terça-feira, 3 de maio de 2016

VICIADA EM JOGOS DO MUNDO INTEIRO, ELA AMA O FUTEBOL MAIS DO QUE A RIVALIDADE

*por Adriano Oliveira

Michelle Mentzingen tem 28 anos, é carioca da gema, mas detesta praia e prefere o frio da montanha. Advogada por profissão e escritora por emoção, se desafoga escrevendo em blogs sobre a vida em geral. Não tem esporte que não assista e não queira aprender suas regras. Gosta de ler, de correr e de cozinhar nas horas vagas, além de degustar um bom vinho. Viciada em futebol, possui uma coleção de camisas de clubes do mundo inteiro, que vai do Liverpool ao Juventus da Mooca. Também confessa orgulhosamente "que adora passar qualquer minuto possível gastando as pilhas de seu controle remoto pulando de jogo em jogo, até os do Campeonato da Moldávia".
Leia abaixo um pouco mais do que pensa essa "sportsjunkie" apaixonada pelo futebol bem jogado, "que jamais deixa de lutar por aquilo que acredita, não importa o que seja".



- Quando e como surgiu essa paixão pelo futebol?
Lembro de sempre ouvir meu pai conversando sobre futebol. Uma lembrança nítida que tenho é de uma senhora, vizinha, dando ao meu irmão uma toalha do América-RJ, time que ele torcia quando criança. Eu tinha uns 4 anos de idade e coisas que envolviam futebol sempre me chamaram a atenção.

Acredito que tenha sido na Copa de 94 e na final do Carioca de 95, com o gol de barriga do Renato Gaúcho, que me apaixonei de vez e passei a acompanhar mais na medida que entendia mais.

- Você é apaixonada pelo futebol, acima de qualquer rivalidade. Quais são os seus times do coração?
De fato sou mesmo! Time de berço é o Fluminense. Como sou “sportsjunkie”, acabei seguindo um time em cada campeonato que passei a acompanhar. São eles: Bayern de Munique, Juventus, Liverpool e Real Madrid. Acompanho o São Paulo desde que o Fluminense caiu para a Série C, por afinidade (tricolor).


- E para quais times a Michelle não torce jamais?
Chelsea, Everton, Barcelona e Lazio.


- Quantas camisas de clubes você tem? Cite algumas.
Contando com camisas de seleções, são 23. Excluindo estas, são 18. Tenho de todos os times que citei torcer. Outras como do Fulham, Juventus (SP), Operário (PR), Paraná Clube, Arsenal...

- De onde vem tanta inspiração para falar de futebol com tanto conhecimento nas redes sociais?
Sempre gostei de conversar e aprender. Sou curiosa. Gosto de ler sobre os times, aprender sobre as táticas e estilos de jogos. Prefiro ler do que assistir a programas de debates esportivos. É um assunto que amo falar, então acabo usando as redes sociais como uma forma de expor o que penso e, principalmente, como uma forma de escape do dia a dia atribulado.


- Jürgen Klopp ou José Mourinho?
Sou Kloppista. Inclusive minha camisa do Liverpool é dele. “Normal One”.


- Qual é o campeonato mais competitivo do mundo? E qual você mais acompanha?
Vejo a Premier League como o mais competitivo. Os que mais acompanho são a Bundesliga e a própria PL.


- Quem gosta de futebol como você também aprende a gostar de História e Geografia?
Não necessariamente. Gostaria de dizer que sim, mas não vejo muitas pessoas indo além das quatro linhas do gramado. Eu particularmente gosto muito de aprender sobre as peculiaridades regionais, história do estádio, cultura em geral.


- Já sonhou um dia em ser comentarista de futebol? E jogadora?
Não tenho tal pretensão! Sou comentarista de roda de amigos, nada além disso! Sonho de ser jogadora eu não tive, mas isso se deve ao fato de eu ser extremamente péssima em esportes coletivos. Meu sonho na verdade é saber fazer embaixadinhas, meu professor particular logo dará conta dessa parte (risos).


- Se fosse presidente da República, a Michelle faria uma Copa do Mundo e uma Olimpíada no Brasil?
De forma alguma. Eu teria que colocar a casa em ordem antes de pensar nisso. Não faria com a nossa realidade socioeconômica e política atual. Temos graves problemas, inclusive sanitários, a cuidar. Um evento de grande porte como este precisa de responsabilidade fiscal e de comprometimento. Infelizmente não temos competência para sediar tais eventos sequer com locais adequados, quanto mais com o orçamento planejado de forma transparente.


- 7 x 1 foi pouco ou apenas um acidente? De quem foi a culpa?
Foi pouco, mas foi inócuo. A culpa não é só de um na verdade. Temos uma cultura de desvios, mandos e desmandos, convocações por interesses e uma série de falcatruas que começam na FIFA e terminam no roupeiro do time da série C de sei lá onde. É toda uma estrutura corrompida que só se extinguirá quando quem puder extinguir for aquele que tem, além de competência, caráter.


- Qual clássico lhe dá mais frio na barriga: Barcelona x Real Madrid, Celtic x Rangers, Liverpool x Manchester United, São Paulo x Corinthians ou Flamengo x Fluminense?
Fla-Flu. Eternamente.


- Você lê e assiste tudo sobre futebol?
Até as notas de rodapé. Até campeonato de futsal da Espanha. Ou seja, sim.


- Qual é o seu jogo inesquecível?
Pelos motivos de muito sofrimento e choro, final da Libertadores de 2008, Fluminense x LDU.

- Qual dos três Ronaldo’s foi melhor? O Fenômeno, o Gaúcho ou o Cristiano?
A bem da verdade, nenhum dos três possui essencialmente as mesmas características, físicas ou de estilo. Os três são geniais, cada um a seu modo. Mas dos três vejo o Cristiano Ronaldo como o melhor, até por ser o mais contestado deles.


- O que há de melhor e de pior no futebol brasileiro na atualidade?
De melhor, hoje, na verdade, é extracampo: a paixão dos torcedores e o modo como cada vez mais se engajam em demonstrar amor pelo clube e solidariedade pelo adversário quando necessário.
De pior, que ainda uma parcela tanto dos torcedores quanto dos dirigentes pense que futebol é “terra de ninguém”, que vale tudo, pode tudo. Que resumam várias ofensas e até mesmo crimes a “picuinhas normais de torcida”. Que tratem o futebol como um negócio sem escrúpulos.


- Quem você escolheria hoje para ser técnico da seleção brasileira?
Juan Carlos Osório.


- Certa vez vi um famoso comentarista esportivo de rádio e TV afirmar que 80% dos jogadores desconhecem as regras do futebol. Você acha que todos os atletas profissionais deveriam fazer curso de arbitragem?
Acredito que 80% dos árbitros desconheçam tais regras, quanto mais os jogadores. Se nem nossos legisladores são obrigados a cursar Direito, jogadores não deveriam ter que fazer curso de arbitragem. Devem sim ser orientados por seus técnicos a como se portar em campo. A comissão técnica sim tem obrigação de saber.


- Libertadores da América ou Champions League?
Nada se compara a Libertadores!


- Qual veículo de comunicação cobre melhor o futebol: rádio, televisão ou internet? Quais as principais diferenças entre esses meios?
Internet. Rádio e televisão se equiparam na forma como passam a notícia: direcionam de uma forma que a seleção fica por conta de quem produz; a internet, por mais que tenha o conteúdo direcionado e gerido da mesma forma, tem um leque muito maior de opções, além de ser mais rápido.


- Está proibido para um atleta comemorar um gol “zombando” da torcida adversária e também que ele tenha comemorações consideradas “exaltadas”. O futebol está cada vez mais chato?
Não neste sentido. Acredito que o jogador não precise zombar da torcida ou ter uma comemoração exaltada no sentido de desrespeito para demonstrar satisfação com o gol feito. É como gostar do futebol além da rivalidade: é preciso saber respeitar o espaço do outro. Comemora sim, grita sim, dança, pula. Mas não precisa “entrar no quadrado alheio” para isso não!


- Pep Guardiola ou Massimiliano Allegri?
Allegri (detesto o Guardiola).


- Quem é seu ídolo no futebol?
Zinedine Zidane.


- “Mão na bola ou bola na mão” é sempre pênalti dentro da área?
Não. Depende da posição do braço, da clara intenção da jogada.

- O que você acha do crescente número de ex-jogadores como comentaristas de futebol? Prefere ex-atletas ou jornalistas?
Nada contra os que estudam e se especializam para fazer isso, tanto jornalistas quanto ex-atletas. O problema é que o comentário não pode vir de quem viveu o futebol somente dentro de campo; é preciso se preparar e o que muito vejo são ex-atletas vivendo de achismos em suas opiniões.


- Caio Ribeiro ou Roger Flores comentando?
A TV no mudo.


- Você gosta mais do futebol de clubes ou de seleções?
Clubes. As Seleções não se formariam sem eles.


