segunda-feira, 9 de março de 2015

EM ITAQUERA OU NO MORUMBI


Churrasco com os amigos no início da tarde de um domingo com chuviscos e tempo abafado.
Um são-paulino chega sorridente, ostentando a camisa de seu time.
Pergunto: " - É hoje que termina o tabu?"
Ele me olha, meio cismado e, com incerteza, responde: " - Espero que sim, né."
E todo mundo percebeu que a resposta soou mais como um "acho que não, né".
E é isso. O são-paulino parece que já sabe o que vai acontecer quando tem clássico contra "eles". E pior: o corintiano também sabe. Seja no Itaquerão lotado ou no Morumbi quase vazio, com pouco mais de 18 mil torcedores.
Não vejo nenhum problema na derrota do São Paulo por 1 x 0. Afinal, o time do Corinthians é melhor. O grande problema é que foi mais uma derrota. E isso se torna um "fantasma" às vésperas de ambos os times provavelmente decidirem uma vaga nas oitavas-de-final da Copa Libertadores. Esse é o perigo iminente de um tabu que assola cada vez mais os são-paulinos.
Sobre o jogo, tudo o que o técnico Tite queria era sair na frente e logo no começo. Conseguiu aos 11 minutos do 1º tempo com golaço do carrasco Danilo, aquele que o próprio São Paulo dispensou em meados de 2006 por acreditar que "já tinha dado o que podia". Tite passou a ter o jogo do jeito que mais gosta, se fechando atrás, diminuindo os espaços, com forte marcação e jogando nos contra-ataques. Do outro lado, o time de Muricy Ramalho mostrou novamente enorme dificuldade para jogar diante de uma equipe bem organizada e principalmente se infiltrar numa defesa bem postada. É "bola no Ganso" e vamos esperar dele um lampejo de genialidade, que mais uma vez não aconteceu num jogo importante. Ou aguardar pela tentativa de Michel Bastos enfiar uma bola na medida para Luis Fabiano, que declarou dias antes "não aguentar mais perder para o Corinthians".
Se nenhuma jogada se encaixa e nenhum jogador aparece para chamar a responsabilidade (apesar do esforço do argentino Centurión), resta ao são-paulino a esperança nas bolas paradas. E ela veio, num pênalti duvidoso marcado pelo assistente e depois confirmado pelo árbitro. