quinta-feira, 31 de maio de 2018

O "OLHO NO OLHO" DE DIEGO AGUIRRE

"Um bom chefe faz com que homens comuns façam coisas incomuns."

A frase acima é de Peter Drucker, professor e escritor austríaco, considerado o pai da administração moderna.

O pensamento de Drucker vale também para o futebol, onde jogadores comuns, se bem liderados e treinados, podem surpreender com desempenho acima da média, se destacando mais do que jogadores de times mais badalados.

Seria o caso do técnico Diego Aguirre no São Paulo?

Sim.


O time que no início da temporada estava bastante desacreditado, agora se tornou líder invicto do Campeonato Brasileiro, com quatro vitórias e quatro empates. Em apenas oito rodadas, faz quase o mesmo número de pontos (16) que em todo o 1º turno do campeonato do ano passado (18).

Um treinador precisa de sensibilidade para entender seu time. Como não há tempo para treinamentos, devido ao pouco tempo entre uma partida e outra, o fator psicológico é uma arma essencial para estabelecer uma liderança saudável sobre cada jogador. O técnico deve ter ouvidos e olhos atentos para criar uma relação de confiança e lealdade entre todos do elenco, do goleiro ao centroavante, reservas e titulares.

E o uruguaio Diego Aguirre rapidamente conseguiu "entender" o que se passava com o São Paulo. O time, antes pacato em campo e submisso aos maus resultados, agora passou a ter o "brilho nos olhos" de seus jogadores, ganhando ou perdendo como time grande.

Diego Souza e Nenê exemplificam muito bem essa relação de confiança entre Aguirre e os jogadores, uma troca de ideias que, jogo após jogo, coloca os chamados "pingos nos ís".
Artilheiro do time com oito gols, Diego joga bem mais a vontade sob o comando de Aguirre. Fez cinco gols nos últimos cinco jogos, como um verdadeiro camisa 9 de ofício, bem diferente daquele jogador contestado quando o técnico ainda era Dorival Junior e que, por pouco, não foi transferido para o Vasco. Com o ex-treinador, Diego Souza diversas vezes sequer era relacionado para o banco de reservas. Como ponto-chave para sua recuperação, o atual artilheiro destaca uma conversa "olho no olho" que teve com Aguirre assim que o novo treinador se apresentou após a saída de Dorival.
Uma conversa franca que traduz o ambiente de hoje no vestiário: Diego Souza e os demais jogadores confiam naquilo que Diego Aguirre fala e faz.
Quem é o vice-artilheiro do time? Nenê, outro jogador que também vinha sendo questionado e que agora vive ótima fase, considerado o craque do time.
Mais do que confiar em seu comandante, os jogadores confiam uns nos outros. Estão mais unidos, mais solidários dentro de campo.


Além de treinar, Diego Aguirre faz gestão de pessoas, tão importante quanto fazer encaixar esquemas táticos. Antes de criar ou inventar um padrão de jogo, o técnico uruguaio buscou estabelecer um bem comum e uma liderança baseada pela influência e lealdade, como ilustra bem os casos de Diego Souza e Nenê. Jamais pela autoridade.

Aguirre tem agora a base de um trabalho que pouco a pouco se encaixa e pode se tornar vencedor.
Nas entrevistas, se mostra um cara aberto, se comunica bem e demonstra claramente que acredita na capacidade de seu time. Não encara o adversário sempre como favorito, "marca registrada" de seu antecessor Dorival Júnior.
O uruguaio enxerga erros e acertos. Não se defende atrás de estatísticas como posse de bola, finalizações e desarmes, na tentativa de querer "justificar" derrotas ou atuações ruins.

Com Diego Aguirre, o torcedor são-paulino voltou a criar expectativas positivas, algo que não acontecia há muito tempo. E como faz bem essa nova sensação. Devolve otimismo à torcida e o prestígio ao clube, ambos escondidos nos últimos anos.
É muito óbvio que ele não é o melhor técnico do mundo, muito longe disso. No Brasil, por exemplo, foi apenas "regular" no Internacional e fez um mau trabalho no Atlético-MG.
Mas agora fez "ressurgir" o São Paulo. Foi a primeira grande aposta do diretor Raí, que tinha de buscar um treinador com ideias novas num mercado onde quase não há novidade. Pior: Raí tinha pelo menos mais cinco ou seis nomes do mesmo nível de Aguirre.
A aposta está dando certo e o que de fato importa para o são-paulino é que, depois de tanto tempo, um treinador conseguiu "entender" o São Paulo e o time finalmente voltou a mostrar dignidade dentro das quatro linhas.

A parada para a Copa do Mundo pode atrapalhar o desempenho do São Paulo?
Sim, pode ser prejudicial para uma equipe que readquiriu a confiança e está crescendo bastante de produção. Por isso, seria natural aproveitar o bom momento para se manter no topo da tabela. Uma parada de um mês serve para descansar a equipe, entretanto também pode fazê-la "relaxar". Além do "olho no olho" com os jogadores, também é importante para o treinador "ficar de olho" e manter o "brilho nos olhos".





Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 45 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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