- Na sua opinião, o que poderia ser feito para melhorar o calendário do futebol brasileiro?
Se mudássemos as datas para bater com as do calendário europeu já ajudaria bastante. Limitássemos o número de jogos também. A luta do Bom Senso* é uma luta bem digna neste sentido.

Nota: *Bom Senso F.C. é um movimento, criado em 2013, por jogadores profissionais de grandes clubes do Brasil, que cobra melhores condições no cenário do futebol brasileiro em geral.


- Você é a favor da continuidade dos torneios estaduais ou acredita que a recém-criada Primeira Liga, com times paulistas e nordestinos, seja o formato ideal de pré-temporada?
A Primeira Liga enquanto novidade teve um impacto maior em relação a público e a deixar claro especialmente que Flamengo e Fluminense peitaram a FERJ. Nisso, é um grande trunfo desse campeonato. Mas não vejo os estaduais acabando, por mais que os jogos estejam cada vez mais vazios. É preciso chamar a torcida novamente. Então não sou contra nem manter os dois concomitantemente. Mas se for para ter um só, que sejam os estaduais, reformulados e com mais comprometimento de todos, desde os times até o torcedor.


- Rivaldo foi eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo em 1999, superando o inglês David Beckham. Ao lado de Ronaldo Fenômeno, o meia também foi destaque na seleção brasileira pentacampeã mundial de 2002. Você acha que Rivaldo não teve o reconhecimento que merecia em sua carreira? Por que?
Não diria que o Rivaldo foi injustiçado mas talvez ele tenha sido durante todo o tempo "patinho feio" da turma no sentido de sempre ter um “maior” que ele, as vezes nem tanto aos olhos do torcedor, mas da imprensa esportiva. Foi um baita jogador e teve um final de carreira indigno para a sua grandeza, isso sem dúvida. Hoje é visto como um dos grandes da que tenha sido talvez a última geração canarinho que realmente deu orgulho como um todo.

- Qual é o jogador que mais te decepcionou? E o treinador?
Posso dizer que tive uma decepção grande com o Ronaldinho Gaúcho, era para ele ter sido um dos nossos gênios e encerrado a carreira tal qual o Rogério Ceni, com tamanho reconhecimento. Mas não soube a hora e nem como parar. Quanto ao treinador, para ser decepção eu tenho que ter esperado algo dele. A bem da verdade, se eu me basear nisso, minha última grande decepção foi a última passagem do Muricy pelo São Paulo.


- Taticamente, qual foi o melhor time que você já viu jogar? E a seleção?
Seleção aplicadíssima taticamente de exemplo recente é a da Alemanha da Copa de 2014. Time certamente o Milan dos anos 90.


- Guardiola e Sampaoli se ofereceram recentemente para treinar a seleção brasileira. Qual dos dois treinadores você escolheria e por que?
Sampaoli. Ele é um técnico menos invencionista, vai no óbvio quando tem que ir. Temos jogadores que comportam o 3-3-1-3 que ele tanto gosta de usar. Fora o fato de que ele preconiza a união dos jogadores desde o amadorismo. Ele é rígido, mas não é de uma forma a se impor pelo medo. Agradaria mais aos olhos de nossa torcida por ser latino e ter o nosso sangue quente e passional.


- Dunga ou Luiz Felipe Scolari?
Felipão antes da cartinha da Dona Lucia.


- O que é fundamental para se alcançar o equilíbrio entre defesa e ataque?
Bola no chão. Saber para onde se quer levar a bola, mas não na base do chutão, “o negócio é mandar para frente”. Precisa de um meio de campo que saiba fazer a transição entre defesa e ataque de uma forma cadenciada, jogadores que pensem o jogo. Como dizia Cruyff, "o futebol é um jogo que se usa os pés mas se joga com a cabeça!"


- Qual foi o legado deixado pelo Copa do Mundo no Brasil?
Que as coisas podem não ser tão ruins como se esperava que fossem num primeiro momento, mas que com certeza muito do errado feito para que ela acontecesse apareceria posteriormente, como apareceu. Deveríamos aprender com as deficiências que ficaram gritantes, mas dois anos depois vemos que não mudou grande coisa ainda.


- Muricy Ramalho ou Levir Culpi?
Levir Culpi – não, não é por ser o atual técnico do Fluminense, é por estilo mesmo.

- A Michelle já chorou por causa de futebol?
Mais vezes do que consigo lembrar.


- Jogador pode fazer de tudo, desde que não atrapalhe seu rendimento dentro de campo?
Se não atrapalhar o rendimento e não o comprometer de alguma forma contrária a alguma política interna de seu clube, sim.


