domingo, 4 de maio de 2014

SEM MEDO DA LIBERTADORES


O que clubes como The Strongest, Bolívar, León, Atlético Nacional e San Lorenzo têm em comum?
Não são clubes expressivos, tampouco apresentam um futebol de encher os olhos. Mas o denominador comum entre eles é que desbancaram os times brasileiros na Copa Libertadores deste ano. Menos o Cruzeiro, que a partir das quartas-de-final é o único representante do Brasil.
E por quê desbancaram? Talvez porque não sentem a mesma obsessão das equipes brasileiras perante uma Libertadores. Das últimas 10 edições do torneio sul-americano, o Brasil ficou com seis troféus. Mesmo assim, os clubes brasileiros temem mais a "mística" da Libertadores da América do que os times contra quem vão jogar.
Disputar a Libertadores parece ser um tratamento de choque psicológico baseado na idéia de que é preciso ser campeão para alcançar o Olimpo do Futebol, de que é preciso conquistá-la a qualquer custo, de qualquer jeito. Foi assim durante muito tempo com o Corinthians. Quando o clube se planejou e descarregou a tensão (e a pressão), conseguiu o tão cobiçado título (com um boa dose de ajuda do então atacante vascaíno Diego Souza, é verdade, mas conseguiu).
Porém, os times brasileiros ainda dão seu "jeitinho" para injetar outros ingredientes indesejados.
O Botafogo, por exemplo, fez tudo o que deveria fazer para atingir precocemente a eliminação. Deu certo. Depois de 18 anos sem disputar o torneio, o clube carioca perdeu jogadores importantes como Seedorf e Rafael Marques, mais o técnico Oswaldo de Oliveira que conduziu bem a equipe no Campeonato Brasileiro de 2013. Em seu lugar, resolveu apostar no auxiliar Eduardo Hungaro, que nunca havia dirigido um time dentro de uma competição tão importante. Se não bastasse, o elenco ainda estava com os salários atrasados há meses. Ou seja, a fórmula do fracasso funcionou conforme o planejado e agora sabe-se lá quando o Botafogo voltará a participar de outra edição de Libertadores.
O Atlético-MG não teve o mesmo futebol e a mesma sorte do ano passado, quando o time foi campeão. Victor não defendeu bolas indefensáveis e o atacante do Atlético Nacional não escorregou no momento de finalizar para o gol. Em 2014, o clube do presidente Alexandre Kalil (que anunciou o francês Anelka sem contratá-lo) foi morto no Horto.
Mas então o que aconteceu com Grêmio e Flamengo, os times considerados favoritos por mim desde o começo?
Aclamado como o mais copeiro dos times brasileiros, o "imortal" Grêmio saiu da Libertadores diante do "esforçado" San Lorenzo, talvez o 5º ou o 6º clube mais tradicional da Argentina, porém de um torcedor ilustre: é o time do Papa. E os gremistas caíram dentro de sua Arena lotada, ao não fazer a lição de casa como todos imaginavam. E não consideravam a hipótese de uma decisão por pênaltis. Deu no que deu.
Já o Flamengo mostrou que a conquista da Copa do Brasil de 2013 foi mais uma obra do acaso do que pelo futebol em si.
A tradição da camisa e a força de sua torcida não foram suficientes para furar o "bloqueio" emocional e seguir adiante em uma das edições mais fáceis da Libertadores. Ao contrário da Copa do Brasil no ano passado, o time do técnico Jayme de Almeida sofreu a pressão mais do que o necessário e foi muito mal em todos os jogos no Rio de Janeiro. Bolívar e León são times inexpressivos demais para se impor diante do Flamengo dentro de sua casa, o Maracanã. Sair da Libertadores ainda na etapa de grupos não estava na mente nem do mais pessimista dos rubro-negros.
Falta aos clubes brasileiros temer menos a Copa Libertadores da América e se impor diante dos adversários que normalmente são bem mais inferiores tecnicamente e tradicionalmente. Com todo respeito, não posso crer que o futebol brasileiro, de repente, ficou nivelado por baixo. Que estamos no mesmo patamar de times como The Strongest, Universitário do Peru ou León. Eles sim precisam nos temer, não o contrário.
A Libertadores não é esse bicho-papão. Pelo menos não deveria ser.

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