sexta-feira, 7 de março de 2014

NILTON BATATA, O PRIMEIRO GRANDE ÍDOLO


16 de novembro de 1980, 122.209 torcedores lotavam o estádio do Morumbi para assistir Santos x São Paulo, o 1º jogo das finais do Campeonato Paulista que havia começado seis meses antes, em maio.
Era a primeira vez daquele garoto num estádio de futebol, levado pelo pai. A princípio, ficou assustado com tanta gente, com o trânsito congestionado nas redondezas, as enormes filas para tudo, o pai preocupado com a multidão e o protegendo o tempo todo. Num lugar da arquibancada onde estavam três pessoas, na verdade só cabia uma. Mas estava tudo certo. A emoção de estar ali pela primeira vez compensava o aperto, a sede, a fome, o tumulto. Não via a hora de contar para os amigos, no dia seguinte no campinho de terra perto de sua casa, como tinha sido sua primeira tarde no Morumbi, e ainda na final do campeonato.
Ele estava devidamente uniformizado. Meias, short e uma camisa imaculadamente branca. E, claro, calçando um kichute preto novinho, cadarço amarrado na canela. Como mandava o figurino. Quando os times finalmente entraram em campo, ele e o pai já estavam ali esprimidos há quase uma hora. Mas foi uma festa. Pela TV era bonito ver as bandeiras tremulando, o papel picado, o grito da torcida e tudo mais. Mas ali, de tão perto, de dentro do estádio, era algo indescritível. Inesquecível. Inigualável. Uma torcida tentando gritar mais alto que a outra. Pela primeira vez ele sentiu na pele arrepiada o que o futebol era capaz de fazer com tanta gente.
Os times perfilados em campo e a decisão ia começar. Rapidamente os olhos ávidos do garoto passaram a procurar um certo jogador. Aquele jogador. Daquele time de branco, claro. Nem tão alto, cabelo tigelinha ao melhor estilo “Beatles”. Encontrou. E passou a acompanhá-lo em cada centímetro do gramado. O time todo era bom, ele sabia de cor e salteado o nome de todos os jogadores. Tinha o Pita, que jogava demais e que o pai dizia que era o melhor da equipe. Mas não era. Tinha o João Paulo, que era baixinho, mas muito rápido, dificilmente o jogador adversário o alcançava em disparada. Tinha o Miro, que era grandão, cara de bravo e que desarmava todas as jogadas do outro time com facilidade. Mas tinha ele. Rápido, habilidoso, driblador. Era ele a sua inspiração de todas as tardes no campinho. Ele queria ser jogador de futebol e jogar igual a ele. Quando ele fazia um gol, não era um simples gol, era diferente. Era o gol de Nilton Batata. Esse sim era o cara, o melhor. Jogava com a camisa 7, era o ponta-direita. Mas batia com a esquerda também, as vezes.
Seu nome real era Nilton Pinheiro da Silva e jogava um futebol que praticamente não existe mais nos dias de hoje. Aliás, nem o ponta-direita existe mais. Hoje em dia inventaram o chamado “ala” para fazer menos o que Nilton Batata fazia. E fazia muito bem. Aquele ataque dos “meninos da vila” desconsertava os “zagueiros durões” e pouco preparados para a velocidade e o ímpeto daqueles jovens atacantes de branco.
Naquela tarde, Nilton Batata não fez gol e o seu time perdeu por 1 x 0, gol de um tal de Chulapa já no finalzinho do jogo. Aliás, como aquele cara fazia gols. Sorte que anos mais tarde esse mesmo Chulapa também faria muitos gols por seu time.
É claro que o garoto estava doido pra ver toda aquela torcida vestida de branco gritar "gol" junto com ele. Mas tudo bem, o placar daquele jogo nem importava tanto assim. E o título, que também não veio, idem. Afinal, aquele dia havia se tornado inesquecível. Não era nem tanto pelo jogo em si, era mais pelas pessoas, pela atmosfera daquele ambiente.

E naquele dia inesquecível ele viu seu ídolo jogar de muito perto. Ficou triste quando Nilton Batata saiu do seu time para jogar no México. Mas aprendeu desde cedo com o pai que o futebol é assim. Teve outros ídolos depois. Mas aquele ponta-direita habilidoso, esperto, veloz, que corria o campo inteiro, que fazia gols bonitos e de cabelo tigelinha, ficou eternizado como seu primeiro grande ídolo no futebol. E nunca mais foi esquecido.
Uma preciosidade: o cartão do chiclete Ping-Pong com a ficha do camisa 7, que ficou guardado a sete chaves pelo garoto.


Na foto acima, o time do Santos vice-campeão paulista de 1980: Nelsinho Baptista, Márcio Rossini, Marolla, Joãozinho, Washington e Miro; Nilton Batata, Toninho Vieira, Claudinho, Pita e João Paulo. O técnico era Pepe. (Nilton Batata é o primeiro agachado da esquerda para a direita). Esse foi o primeiro time do Santos que eu vi jogar no estádio, em 16.11.80.

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