- Cite três momentos marcantes do futebol em sua vida.
Final do Campeonato Carioca de 95, Fluminense 3 x 2 Flamengo, gol de barriga do Renato Gaúcho;
Copa de 2014, fui no jogo Equador x Honduras e é algo indescritível interagir com tantos turistas e ter feito parte desse evento;
O “Esquadrão Imortal” do Bayern de 2011 a 2013 que conquistou a tríplice coroa: campeão da Liga dos Campeões da UEFA (2012-2013), Campeão Alemão (2012-2013), Campeão da Copa da Alemanha (2012-2013) e Campeão da Supercopa da Alemanha (2012).


- Mata-mata ou pontos corridos?
Mata-mata. É um infarto por rodada.


- Flamengo e Corinthians são mais falados porque têm mais torcida ou têm mais torcida porque são mais falados?
Um complementa o outro. Nasceram e cresceram em nosso país como clubes que são próximos do povo em todas as classes sociais. Começaram a ser mais falados pela enormidade de sua torcida e hoje têm mais torcida por serem mais falados.


- Lionel Messi é ou será o maior jogador de todos os tempos?
Não acho que seja o maior jogador de todos os tempos e penso que será um dos, não o maior jogador de todos os tempos. Existem outros tão geniais quanto e até contemporâneos dele.


- A Michelle gosta de provocar ou prefere o fair-play?
Curto uma catimba, uma embaixadinha antes do toque, mas o fair-play é de lei. Precisa existir, é sinal de respeito e de que nos importamos com o jogo e com quem o joga.


- Santiago Bernabeu, Juventus Stadium, Morumbi ou Maracanã?
Escolha de Sofia! Maracanã, pelo simples fato de ser a casa do mundo todo!


- Você é a favor de torcida única em dias de clássico?
De forma alguma.


- Romário ou Neymar?
Neymar.

- Prefere ver seu time perder a jogar mal ou o que de fato importa são os três pontos?
Dadá Maravilha já dizia "que não existe gol feio; feio é não fazer gol". Jogar mal e ganhar o jogo mesmo assim faz parte do jogo. Mas não podemos analisar uma partida somente por seu placar, jamais.


- Você é a favor de recursos eletrônicos na arbitragem?
Absolutamente sim.


- Marta foi eleita pela FIFA a melhor jogadora do mundo por cinco vezes. Por que, mesmo assim, o futebol feminino não emplacou no Brasil?
Falta de boa vontade de patrocinadores e especialmente da nossa amada CBF que é quem detém o poder de mudar a situação e nada faz.


- Paulo Henrique Ganso é ou não é craque?
Craque, inconstante, mas craque.


- Apesar de as mulheres estarem cada vez mais presentes, você acredita que o futebol ainda é um meio machista?
Infelizmente sim. Nenhuma mulher consegue ir ao estádio sem a companhia de um homem por medo do que pode acontecer. E é só ter uma opinião contrária em alguma rede social que já aparece alguém nos mandando lavar louça. Eu mesma canso de ler que minhas opiniões não são minhas, alguém dita o que escrevo (risos).
Graças a Deus eu consigo lavar louça enquanto vejo futebol, então acho que estou bem!


- No Brasil, Ayrton Senna é mais querido que Pelé?
Sim. E menos polêmico também. Pelé infelizmente fora de campo acabou se tornando uma figura muito contestada por suas opiniões e posicionamentos. O Senna não é unanimidade, mas passa perto disso. Especialmente entre a geração mais jovem.


- Que lições o futebol traz para sua vida pessoal e profissional?
Que temos que ter responsabilidade. Um bom par só pode ser um bom par se for antes um bom ímpar. Precisamos descobrir nosso lugar em campo/no mundo e fazer dele o melhor possível. Nosso senso de coletividade não pode ser ameaçado pelo egoísmo. Precisamos ter visão de jogo, garra e vontade de superar qualquer jogo ruim. O campeonato é longo, a estrada da vida também. Time algum vive só de vitórias. Pessoa alguma só ri; o choro faz parte. Mas o que hoje pode ser o choro de uma derrota amarga, amanhã pode ser o da mão na taça. Basta perseguirmos isso.


- Qual é o maior sonho da Michelle Mentzingen?
Ser a pessoa que a Michelle de 5 anos de idade teria orgulho quando pensasse “eu quero ser como ela quando eu for adulta”. Somos seres falhos, estamos aqui para aprender. O sonho da Michelle é evoluir sempre sem pisar em ninguém. E ser feliz mesmo quando a drenagem do gramado falha e a bola pára na poça.







Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

Nenhum comentário: