sábado, 16 de novembro de 2013

UM POUCO MAIS SOBRE TITE, O MAIOR TREINADOR DA HISTÓRIA DO CORINTHIANS


Adenor Leonardo Bachi, gaúcho, 52 anos, mais conhecido como Tite. Ex-jogador  e atualmente técnico de futebol há 23 anos. Como jogador, teve uma carreira sem brilho, atuando por times como Caxias, Esportivo, Portuguesa e Guarani. Uma carreira curta, de 11 anos, que terminou em 1989 devido a sérias lesões no joelho. Como treinador, também começou de forma apagada, em times inexpressivos do sul do país, até chegar ao Grêmio, em 2001, o que lhe abriu as portas para o grande mercado do futebol em nível nacional: desde então, dirigiu ( além do Grêmio)  São Caetano, Atlético-MG, Palmeiras e  Internacional, mais duas passagens pelo futebol árabe e, finalmente, o Corinthians, também pela segunda vez, a  primeira em 2004 e agora desde 2010.
A ida de Tite para o Grêmio em 2001 foi marcada por um fato histórico no ano anterior, que chamou a atenção dos gremistas. O Caxias, então comandado por  Tite, fez a final do Campeonato Gaúcho de 2000 justamente contra o favoritíssimo Grêmio, de Claudio Pitbull e Ronaldinho Gaúcho. No primeiro jogo das finais, dentro de casa, o Caxias venceu com propriedade o Grêmio pelo placar surpreendente de 3  x 0. Na grande final, disputada no lotado estádio Olímpico, o empate de 0 x 0 dava ao clube do interior o título gaúcho, desbancando Ronaldinho e cia. Foi o primeiro grande triunfo do técnico Tite.
No Grêmio, Tite conquistou o Campeonato Gaúcho e a Copa do Brasil de 2001. Foi para o São Caetano, então um time que encantava o país na época, e em 2004 chegou ao Parque São Jorge, encontrando um Corinthians quase na zona de rebaixamento do Brasileirão. Com Tite,  o time reagiu e terminou  em 5º lugar na tabela. De temperamento forte, o treinador desentendeu-se com o iraniano Kia Joorabchian, que investia muito dinheiro no clube através da “misteriosa” MSI, responsável pela formação de um elenco milionário, liderado pelo craque argentino Carlitos Tevez. Tite foi demitido por Kia, que contratou o também argentino Daniel Passarella para treinar a equipe “galáctica” que ganhou o Brasileirão de 2005, conhecido pelo escândalo da manipulação de resultados pela arbitragem  (2 anos depois, com fortes suspeitas de  lavagem de dinheiro, os investidores deixaram o Corinthians e o clube foi rebaixado para a 2ª divisão).
Tite teve passagens apagadas por Atlético-MG e Palmeiras, inclusive com o rebaixamento do clube mineiro em 2005.
Foi então para o milionário futebol árabe e , em 2008, voltou ao Brasil para comandar o Internacional.  Novamente no sul, conquistou a Copa Sulamericana daquele ano e o Campeonato Gaúcho de 2009, além de ser vice-campeão da Copa do Brasil de 2009, perdendo a final para o Corinthians, de Ronaldo Fenômeno.
Volta para o futebol árabe e, com a demissão de Adilson Batista e a liberação do Sheik, retorna ao Corinthians. Pela 2ª vez no Parque São Jorge, conheceu o Inferno para depois chegar ao Paraíso. A eliminação na Pré-Libertadores de 2011 para o modesto Deportes Tolima-COL, foi o momento de maior tensão e pressão sobre Tite. Desconfiada, a torcida hostilizava o time, o que culminou com as saídas de Roberto Carlos, Bruno Cesar, Jucilei, Dentinho e a aposentadoria de Ronaldo Fenômeno. O Corinthians também perdeu o título paulista daquele ano para o Santos, de Neymar e Ganso. Em frangalhos e sob forte pressão, coube  a Tite a reformulação do elenco e do padrão de jogo. Com Liedson, Ramirez e Adriano “Imperador”, mais um esquema tático de gosto “duvidoso”, porém eficiente, Tite começava seu ciclo vitorioso e histórico dentro do Corinthians.  Veio o Campeonato Brasileiro de 2011, conquistado na última rodada. Em 2012, o auge do Corinthians e de Tite. As maiores conquistas do clube e também do treinador. Pela primeira vez em sua história de 102 anos, o Corinthians é campeão da Copa Libertadores da América, superando o temido Boca Juniors nas finais. Seis meses depois, Tite e Corinthians são campeões mundiais no Japão, passando pelo britânico Chelsea, de Fernando Torres e Oscar.
