sexta-feira, 1 de junho de 2018

O MORUMBI ESTAVA ALI. MAS A "MELHOR SOLUÇÃO" FOI CONSTRUIR UMA ARENA EM ITAQUERA.

São Paulo, 6 de junho de 2014.
Como se não bastasse a greve dos metroviários que estava em seu segundo dia, uma chuva torrencial tomou conta da capital em plena sexta-feira a tarde.

Portanto, a chegada ao estádio do Morumbi foi caótica.
Quem foi de carro enfrentou enormes congestionamentos. Não havia vagas nas ruas próximas e flanelinhas cobravam até R$ 150 por um espaço qualquer. Os bloqueios feitos pela polícia mais atrapalhavam do que ajudavam. E a 20 minutos do início da partida, milhares de pessoas ainda aguardavam para entrar em filas enormes do lado de fora, debaixo de chuva.
Mas um jogo numa sexta-feira a tarde e com tantos problemas na capital?
Sim. Brasil x Sérvia fizeram nesse dia o último amistoso da seleção de Luiz Felipe Scolari antes da estreia na Copa do Mundo de 2014. Nada menos que 67.042 espectadores compareceram ao Morumbi para presenciar a vitória brasileira por 1 x 0, gol de Fred aos 13 minutos do 2º tempo.
Mas peraí... Tanta gente assim com chuva e sem metrô na cidade? E aquela história de que o acesso ao Morumbi é ruim e que o estádio não é moderno?
Pois é.


Exatamente quatro anos depois e às vésperas da abertura da Copa do Mundo na Rússia, o ex-presidente da Fifa, Joseph Sepp Blatter, declarou em entrevista ao site de "O Estado de S. Paulo", que não partiu da entidade a decisão de vetar o Morumbi e substituí-lo pelo Itaquerão. O dirigente diz que apenas acatou uma decisão tomada pelo então comitê organizador local da Copa Mundo do Brasil.

"Talvez não tenha sido a melhor solução. Já havia um estádio e agora sei que esse outro estádio causou uma série de problemas. Não é bom. Agora é arrumar isso. Mas não cabe a mim julgar", enfatizou Blatter, que teve de deixar a Fifa em 2015 devido à investigações sobre corrupção na entidade máxima do futebol.

Sim, como disse o economista suíço, já havia um estádio em São Paulo. O Morumbi, que poderia ser revitalizado e atender às necessidades de uma Copa do Mundo. No amistoso entre Brasil x Sérvia, uma semana antes da abertura do torneio, ficou comprovado que o acesso ao estádio não era um entrave tão grande como muita gente dizia, já que mais de 67 mil pessoas estiveram presentes ao jogo numa sexta-feira a tarde com chuva e sem metrô na capital paulista.

Com o Morumbi eliminado da escolha, o corintiano finalmente viu seu sonho se tornar realidade com a construção de sua casa própria, moderna e nova em folha, palco da abertura do Mundial entre Brasil x Croácia.
Contudo, a dívida do Corinthians com sua arena, sem os juros, já atinge R$ 1,4 bilhão. Desse total, são R$ 450 milhões junto ao BNDES, R$ 500 milhões com a Caixa Econômica Federal, R$ 70 milhões em garantias com a empreiteira e R$ 365 milhões com a Odebrecht, a construtora responsável pela obra. Considerando juros e encargos e descontando os Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (títulos comprados por empresários para abater pagamentos de impostos), o valor sobe para R$ 1,8 bilhão.


Uma auditoria feita por conselheiros corintianos aponta que há cerca de R$ 200 milhões em serviços incompletos da Odebrecht, como por exemplo os camarotes e setores onde o clube poderia realizar eventos. A construtora se defende afirmando que o próprio Corinthians solicitou mudanças em relação ao projeto original e que tais alterações fariam o custo final da obra subir ainda mais.
Atualmente, tudo o que se arrecada no Itaquerão  é destinado para um fundo criado para o pagamento da construção do estádio. Devido a isso, o Corinthians negocia com a Caixa Econômica Federal o refinanciamento da dívida e ficar "apenas" com a parte do BNDES. Mesmo assim, se o débito junto ao BNDES não for pago, a Caixa pode tirar o controle da arena das mãos do clube. Ou seja, caso o débito privado não seja quitado, o Corinthians pode perder a propriedade sobre seu estádio, pois a Odebrecht estará livre para vender ações do fundo para qualquer outra empresa.

Em fevereiro de 2018, a Justiça Federal do Rio Grande do Sul determinou que Corinthians, Odebrecht, Arena Itaquera e um ex-presidente da Caixa teriam de devolver R$ 400 milhões aos cofres públicos, devido à uma série de irregularidades na concessão do empréstimo de mesmo valor realizado em 2013, durante a construção do estádio.
Entre outras irregularidades, constam o alto valor do financiamento, a falta de garantias concretas de que o empréstimo seria pago, a ausência de licitação para contratação da Odebrecht e o fato de que o dinheiro foi destinado a uma empresa privada criada especialmente para a construção do estádio com capital social no valor de... R$ 1 mil. Detalhe: o empréstimo foi feito em novembro de 2013, quando 90% da arena já estava concluída.

Sim, São Paulo já tinha um estádio para a Copa do Mundo de 2014. O Morumbi sempre esteve ali.
Porém, construir uma arena em Itaquera foi a melhor solução encontrada pelas pessoas que organizaram o torneio no Brasil, com o aval da Fifa.
Afinal, como disse na época Ronaldo Fenômeno, um dos membros do Conselho de Administração do comitê organizador, "Sem estádio não se faz Copa. Não se faz Copa com hospital. Tenho certeza que o governo está dividindo os investimentos".



Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 45 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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