domingo, 29 de junho de 2014

SELEÇÃO BRASILEIRA vs A OBRIGAÇÃO DE VENCER


O técnico Luiz Felipe Scolari disse em entrevista depois do penoso jogo contra o Chile que "os brasileiros estão muito bonzinhos, muito cordiais com os estrangeiros" e que "é preciso mudar isso".
Sim, concordo. O brasileiro, de um modo geral, é sempre cordial demais com os estrangeiros e não recebe o mesmo tratamento quando é o visitante. Em jogos da Libertadores, por exemplo, oferece tratamento quase vip em casa e recebe pedrada e cusparada lá fora.
Mas o que realmente o Felipão precisa fazer, e logo, é mudar a mentalidade de sua equipe. Ou de sua "família Scolari", como queira. É preciso urgentemente aplicar um choque psicológico em cada jogador, tirar das costas de cada um a obrigação de ganhar a Copa dentro de casa.
Se essa mudança não acontecer, cada jogo da seleção brasileira será angustiante, sofrido, mais estressante do que o normal. Exatamente como foi contra o Chile, mais franco-atirador do que um time forte. Cada vitória será baseada no erro do adversário e não por méritos do Brasil.
O time do Felipão, desde o primeiro jogo contra a Croácia, joga nervoso, tenso, porque não pode perder de jeito nenhum a Copa dentro do Brasil pela segunda vez. O time não joga para conquistar a Copa do Mundo. Joga com o objetivo primordial de não perdê-la.
Imagina o que se passa na cabeça de Neymar, um jogador de apenas 22 anos e que carrega a cada partida a responsabilidade depositada sobre ele por 200 milhões de brasileiros? Além do fardo mais pesado do mundo que é o depositado pela mídia a cada confronto?
Neymar será o herói da conquista ou o vilão do fracasso. E o menino não joga na seleção de 1982, onde os chamados "coadjuvantes" do time de Zico eram bem mais qualificados e decisivos do que os atuais coadjuvantes. Ele não recebe a bola de um Falcão ou de um Junior.
E aquela seleção de 82, mesmo sem conquistar a Copa, entrou para a história porque jogava para ganhar. Arriscava tudo. Abusava do talento. Jogava para frente. Com sede de vencer. Diferentemente da seleção de Neymar, que joga para não perder.
Enquanto a seleção brasileira de 2014 jogar com a obrigação de vencer a Copa, não será simplesmente a favorita.
Até porque o brasileiro não apóia. Se o time não está bem, a torcida brasileira joga contra. Faz festa quando a seleção vence. E destrói cada jogador quando perde. O eterno complexo de vira-lata de um Estado que não consegue ser uma nação de verdade, que parece só estar junto nas vitórias. A "pátria de chuteiras" fica descalça nas derrotas.
A partida diante do Chile mostrou que a seleção quase sucumbiu à pressão. A decisão por pênaltis foi uma tortura para cada jogador, principalmente para o goleiro Julio Cesar, tão contestado por ser o símbolo da eliminação da Copa de 2010. Seu choro antes das penalidades deixou claro a enorme pressão que existe por todos os lados. Da torcida à imprensa.
A caminhada de cada jogador, do meio de campo para a área antes de cada cobrança, é como um boi indo para o corte, para o abate. O jogador sabe que sua carreira será marcada no instante em que ele chutar a bola, para o bem ou para o mal. Passa um filme pela cabeça de cada um. Assim como passou o filme de 2010 pela cabeça de Julio Cesar, com requintes de crueldade. "E se eu falhar de novo?", deve ter pensado o goleiro no momento em que estava aos prantos.
Não existe nesse Mundial uma seleção tão melhor ou mais competitiva que a brasileira.
Se Felipão conseguir mudar o aspecto emocional, o craque de seu time vai voltar a jogar do mesmo jeito que jogava na base do Santos. E o hexa virá naturalmente. Por que o talento sempre prevalece.
Para ser campeão dessa Copa, não basta apenas ser mais "agressivo" contra os estrangeiros, como sugere o treinador.
É preciso estar preparado para ser campeão. Principalmente no Brasil.

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