Mais dois títulos em 2013 sacramentaram a belíssima história de Tite no Parque São Jorge: o título paulista dentro da Vila Belmiro (evitando o tetracampeonato seguido do Santos) e a Recopa Sulamericana, sobre o São Paulo.
Com 5 títulos em dois anos e meio, ficou complicado para o treinador continuar motivando o tempo todo uma equipe acostumada com as benesses das vitórias e os holofotes da mídia, então ainda mais direcionados para o Corinthians. Com a perda de Paulinho para o futebol europeu (a maior referência do time), mais as apostas mal-sucedidas em jogadores como Alexandre Pato, Renato Augusto, Ibson e Maldonado (um ex-jogador em atividade), o time comandado por Tite desandou no 2º semestre de 2013 e, mesmo apontado no início do torneio  como o grande favorito para ser campeão, somente se livrou do risco de rebaixamento a 4 rodadas do fim do Brasileirão. Com a escassez de resultados, a pressão ressurgiu e Tite foi então dispensado pelo clube para a chegada de Mano Menezes, técnico que devolveu o Corinthians à 1ª divisão em 2008.
Em qualquer país do futebol europeu, Tite certamente renovaria seu contrato por mais, pelo menos, dois anos. Não no Brasil, onde o reconhecimento é apenas instantâneo, imediatamente após as conquistas. Por causa de 6 meses sem os resultados esperados, Tite saiu e agora terá que recomeçar do zero, com a vantagem de que agora, ao invés de procurar, poderá  escolher outro lugar para trabalhar, e ao que tudo indica, em terras asiáticas, onde o dinheiro é bom, mas o futebol é fraco.
Mesmo com todas as conquistas, Tite também é contestado por praticar um futebol feio (que inclusive é também a opinião desse que vos escreve), o chamado  “futebol de resultados”, que nem parece futebol, que é retrancado, sem talento, sem arte, sem plástica e por que não sem graça. Mas foi com essa filosofia do gaúcho Adenor que o Corinthians conheceu o prestígio, que a América e o mundo  foram revelados ao clube paulista. Por causa dessa filosofia que a gozação acabou,  afinal o “time do povo” agora tem uma Libertadores. E também um Mundial, conquistado do outro lado da Terra, com direito a passaporte de verdade e não o “genérico” do metrô, então o único até 2011.
Com Tite,  o Corinthians ganhou ainda mais visibilidade e dinheiro. Mais patrocínios, melhores cotas de televisão, veio ainda o tão sonhado estádio próprio, que deve ser um  dos mais modernos do país,  e que  será até palco de abertura de Copa do Mundo.
Tite foi o maior treinador da história do Corinthians. Conquistou os maiores feitos da camisa corintiana nos 103 anos de existência do clube. Foi deixado de lado por causa de um único semestre sem resultados, depois de dar a volta por cima após a trágica derrota para o Tolima. Foi vítima de um semestre fruto do mau planejamento dos dirigentes. Foi dispensado por uma diretoria que já fechou com outro treinador, enquanto Tite sequer encerrou a sua passagem tão vitoriosa e emblemática. Mas o seu ciclo acabou.
A Tite resta apenas o reconhecimento da torcida. Diante de como é conduzido o futebol brasileiro, isso pode ser, talvez,  o mais importante.

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