segunda-feira, 25 de abril de 2016

OS LOUCOS DEUSES DO FUTEBOL

*por Adriano Oliveira

"Os Deuses da Bola ficaram loucos. Mas ainda deu tempo de salvar o futebol."
Essa frase, dita por um torcedor santista na arquibancada da Vila Belmiro, que permaneceu de costas para o gramado durante as decisivas cobranças de pênaltis, define bem o clássico entre Santos x Palmeiras que classificou o time da casa à sua oitava decisão consecutiva do Campeonato Paulista.

(foto: Flickr/Santos FC)

Foi sofrido para os santistas? Sim, bastante. E sem necessidade.
Também não foi "heróico" para os palmeirenses, como tanta gente diz. Porque não existe "heroísmo" em se praticar o anti-jogo por quase 90 minutos de partida.
Ofensivo, o Santos fez o que se esperava dele dentro da Vila e pressionou o time de Cuca desde o início que, confuso e quase sempre recorrendo às faltas, deu apenas um único chute a gol em todo o primeiro tempo. Em sua jogada mais mortal, o contra-ataque em velocidade, o time de Dorival Júnior abriu o placar através de Gabriel, que recebeu ótimo passe em profundidade de Lucas Lima e fez um belo gol aos 39 minutos: 1 x 0. A vantagem seria maior se o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro tivesse assinalado pelo menos um dos dois pênaltis claros a favor dos santistas. Uma bola na mão do defensor palmeirense Roger Guedes e depois um chute de Victor Hugo no rosto do zagueiro santista Gustavo Henrique, ao tentar cabecear uma bola em direção ao gol dentro da área.
Veio o segundo tempo e o Santos continuava melhor. Até que, aos 28 minutos, Gabriel mais uma vez ampliou o placar para 2 x 0, após bela assistência do lateral Zeca.
O Palmeiras parecia entregue e os jogadores usavam forte marcação, muitas vezes até desleal, para fechar os espaços e evitar a rápida troca de passes dos santistas que, mesmo sem o ímpeto da primeira etapa, tinham o controle do jogo e chegaram a ter 70% de posse de bola.
Quando a partida chegou aos 40 minutos e o mais provável seria o time de Dorival Júnior prender a bola no campo de ataque e deixar o tempo passar, veio o inesperado.
Lucas Lima bateu mal um escanteio. O Palmeiras recuperou a bola e diante da única chance clara que teve para surpreender o Santos, partiu para cima como franco-atirador. Rafael Marques, que havia acabado de entrar, se aproveitou de uma total falta de atenção da zaga santista e diminuiu o placar para 2 x 1, aos 42 minutos. Logo em seguida, aos 43, Cleiton Xavier, que também havia acabado de entrar no lugar do apagado meia Robinho, fez cruzamento certeiro para Rafael Marques, de novo, empatar a partida em 2 x 2.
Silêncio na Vila com torcida única.
Estariam loucos os Deuses do Futebol? Ou era apenas um enorme vacilo cometido pelo "irresponsável" Santos para nos mostrar, mais uma vez e com ares de crueldade, que o futebol não tem lógica? Que não é matemática? Ou que o acaso nem sempre vai proteger o distraído?
Novamente em menos de um ano, santistas e palmeirenses decidiriam, nos pênaltis, mais um campeonato. Fernando "São Prass" defende então a primeira cobrança dos pés de Lucas Lima, o craque provocador sem papas na língua. Naquele momento, nem o mais otimista dos santistas deixou de pensar na noite de 2 de dezembro de 2015, quando no Allianz Parque o Palmeiras venceu o Santos nos pênaltis e conquistou a Copa do Brasil. Assim como agora, o Santos também era o favorito. Seria mais um duro castigo dos Deuses da Bola para um time que joga um futebol mais bonito de se ver?
Por pouco. Deu tempo para que todos os "Santos" e Deuses revertessem a sentença final do duelo. Os "consagrados" Rafael Marques e Fernando Prass perderam suas cobranças. David Braz, Zeca e Victor Ferraz (todos defensores) converteram, o goleiro Vanderlei foi quem dessa vez roubou a cena e o Santos chegou à sua décima final de Campeonato Paulista nos últimos onze anos.
Para qualquer time, em qualquer competição, sempre é importante vencer, seja com a bola rolando ou nos pênaltis, e disputar um troféu, um título. Porém, assim como em muitas derrotas não se enxergam as virtudes, em muitas vitórias não se podem apagar os erros, principalmente vacilos como ceder o empate com dois gols do adversário nos últimos cinco minutos de um clássico decisivo, tornando difícil e até dramática uma classificação fácil.
A bola não puniu e o resultado aconteceu, mas não da maneira mais lógica, pois dentro das quatro linhas as coisas jamais acontecem como se fossem uma ciência exata.
Os Deuses do Futebol as vezes ficam loucos. E o jogo só termina quando acaba.

(foto: Flickr/Santos FC)


Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

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