domingo, 10 de julho de 2016

A CULPA É DO MAICON?

*por Adriano Oliveira

Não importa se o zagueiro Maicon custou dois, quatro, vinte e cinco ou quinhentos milhões de reais aos cofres do Morumbi. Se tivesse vindo de graça, muita gente ainda assim estaria crucificando-o do mesmo jeito, por um suposto crime que ele não cometeu. Afinal, empurrar um jogador adversário que nitidamente está fazendo cera e retardando o andamento de uma partida tensa para os donos da casa é algo absolutamente normal, especialmente se tratando de Copa Libertadores da América.


Maicon, que é bom jogador e se mostrou um líder nato dentro de campo desde que chegou ao time, simplesmente vacilou como tantos outros já vacilaram. Outros até com mais patente que ele. Mas vacilou no calor de um jogo muito importante. O mais importante da temporada para seu clube e sua torcida.
O jogo não era válido por uma rodada qualquer do Campeonato Brasileiro, onde o São Paulo tem tempo suficiente para se recuperar. O jogo era o primeiro de uma semifinal de Libertadores e, com a expulsão, Maicon não jogará a segunda partida na Colômbia, diante do forte Atlético Nacional, o favorito desde o início do torneio sul-americano para levantar o troféu.
Sim, Maicon vacilou. Porém, talvez uma advertência com cartão amarelo fosse o mais prudente a ser feito pelo árbitro que, assim como os apitadores daqui e também do outro lado do oceano, é fraco. Longe de a maioria ser mal-intencionada, como tanta gente afirma por aí. Os árbitros, quase todos amadores, são ruins mesmo e erram para todos os lados.
E ele, Maicon, certamente deve estar arrependido. Teve uma atitude impensada, normal até devido à circunstância da partida, mas tola, infantil. Poderia ter evitado o cartão vermelho se jogasse apenas seu futebol. Lhe faltou cabeça fria e a postura necessária de um capitão para administrar a pressão e conduzir seu time pelo menos a um empate de 0 x 0 para depois apostar todas as fichas na Colômbia. Contudo, Maicon é o culpado pela eventual eliminação do São Paulo?
Por que é tão difícil compreender que um time limitado perca dentro de casa para outro que teve atuação bem mais respeitável e convincente? Por que é sempre mais fácil apontar o dedo para uma bobagem feita por um único jogador num momento de raiva, de tensão? Só por que esse jogador custou mais de vinte milhões de reais?
O São Paulo perdeu porque joga menos que o Atlético. Com ou sem Ganso. Com ou sem Maicon. De nada adianta buscar agora um "culpado" como o único causador de uma derrota, de uma eliminação. O São Paulo tentou, se esforçou, e chegou no sufoco até onde chegou na Copa Libertadores, até contra adversários bem mais inferiores, como o fraco The Strongest, por exemplo. Contra o Atlético Nacional, não deu. Porque os colombianos foram e são melhores dentro de campo. Jogam um futebol rápido, pegado, intenso, com bola pra frente.


Patón Bauza não recompôs sua defesa após a expulsão de um zagueiro, mesmo diante de um time atrevido, muito bem organizado taticamente e com postura ofensiva. E levou dois gols. Dois gols de Miguel Borja, artilheiro do Campeonato Colombiano com 19 gols, que fazia no Morumbi sua estreia pelo Atlético e que infernizou por 90 minutos os defensores são-paulinos. Além dos dois gols, o atacante colombiano ainda cabeceou uma bola na trave e, no minuto seguinte, obrigou o goleiro Dênis fazer grande defesa, entre outras oportunidades.
O São Paulo de Bauza foi aniquilado pelo Atlético Nacional de Reinaldo Rueda. Simples assim. O time colombiano é o melhor da competição e venceu no Morumbi jogando um futebol que os demais oponentes não jogam. Diante do Atlético (não o mineiro, claro, o de Medellín) o São Paulo se mostrou um time esforçado até, no entanto comum, que aos poucos começa a adquirir a cara de seu treinador. Sem a cabeça pensante de Paulo Henrique Ganso, essa realidade se torna ainda mais visível, uma vez que a equipe não se sobressai individualmente, com exceção de alguns lampejos de Michel Bastos. Na frente, o argentino Calleri pouco ou nada produziu, perdido tentando encontrar algum espaço quase impossível no meio da defesa bem postada do Atlético. Em alguns momentos da partida, o estádio lotado com mais de 60 mil são-paulinos ficou assistindo o adversário tocar a bola. A culpa é mesmo do Maicon?
O São Paulo poupou jogadores. Se preparou para essa partida. E perdeu por 2 x 0, com casa cheia. Porque o time do outro lado é muito superior. Mesmo preservando seus principais atletas, Patón não tem em mãos um time pronto, inteiramente 100%, à altura do Atlético Nacional. Tem mais camisa? Sim, claro. Mas nem a tal "camisa que entorta varal", que "tem química com a Libertadores", resistiu ao bom futebol do aguerrido time colombiano.
É mata-mata, é um jogo de 180 minutos, é futebol? Sim, é.
Sendo assim, o São Paulo está vivo. Mas está morto.




Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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