terça-feira, 18 de março de 2014

QUAL A DIFERENÇA SE O SÃO PAULO ENTREGOU OU NÃO?


Era mais uma tarde chuvosa de domingo na capital paulista, março de 2004. 20 mil corintianos foram ao Pacaembu para viver uma situação inusitada: vencer a Portuguesa Santista e garantir a permanência do time na primeira divisão do Campeonato Paulista. Mas havia um outro jogo, não muito longe dali, que também tinha importância vital para os corintianos. Em São Caetano do Sul, Juventus e São Paulo duelavam entre si e um triunfo do time da Mooca faria o Corinthians jogar a segunda divisão em seu lugar na temporada de 2005. O maior adversário do Corinthians naquela tarde de chuva não era, a princípio, a Portuguesa Santista. Mas o São Paulo, que poderia "entregar" o jogo para o Juventus e com isso rebaixar o rival.
O que se viu no Pacaembu foi mais uma atuação pífia do Corinthians, então treinado por Oswaldo de Oliveira. Até o meia colombiano Rincón, esperança da torcida e reconhecido por seus passes refinados, deixava bastante a desejar e até tropeçava na bola. A 15 minutos do fim da partida, o desastre veio nos pés de um ex-são paulino: Reinaldo faz o gol da vitória da Portuguesa Santista por 1 x 0. Restava aos corintianos sintonizar a estação de rádio no jogo do São Paulo que, para piorar os ânimos, atuava com time misto, uma vez que já estava classificado para a fase final do torneio. A torcida são-paulina pedia desesperadamente para seus jogadores "entregarem" o jogo para o Juventus, já que com a derrota no Pacaembu, o Corinthians estaria matematicamente rebaixado. Mas o atacante Grafite, com dois gols de cabeça, assegurou a permanência dos corintianos na série A1 e rebaixou o Juventus para a série A2, num dos raros episódios que só o futebol nos proporciona de uma torcida ficar enfurecida com seu próprio time por ele ter vencido um jogo por 2 x 1.
Dez anos se passaram e novamente ambos os times viveram uma situação bem parecida em outra tarde chuvosa de domingo na capital paulista. Apenas mudaram os cenários. O Corinthians jogando no interior do Estado e o São Paulo no Morumbi. Vale lembrar que o jogo no Morumbi para os donos da casa serviria apenas para cumprir tabela e zerar os cartões amarelos. A diferença era que, dessa vez, o Corinthians não corria risco de descenso, mas ainda sonhava com uma vaga para a fase final do Paulista. Contudo, exatamente como há uma década, os corintianos não fizeram sua parte dentro de campo e muitos torcedores, além de comentaristas e até jogadores, tentam por a culpa no São Paulo, que ao contrário de 2004, teria supostamente "entregado" o jogo para o Ituano ao perder por 1 x 0. O atacante Romarinho é um exemplo. Logo após o sonolento empate do Corinthians por 0 x 0 em Penápolis, ainda no gramado, disse em alto e bom som que "foi armado, o São Paulo entregou e todo mundo sabe".
Mas de onde vem essa lamentação toda dos que ainda não perceberam que o próprio Corinthians não fez a sua parte? E as seis partidas sem vitória nas oito primeiras rodadas, especialmente a goleada sofrida para o Santos por 5 x 1? Isso também foi "armado" ou foi a falta de vontade e incompetência de um time que se acha (ou se achava) com o "rei na barriga" por ter ganho um Mundial há quase 2 anos? O quê mudou com a saída do Tite e a chegada de Mano Menezes? Se mudou alguma coisa, foi para melhor ou para pior?
Onde está a gratidão desses corintianos aos são-paulinos por não terem sido rebaixados há exatos 10 anos?
Foi visível o desinteresse dos jogadores do São Paulo na derrota para o Ituano por 1 x 0. Esse resultado já seria pelo menos "anormal" em Itu, imagina em pleno Morumbi. Mas de quê adianta agora uma discussão inútil dessas, se o time de Muricy Ramalho entregou ou não entregou? Os maiores interessados não venceram o modesto Penapolense. Os comandados de Mano Menezes há tempos mostram em campo um futebol bem abaixo do esperado. A prova disso é o time do Parque São Jorge conseguir a proeza de sequer estar entre os 8 melhores de um campeonato de baixo nível técnico como o Paulista. Mais do que ter a certeza que um rival "amoleceu" em outra partida, Romarinho e companhia deveriam compreender que o torneio foi feito para que os quatro grandes chegassem à etapa decisiva.
O Corinthians tinha a obrigação de, no mínimo, passar da 1ª fase do torneio, assim como fizeram Palmeiras, Santos e São Paulo, com sobras. Colocar a culpa por uma eliminação precoce numa suposta "entregada" de um time rival é tampar com a peneira uma campanha medíocre. E Edinaldo Libânio, o Grafite, está hoje com 34 anos e veste a camisa do Al-Ahli, dos Emirados Árabes. Provavelmente muitos corintianos gostariam de tê-lo visto como centroavante diante do Ituano, no lugar de Luis Fabiano. E agradecê-lo, quem sabe, mais uma vez.

Leia Mais: site UOL Esporte "Aos 34 anos, Grafite descarta aposentadoria e diz que corintianos ainda o agradecem"   http://migre.me/io1XL

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