Adenor Leonardo Bachi, gaúcho, 52 anos, mais conhecido como
Tite. Ex-jogador e atualmente técnico de
futebol há 23 anos. Como jogador, teve uma carreira sem brilho, atuando por
times como Caxias, Esportivo, Portuguesa e Guarani. Uma carreira curta, de 11
anos, que terminou em 1989 devido a sérias lesões no joelho. Como treinador,
também começou de forma apagada, em times inexpressivos do sul do país, até
chegar ao Grêmio, em 2001, o que lhe abriu as portas para o grande mercado do
futebol em nível nacional: desde então, dirigiu ( além do Grêmio) São Caetano, Atlético-MG, Palmeiras e Internacional, mais duas passagens pelo
futebol árabe e, finalmente, o Corinthians, também pela segunda vez, a primeira em 2004 e agora desde 2010.
A ida de Tite para o Grêmio em 2001 foi marcada por um fato
histórico no ano anterior, que chamou a atenção dos gremistas. O Caxias, então
comandado por Tite, fez a final do
Campeonato Gaúcho de 2000 justamente contra o favoritíssimo Grêmio, de Claudio
Pitbull e Ronaldinho Gaúcho. No primeiro jogo das finais, dentro de casa, o
Caxias venceu com propriedade o Grêmio pelo placar surpreendente de 3 x 0. Na grande final, disputada no lotado
estádio Olímpico, o empate de 0 x 0 dava ao clube do interior o título gaúcho,
desbancando Ronaldinho e cia. Foi o primeiro grande triunfo do técnico Tite.
No Grêmio, Tite conquistou o Campeonato Gaúcho e a Copa do
Brasil de 2001. Foi para o São Caetano, então um time que encantava o país na
época, e em 2004 chegou ao Parque São Jorge, encontrando um Corinthians quase na
zona de rebaixamento do Brasileirão. Com Tite, o time reagiu e terminou em 5º lugar na tabela. De temperamento forte,
o treinador desentendeu-se com o iraniano Kia Joorabchian, que investia muito
dinheiro no clube através da “misteriosa” MSI, responsável pela formação de um
elenco milionário, liderado pelo craque argentino Carlitos Tevez. Tite foi
demitido por Kia, que contratou o também argentino Daniel Passarella para
treinar a equipe “galáctica” que ganhou o Brasileirão de 2005, conhecido pelo
escândalo da manipulação de resultados pela arbitragem (2 anos depois, com fortes suspeitas de lavagem de dinheiro, os investidores deixaram
o Corinthians e o clube foi rebaixado para a 2ª divisão).
Tite teve passagens apagadas por Atlético-MG e Palmeiras,
inclusive com o rebaixamento do clube mineiro em 2005.
Foi então para o milionário futebol árabe e , em 2008,
voltou ao Brasil para comandar o Internacional.
Novamente no sul, conquistou a Copa Sulamericana daquele ano e o
Campeonato Gaúcho de 2009, além de ser vice-campeão da Copa do Brasil de 2009,
perdendo a final para o Corinthians, de Ronaldo Fenômeno.
Volta para o futebol árabe e, com a demissão de Adilson
Batista e a liberação do Sheik, retorna ao Corinthians. Pela 2ª vez no Parque
São Jorge, conheceu o Inferno para depois chegar ao Paraíso. A eliminação na
Pré-Libertadores de 2011 para o modesto Deportes Tolima-COL, foi o momento de
maior tensão e pressão sobre Tite. Desconfiada, a torcida hostilizava o time, o
que culminou com as saídas de Roberto Carlos, Bruno Cesar, Jucilei, Dentinho e
a aposentadoria de Ronaldo Fenômeno. O Corinthians também perdeu o título
paulista daquele ano para o Santos, de Neymar e Ganso. Em frangalhos e sob
forte pressão, coube a Tite a
reformulação do elenco e do padrão de jogo. Com Liedson, Ramirez e Adriano “Imperador”,
mais um esquema tático de gosto “duvidoso”, porém eficiente, Tite começava seu
ciclo vitorioso e histórico dentro do Corinthians. Veio o Campeonato Brasileiro de 2011,
conquistado na última rodada. Em 2012, o auge do Corinthians e de Tite. As
maiores conquistas do clube e também do treinador. Pela primeira vez em sua
história de 102 anos, o Corinthians é campeão da Copa Libertadores da América,
superando o temido Boca Juniors nas finais. Seis meses depois, Tite e Corinthians
são campeões mundiais no Japão, passando pelo britânico Chelsea, de Fernando Torres
e Oscar.
