quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A TRAGÉDIA DE MARRAKESH

Perplexas, atleticanas vêem a eliminação na semifinal do Mundial de Clubes

O dia 27 de novembro de 2005 pode ser considerado o segundo dia mais triste da história do Clube Atlético Mineiro. Nesse dia, em pleno estádio do Mineirão, o time então dirigido pelo técnico Tite empatou com o Vasco em 0 x 0 e foi rebaixado para a 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro, sacramentando uma temporada inteira de fracassos.
Essa data só perde em grau de tristeza para o dia 18 de dezembro de 2013, pouco mais de 8 anos depois. Certamente a “tragédia de Marrakesh” foi  mais triste para os atleticanos.
Por quê?
Num torneio por pontos corridos, um time não cai para a 2ª Divisão por acaso ou por azar. É resultado de uma campanha fraca, repleta de derrotas, da falta de planejamento, de um elenco ruim e bem abaixo da média. O rebaixamento é algo “anunciado” há rodadas antes do fim. E o tal jogo contra o Vasco somente carimbou o passaporte do Atlético-MG para a Série B em 2005, pois o descenso  já estava premeditado e o torcedor até já esperava pelo pior. É como se fosse um paciente na UTI em estado terminal, e a família já se preparando emocionalmente para uma notícia ruim.
Não foi o baque como na “tragédia de Marrakesh”. O time do técnico Cuca, que há décadas não ganhava uma competição expressiva, finalmente conquistou a difícil Copa Libertadores da América em 2013, a primeira de sua história. E a equipe de Diego Tardelli, Ronaldinho Gaúcho, Jô, Marcos Rocha, Fernandinho, Vitor e companhia não viajou para o frio do Marrocos para enfrentar um tal de Raja Casablanca. Mas viajaram para enfrentar o poderoso Bayern de Munique, de Ribéry, Mandzukic e Götze, atual campeão europeu e dono do futebol mais vistoso da atualidade.
É claro que muita gente vai enaltecer o fanatismo dos torcedores marroquinos, o entrosamento, o toque de bola e a disposição do time da casa, isso ou aquilo. Mas o fato é que o Raja Casablanca, assim como o Guangzhou Evergrande, da China, são quase cartas fora do baralho num torneio curto como o Mundial de Clubes da FIFA. Sim, são os figurantes, as “zebras”. E é exatamente por esse motivo que os clubes brasileiros (repito, brasileiros, e não sulamericanos) sofrem uma pressão absurda como se fosse “obrigação” ter de vencê-los para fazer a esperada final contra algum "bãm-bãm-bãm" da Europa. Sim, porque é certo que os europeus sempre vão estar na final, uma vez que, para eles, o Mundial da FIFA nem possui tanta importância assim. Assim sendo, eles não encaram o jogo da semifinal como o martírio que os times brasileiros enxergam.
O Atlético-MG estava visivelmente assustado contra a “zebra” Raja Casablanca desde o começo do jogo. Um time desorientado em campo, desorganizado taticamente, que sequer ameaçava com perigo o gol do time do Marrocos. Certamente um gol lhe daria a tranquilidade necessária para finalmente jogar futebol, mas quem marcou primeiro foram os donos da casa, para delírio de sua fanática torcida. Nem o belo gol de falta de Ronaldinho Gaúcho, empatando a partida, fez o time de Cuca colocar a bola no chão e tentar a virada. Os palavrões do lateral Marcos Rocha dirigidos ao treinador no momento de sua substituição, só mostravam o estado de nervos em que se encontravam os jogadores brasileiros. Aí veio o 2º gol do Raja, de pênalti (muito bem cavado) e o 3º gol já nos acréscimos, para selar a eliminação do Atlético-MG, algo então inimaginável para seu mais pessimista torcedor. Sim, o placar final apontava Raja Casablanca 3 x 1 Atlético-MG. Vergonhoso não pelo placar em si, mas pela superioridade mostrada dentro de campo da equipe marroquina sobre o atual campeão sulamericano.
O bordão “Eu Acredito”, tão usado pela torcida do Galo durante a sofrida campanha do título da Copa Libertadores, deu lugar no Marrocos para o “Não Acredito”.
E o futebol é assim. O único esporte onde o imponderável pode e sempre prega suas peças, como um típico moleque travesso. As vezes de forma surpreendente, como aconteceu em Marrakesh.
Por isso o “desastre de Marrakesh” em 2013 foi mais dolorido para a maioria dos atleticanos do que o rebaixamento em 2005.

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