
E sobre quem recaíram as críticas de todos os lados?
Sobre ele, o "Mito", o ídolo maior. Afinal de contas, em qualquer time grande, o nome que mais se destaca é também o mais cobrado. E absolutamente ninguém no atual time do São Paulo possui mais destaque que ele, o agora técnico Rogério Ceni.
Muitos são-paulinos atribuem a culpa pelo momento confuso do time à diretoria. Mas Rogério Ceni também sabia o que se passava nos bastidores. Mesmo assim, resolveu aceitar o desafio mesmo sem ter nenhuma experiência como treinador. Na pré-temporada, conquistou um torneio mequetrefe nos Estados Unidos, o que aumentou seu ego e injetou uma carga adicional de confiança. Ledo engano.


Ceni resolveu deixar a carreira de goleiro em 2015 porque percebeu que o então limitado time do São Paulo não lhe daria a oportunidade de largar o futebol com um título. Duas temporadas depois, o ambiente não mudou, tampouco as diretrizes de uma diretoria inoperante. Mesmo assim, ele aceitou começar ali a carreira de treinador. Para os dirigentes, melhor assim. O "alvo" das críticas seria o maior ídolo do clube. A primeira vidraça a ser apedrejada em caso de má campanha.
Rogério Ceni errou. Não poderia assumir tão cedo um time como o São Paulo em sua nova empreitada. Ou até poderia, porém primeiramente em Cotia antes de chegar ao Morumbi.
Ele é um mito para seus súditos são-paulinos. Tem um nome e uma história a zelar dentro do São Paulo. Uma rica trajetória que ele próprio escreveu com tanta dedicação como jogador.
E exatamente por isso não era o momento de ser treinador. Não do São Paulo. Não era preciso correr o risco de causar tamanho arranhão na imagem do maior ídolo da história do São Paulo.



Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 44 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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