segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O QUÊ MUDA COM A SAÍDA DO TITE E A CHEGADA DO MANO?

Em pouco mais de três anos no Parque São Jorge, Tite conquistou 5 títulos pelo Corinthians: um Paulista, um Brasileiro, uma Libertadores, um Mundial e uma Recopa-Sulamericana. Um deles, a Copa Libertadores da América de 2012, foi uma conquista inédita nos 103 anos de existência do clube, que encerrou com a quase eterna gozação dos rivais. Em qualquer parte do planeta, neste momento o contrato de Tite seria renovado por, pelo menos, mais duas temporadas. Ao contrário do que o profissionalismo sugere, Tite e o presidente do Corinthians, Mario Gobbi, concederam entrevista coletiva na sexta-feira 15/11 para anunciar “o fim do ciclo” da chamada “Era Tite” no time que consagrou e que o consagrou. Mesmo com o dirigente corintiano fazendo questão de afirmar o tempo todo que a saída do treinador é apenas um "até breve", é claro que seu desligamento deve ter criado algum tipo de mal estar. É natural, afinal, quem não ficaria pelo menos chateado em ser dispensado por um clube mesmo depois de 5 títulos ganhos em 3 anos e meio de trabalho? E títulos expressivos, internacionais, como a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes, por exemplo.
Só para se ter uma idéia do quanto significaram tais títulos, no começo da temporada de 2013 e após a volta do Japão com o troféu do Mundial a tiracolo, muitos corintianos pediram à diretoria que Tite fosse efetivado de forma vitalícia no posto de treinador. Nunca um técnico foi tão ovacionado por uma torcida, mesmo jogando um futebol feio, sem brilho, sem plástica, sem graça, porém eficiente. O futebol feio e de extrema marcação praticado pelo Corinthians, que priorizava o resultado, era sinônimo da “Titebilidade". Uma filosofia que o treinador procurava explicar com esquemas táticos, termos técnicos e até um certo exagero na busca por palavras difíceis, utilizando de certo modo uma linguagem até culta demais para a torcida do chamado “time do povão”. Mas a tal “Titebilidade” engrenava e fazia o time passar de fases, fazia o time se sobressair, conquistava títulos. Jogos que terminavam em 0 x 0, 1 x 1, e com vitórias magras, geralmente por 1 x 0 ou 2 x 1. Isso não importa. O resultado final sempre era o mais precioso. Até que no 2º semestre de 2013 veio a síndrome do "Empatite", o famoso trocadilho utilizado para mostrar o grande número de empates da equipe.
Contrariando todas as otimistas apostas de grande parte da mídia, o time de Tite desandou neste Brasileirão. De largamente cotado a favorito para erguer o troféu, o Corinthians fez uma campanha bem abaixo da média e do que se esperava do “campeão do mundo”, empatando demais, sem conseguir fazer gols e perdendo jogos bobos, mesmo dentro do Pacaembu. E não apenas não conseguiu sequer vaga para a Copa Libertadores de 2014, como também somente conseguiu se livrar do risco de rebaixamento a quatro rodadas do fim do campeonato. Nada mais funcionou neste Brasileirão como funcionava antes. E até jogadores antes idolatrados pela torcida, como Danilo e Emerson Sheik, foram duramente questionados pelo mau desempenho neste 2º semestre.
Tite perdeu o comando que sempre teve sobre o elenco. Talvez tenha perdido também o "vestiário", um ambiente sagrado para os jogadores, tão vital no mundo do futebol para manter a harmonia entre comandante e comandados. Em 2013 também houve desentendimentos nos bastidores, como no episódio que culminou com a saída de Jorge Henrique, por exemplo. Algo que nunca acontecera antes.
E ficou complicado para Tite cobrar os jogadores a cada rodada, depois dos importantes títulos conquistados recentemente. A desconfiança surge e os argumentos vão acabando. Esvaziam-se. Motivar um elenco vitorioso se torna um desafio, algumas vezes inglório para o comandante, que sabe que um trabalho somente sobrevive de resultados positivos.
Tite sentiu a pressão. Não aquela pressão da derrota vergonhosa para o Tolima, na Pré-Libertadores de 2011. Mas a pressão voltou. A torcida apoiou treinador e jogadores mesmo após a eliminação para o Boca Juniors nas oitavas-de-final da Libertadores deste ano. Contudo, passou a cobrá-los com o rendimento ruim no Brasileirão, vendo a vaga no torneio sulamericano ficando cada vez mais distante e a zona de descenso cada vez mais próxima.
Sem conseguir criar algo novo e motivador para melhorar a situação do time, Tite teve que aceitar a não-renovação de seu contrato. Fez até juras de amor ao Corinthians, afirmando que "no Brasil não dirige mais nenhum outro time". Será mesmo, Adenor? Ou só o tempo dirá? Na entrevista coletiva ao lado do presidente Mario Gobbi (que beirou a hipocrisia), apenas agradeceu a torcida e o clube pela gestão em conjunto.
Mesmo com Tite ainda no comando até dezembro, o clube já fechou com Mano Menezes para 2014, técnico que devolveu o Corinthians para a 1ª Divisão em 2008. Mas cabem aqui as perguntas: o quê Mano Menezes tem de diferente em relação à Tite? Por quê acreditar que, com Mano, o time vai voltar a render? O quê Mano vai acrescentar na continuidade de um projeto que Tite teve êxito? Ambos são mais ou menos equivalentes no jeito de pensar o futebol (leia-se retranqueiros de ofício). E certamente Tite até se sobressai em relação à eficiência de padrão de jogo.
Mano Menezes também é bastante querido no Parque São Jorge, mas vem de passagens frustradas por seleção brasileira e Flamengo. Nada ou quase nada pode ou deve mudar na maneira de jogar do Corinthians para a próxima temporada. Resta apenas aos corintianos a esperança de que o novo técnico consiga "motivar" mais o elenco do que seu antecessor. Porque tanto Mano quanto o time do Corinthians precisam de uma boa dose de injeção de ânimo para a próxima temporada. Porém, a sombra de Tite estará sempre pairando no Centro de Treinamento, especialmente nas derrotas.
Enfim, tecnicamente não vejo nenhuma reformulação a vista.

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