quinta-feira, 19 de maio de 2016

NO HORTO, O "CARA DA TORCIDA" NÃO ESTÁ MORTO

*por Adriano Oliveira


Diego Lugano tomou a decisão de retornar ao São Paulo na noite de 11 de dezembro de 2015.
Aclamado por mais de 60 mil vozes no Morumbi, na festa de despedida de Rogério Ceni, o veterano uruguaio de 35 anos sentiu na pele que tinha de voltar pela torcida, por ele próprio e por sua carreira. Não era o "reforço do presidente" de doze anos atrás, porém era mais que isso. Era o "cara da torcida". Pouco mais de cinco meses depois, Lugano entendeu que fez a escolha certa ao sentir novamente na pele o quanto era importante a volta do respeito e do prestígio aos inflamados corações são-paulinos. Na noite de 18 de maio de 2016, dentro do acanhado porém pulsante estádio Independência, o uruguaio olhava fixamente para a grande área. A bola foi alçada, veio o empurra-empurra frenético e apenas uma cabeça subiu mais alto que todas. O arremate, forte e certeiro como um chute, culminou com a bola dentro do gol do atleticano Victor. Lugano pula, corre, vibra e sorri abraçado a Patón Bauza. Era a cena que o são-paulino tanto imaginou em dezembro de 2015. Um gol decisivo de "Díos" na Copa Libertadores. Mas Lugano estava comemorando fora do campo, como reserva de Maicon, zagueiro brigador como ele, que chegou sem a mesma pompa do ídolo uruguaio, mas que a cada semana se firma como o novo "cara da torcida".
O Atlético-MG era o favorito dos brasileiros desde o começo. O São Paulo, no sufoco, só conseguiu a classificação para as oitavas-de-final na última partida da fase de grupos diante do fraco The Strongest, na altitude de La Paz. Um empate "heróico" cujo "herói" foi Maicon, que até jogou de goleiro nos minutos finais. A partir daí, o time do Morumbi ganhou a confiança de que tanto precisava. No 1º jogo das oitavas, o time de Ganso, Maicon e Michel Bastos goleou impiedosamente por 4 x 0 o temido mexicano Toluca, no Morumbi. Enquanto isso, o "favorito" Atlético-MG de Robinho e Lucas Pratto, criou apenas duas chances de gol num insosso empate de 0 x 0 diante do Racing. No duelo entre ambos pelas quartas-de-final, o São Paulo continuou fazendo a lição de casa e deixando de fazer fora, é verdade. Venceu por 1 x 0 no Morumbi num jogo mais brigado que disputado. E perdeu por 2 x 1 no Horto, com a partida sendo decidida em menos de 15 minutos. No entanto, dessa vez o gol salvador de Maicon deu sabor de vitória à derrota. O Atlético-MG caiu engrandecido pela valentia do time adversário, porém com a sensação de que o "Eu Acredito" nas arquibancadas está bem mais desacreditado que antes e a certeza de que rojões durante a madrugada podem não fazer diferença dentro das quatro linhas.


Aos 27 anos, o zagueiro que está emprestado pelo Porto até junho, é talvez o maior protagonista de um time quase eliminado na fase de grupos e que, no sacrifício, chegou a semifinalista da Copa Libertadores. Seu gol no "Horto dos Milagres", que tanto glorificou o inquilino Atlético-MG em viradas épicas nos tempos recentes, é o mais importante dessa trajetória até aqui, que alavancou mais uma etapa do time no torneio sul-americano.
Maicon é aquele zagueiro aplicado como Diego Lugano, obediente à função tática determinada por Bauza, disposto a dar o sangue dentro de campo pela vitória e com o tempero do bom e velho futebol de várzea. Um beque de fazenda que deu certo. No São Paulo, deu muito certo. A ponto de o torcedor são-paulino sequer cogitar o ídolo "Díos" em seu lugar como titular.
O São Paulo quase morreu, renasceu e agora está mais vivo do que nunca. E ressurgiu com a vontade, a personalidade e, principalmente, com o brilho nos olhos de Maicon.
O "cara da torcida" que se tornou a luz nas trevas da atual temporada.



Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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