sábado, 15 de fevereiro de 2014

O REAL MADRID VENCERIA UMA LIBERTADORES?

3.200 metros de altitude. 3.445 quilômetros de distância. 14 horas de viagem. Expedição? Até poderia ser.
Fora esses percalços, o Cruzeiro não imaginava o que ainda teria que enfrentar pela frente:  Dificuldade enorme para conseguir um hotel para hospedagem do elenco. A van com os jogadores, a caminho e depois já dentro do estádio, foi revistada pela polícia local. O estádio, além da falta de estrutura para abrigar jogos internacionais, não tinha água. E o gramado era muito ruim. O pior: durante a partida, o volante Tinga foi alvo de insultos racistas. A cada vez que pegava na bola, a torcida imitava sons de macacos.
Dentro de campo, o Cruzeiro perdeu por 2 x 1, de virada. Até que o time mineiro não fez uma má partida, mas perdeu o fôlego no 2º tempo por causa da altitude. Fora de campo, o futebol perdeu de goleada, pelo vergonhoso tratamento dado aos brasileiros. E uma derrota irreparável, não por causa da altitude, mas principalmente pela covarde atitude de torcedores peruanos. Porque respeito deveria ser premissa básica para qualquer ser humano, em qualquer lugar do planeta.
Agora imaginem esse cenário em outro campeonato. Bem mais glamouroso, bem mais requintado, bem mais badalado e, por isso mesmo,  bem mais endinheirado:  A Liga dos Campeões da Europa.
Alguém consegue imaginar um jogo entre dois clubes da “realeza”, cada qual com suas "realidades"? Como seria um Real Garcilaso x Real Madrid?
Na Europa, pela refinada Liga dos Campeões, o Real Madrid, como visitante,  seria recebido com flores no aeroporto e festa na chegada ao melhor hotel da cidade. Teriam uma noite tranquila de sono, com direito a entrevista coletiva no salão nobre do hotel e autógrafos para os convidados do patrocinador. No caminho para o estádio, os espanhóis seriam ovacionados pelo trajeto, escoltados pela polícia apenas para abrir passagem e evitar possíveis congestionamentos que pudessem prejudicar o fluxo normal do trânsito. Dentro da Arena, banheira de hidromassagem para os atletas relaxarem os músculos e sauna. Dentro de campo, nenhum tipo de divisão entre o excelente gramado e a plateia de espectadores, cada um devidamente sentado em seu lugar de acordo com o número do ingresso, vendido com antecedência e recebido em casa pelo serviço de entrega.
Essa é a grande diferença entre a Copa Libertadores da América e a Liga dos Campeões da Europa. Ambos os torneios de clubes mais importantes do mundo. Só que com particularidades bem distintas. Um é hostil, catimbado. O outro é sofisticado, nobre.
Alguém em sã consciência consegue imaginar o galáctico Real Madrid sendo revistado pela polícia antes de chegar ao estádio? Ou seus craques saindo de uniforme do campo de jogo direto para o ônibus para tomar banho no hotel , já que no vestiário não havia água? Passa pela cabeça de alguém que Cristiano Ronaldo, Benzema, Bale e companhia não tiveram uma boa noite de sono porque os torcedores locais passaram a madrugada inteira estourando rojões em frente ao hotel? E sem nenhum esquema de segurança? Ou que o gramado do estádio estava entupido de areia para disfarçar os buracos? Que três ou quatro policiais tenham que proteger com escudos os jogadores madrilenhos a cada cobrança de escanteio, mesmo sob um enorme alambrado na lateral do campo? Que tenha necessidade de túneis infláveis para levar os jogadores do vestiário até o gramado, de modo que não sejam atingidos por objetos jogados por torcedores? Que o departamento médico do time espanhol tenha que levar balões de oxigênio para ajudar seus craques a respirar durante a partida, por causa da altitude extrema?
Por essas e outras razões que considero a Copa Libertadores da América o torneio de clubes mais difícil e competitivo que existe. E duvido que algum clube “mauricinho” da Europa teria chances de conquistá-la em terras tupiniquins, como em Huancayo, no Peru, por exemplo.
Libertadores não é apenas um torneio de futebol continental. É bem mais que isso.
Entre os “Reais” Garcilaso e Madrid existe uma realidade bastante antagônica. Só não existe o sangue azul, apesar da “realeza” de um e do outro. O sangue  é o mesmo, vermelho para todos. Afinal, somos todos iguais, independentemente da cor da pele. Nesse ponto, infelizmente, temos exemplos de europeus e sul-americanos que ainda promovem estúpidas manifestações racistas em estádios de futebol. Mesmo em meados do século 21.

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