Mais dois títulos em 2013 sacramentaram a belíssima história
de Tite no Parque São Jorge: o título paulista dentro da Vila Belmiro (evitando
o tetracampeonato seguido do Santos) e a Recopa Sulamericana, sobre o São
Paulo.
Com 5 títulos em dois anos e meio, ficou complicado para o
treinador continuar motivando o tempo todo uma equipe acostumada com as
benesses das vitórias e os holofotes da mídia, então ainda mais direcionados
para o Corinthians. Com a perda de Paulinho para o futebol europeu (a maior
referência do time), mais as apostas mal-sucedidas em jogadores como Alexandre
Pato, Renato Augusto, Ibson e Maldonado (um ex-jogador em atividade), o time
comandado por Tite desandou no 2º semestre de 2013 e, mesmo apontado no início
do torneio como o grande favorito para
ser campeão, somente se livrou do risco de rebaixamento a 4 rodadas do fim do
Brasileirão. Com a escassez de resultados, a pressão ressurgiu e Tite foi então
dispensado pelo clube para a chegada de Mano Menezes, técnico que devolveu o
Corinthians à 1ª divisão em 2008.
Em qualquer país do futebol europeu, Tite certamente
renovaria seu contrato por mais, pelo menos, dois anos. Não no Brasil, onde o
reconhecimento é apenas instantâneo, imediatamente após as conquistas. Por
causa de 6 meses sem os resultados esperados, Tite saiu e agora terá que recomeçar
do zero, com a vantagem de que agora, ao invés de procurar, poderá escolher outro lugar para trabalhar, e ao que
tudo indica, em terras asiáticas, onde o dinheiro é bom, mas o futebol é fraco.
Mesmo com todas as conquistas, Tite também é contestado por
praticar um futebol feio (que inclusive é também a opinião desse que vos
escreve), o chamado “futebol de
resultados”, que nem parece futebol, que é retrancado, sem talento, sem arte,
sem plástica e por que não sem graça. Mas foi com essa filosofia do gaúcho Adenor
que o Corinthians conheceu o prestígio, que a América e o mundo foram revelados ao clube paulista. Por causa
dessa filosofia que a gozação acabou, afinal o “time do povo” agora tem uma
Libertadores. E também um Mundial, conquistado do outro lado da Terra, com
direito a passaporte de verdade e não o “genérico” do metrô, então o único até
2011.
Com Tite, o
Corinthians ganhou ainda mais visibilidade e dinheiro. Mais patrocínios,
melhores cotas de televisão, veio ainda o tão sonhado estádio próprio, que deve
ser um dos mais modernos do país, e que será
até palco de abertura de Copa do Mundo.
Tite foi o maior treinador da história do Corinthians.
Conquistou os maiores feitos da camisa corintiana nos 103 anos de existência do
clube. Foi deixado de lado por causa de um único semestre sem resultados,
depois de dar a volta por cima após a trágica derrota para o Tolima. Foi vítima
de um semestre fruto do mau planejamento dos dirigentes. Foi dispensado por
uma diretoria que já fechou com outro treinador, enquanto Tite sequer encerrou a sua passagem tão vitoriosa e emblemática. Mas o seu ciclo acabou.
A Tite resta apenas o reconhecimento da torcida. Diante de
como é conduzido o futebol brasileiro, isso pode ser, talvez, o mais importante.
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