domingo, 27 de dezembro de 2015

A ESTRELA DE ZICO, MUITO ALÉM DO PADRÃO FIFA


Há exatos dois meses, uma segunda-feira dia 26 de outubro, Arthur Antunes Coimbra anunciou em seu programa na rádio Globo carioca que não seria mais candidato à presidência da FIFA nas eleições a serem realizadas em fevereiro de 2016. O brasileiro não poderá ser um dos candidatos porque não conseguiu a indicação mínima de cinco Confederações Nacionais, como prevê o regimento interno da entidade que administra o futebol mundial.
Arthur Antunes Coimbra. Galinho de Quintino. Ou simplesmente, Zico.
Maior ídolo da história do Flamengo e um dos maiores nomes do futebol brasileiro e internacional. Seus gols, seus passes, seus dribles, suas cobranças de falta e sua maestria ficaram famosos e na lembrança de torcedores de todo o planeta que o viram jogar. Do Brasil, passando pela Europa, até o Japão. Ficou marcado no mundo da bola pelas atuações brilhantes vestindo a camisa da seleção brasileira. D
isputou as Copas do Mundo de 1978, 1982 e 1986 e também é lembrado até hoje pelos títulos da Copa Libertadores da América e Intercontinental de Clubes, ambos conquistados pelo timaço do Flamengo de 1981 liderado por ele, único clube que defendeu no Brasil. Depois que abandonou os gramados, teve destaque como técnico da seleção do Japão nas Copas do Mundo da Ásia em 2002 e da Alemanha em 2006, sendo reverenciado até hoje no país asiático por ter ajudado a profissionalizar o futebol japonês.
Por tudo isso e por muito mais do que os números mostram, Zico já pode ser considerado o maior jogador de futebol do Brasil depois de Pelé.
No entanto, mesmo com toda essa rica história no futebol, Zico não teve as tais cartas de indicação para seguir como postulante ao cargo máximo da FIFA. De início, a tarefa até parecia possível e o ex-camisa 10 buscou o apoio de Japão, Turquia, Índia e Uzbequistão, países onde já trabalhou, além do Brasil, é claro. Não conseguiu. Por que será, não é mesmo?
Sem as cinco indicações mínimas necessárias, o ex-craque desistiu. E foi melhor assim para ele.
Por tudo o que já fez no futebol, o lugar de Zico não é sentado atrás de uma mesa lidando com os interesses de todo tipo de gente que está ligada à FIFA. Gente que deveria ter a responsabilidade de ajudá-lo a dirigir beneficamente o futebol, mas cujos anseios passam mais pelo "dinheiro no bolso" que pela capacidade de mudança para algo mais sério, profissional, justo e transparente.
O lugar de Zico sempre foi e será dentro de campo, de preferência no Maracanã, palco do tradicional "Jogo das Estrelas" que acontece pela 12ª vez no estádio que Zico mais brilhou. Ao lado de amigos e ex-jogadores como Edmundo, Alex, Júnior, Roberto Carlos, Felipe, Vampeta, Sávio, Claudio Adão, Ricardinho, Aldair, Lucas Lima, Zé Roberto, Tita, Léo Moura, Djalminha, Renato Augusto, Loco Abreu, Paulo Nunes e Ademir da Guia, entre outros. Craques, ex-craques e ídolos como ele que, de fato, ajudam as pessoas menos favorecidas através do futebol com eventos beneficentes como esse, idealizado e comandado por Zico.
Porque o Galinho tem sua vida dentro do futebol. Consolidou sua carreira de jogador como um ícone de sua geração. Sempre enxergou o futebol como sinônimo de paixão e se caso chegasse ao trono da FIFA teria que conviver com uma política duvidosa que lá está acima do esporte. O motivo das próximas eleições já é um bom exemplo. E pior: Joseph Blatter, o atual presidente que pediu renúncia e convocou as novas eleições, e Michel Platini, atual presidente da UEFA e o então principal candidato ao posto, estão suspensos do futebol por oito anos devido à indícios de corrupção.
A possível eleição de Zico como presidente da FIFA poderia sim representar a necessária reconstrução do esporte mais popular do planeta. Mas tal empreitada não vale a pena para ele, Zico, que fez 731 jogos vestindo a camisa do Flamengo, com 468 gols marcados. Que fez 72 jogos pela seleção brasileira, com 52 gols. O maior artilheiro da história do Maracanã, com 333 gols em 435 partidas. No total, foram 826 gols em 27 anos de carreira, atingindo a incrível marca de 0,7 gol por jogo. No 12º "Jogo das Estrelas", que tem ingressos a R$ 20 e onde sócio-torcedor de qualquer um dos quatro clubes grandes do Rio de Janeiro pagam meia-entrada, Zico novamente deve fazer aquilo que mais gostou de fazer na vida: estufar o "véu-de-noiva" do Maracanã, as redes caídas na diagonal e que estufam na hora do gol (algo que a FIFA também resolveu abolir exigindo que os "véus-de-noiva" fossem substituídos pelas redes retangulares e consistentes, obedecendo ao padrão das novas arenas criado pela própria entidade). 
Toda a arrecadação da festa comandada por Zico é revertida para instituições de assistência social. Ações como essas sim valem a pena para o futebol e para a sociedade. E principalmente para o eterno Galinho de Quintino, um ídolo cuja grandeza está muito além do padrão FIFA.

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