sábado, 10 de setembro de 2016

"PINTA DE CAMPEÃO"?

*por Adriano Oliveira


" - É agora que entra o meu trabalho, vou poder treinar e montar a equipe mais ou menos com a minha feição. Vamos buscar o Brasileiro, vamos brigar, vamos ser campeões."
(Cuca, técnico do Palmeiras, em entrevista após eliminação de seu time da Copa Libertadores da América e do Campeonato Paulista)

É estranho ver um Campeonato Brasileiro tão concorrido e disputado como o atual.
O torcedor se desacostumou com isso, já que, desde 2013, Cruzeiro e Corinthians navegaram sem complicações rumo ao título.
Mas o palmeirense já começa a ser brindado com uma espécie de euforia, ainda que contida pelo equilíbrio deste ano. Ao que tudo indica, parece que ainda há muita coisa pela frente, que todos os times vão continuar oscilando, aqueles que brigam na parte de baixo devem tirar pontos dos que lutam na parte de cima e tudo o mais. Porém, a essa altura do campeonato, o eficiente Palmeiras de Cuca já pode ser considerado, enfim, o time a ser batido e com mais "pinta de campeão" até aqui.
É o principal postulante ao título que não tem um craque no meio de campo com vasto repertório para armar suas jogadas. Que não tem aquele volante moderno que sabe atacar e defender com a mesma intensidade. Mas difícil comparar com outro time sua organização e disciplina tática durante boa parte dos 90 minutos. É claro que isso não significa que o atual líder do campeonato seja um time brilhante e que o pastoral Cuca seja dotado de um dom divino que lhe permita orientar sua equipe de forma tão maravilhosa que a torne imbatível.
Não. Longe de Cuca ser "Divino" como foi o mestre Ademir da Guia com a mesma camisa verde. O Palmeiras de Cuca é hoje simplesmente um time que sabe se defender e atacar sempre buscando a vitória, dentro e fora de casa. E que tem Gabriel Jesus. O que isso quer dizer? Que se o Atlético-MG, com o elenco que possui, tivesse ainda Cuca e Gabriel Jesus, por exemplo, certamente seria o líder da competição no lugar do Palmeiras. Simples assim.
Cuca não usa terno. Não tem o jeito catedrático de um Tite ou o ar professoral de um Dorival Júnior. Nem a dureza de um Muricy Ramalho ou a serenidade de um Cristóvão Borges. Ele berra, xinga, sorri, fala palavrão, se desespera com os erros do árbitro. Todavia, acima de qualquer coisa, Cuca é um conhecedor do futebol e o mais "boleiro" dos treinadores que estão brigando no topo da tabela. É um adepto do jogo coletivo, sem fazer seu time perder a capacidade de jogar para frente e fazer brilhar seus talentos individuais, como Gabriel Jesus. O ponto primordial é jogar para vencer. E isso torna seus times, diversas vezes, vulneráveis, vítimas de tropeços indesejados e inesperados no meio do caminho.
Cuca mudou o jeito de jogar de um time treinado anteriormente pelo sisudo Marcelo Oliveira. Formou um bom conjunto, sem estrelas ou vaidades, dentro de um ambiente de paz. Os jogadores confiam nele. Um time que sorri em campo, que dança quando faz gol, que celebra cada ponto junto com ele.
O palmeirense está empolgado. Seu time não possui uma lógica que dá a certeza de ser campeão, como era o Corinthians de Tite no ano passado. Por outro lado, assim como o torcedor atleticano de 2013, que tinha o mesmo Cuca dirigindo seu time na beira do campo, o palmeirense é atualmente o torcedor que mais tem motivos para "acreditar" no título. Mesmo que fantasmas voltem a assombrar, afinal, por coincidência ou por mero capricho dos Deuses do Futebol, o Flamengo está ali, logo abaixo na tabela, aterrorizando o futuro a repetir o passado, como aconteceu em 2009, algo impensável neste momento até para o mais pessimista dos palestrinos.
Cuca aprendeu mais. Está mais solidário. Basta assistir, na íntegra, uma entrevista sua. Tudo o que ele fala melhora o ambiente. Mesmo numa situação adversa, ou antes e depois de um jogo importante, seu semblante e sua fisionomia traduzem um cara "injustiçado" por anos, sempre montando equipes competitivas que não ganhavam títulos ao olhar de quem mantém a fé e acredita no que está dizendo e fazendo. É o ex-boleiro que agora está na beira do gramado pedindo calma a seus jogadores e, ao mesmo tempo, disposto a ligar o botão do "foda-se" a qualquer momento se for preciso.
Todos os treinadores possuem conhecimento, alguns mais, outros menos, uns mais qualificados, outros mais limitados. No entanto, pouca gente do meio consegue transformar conhecimento em prática, como Cuca faz nas equipes em que treina. E que está fazendo neste Palmeiras com "pinta de campeão".



Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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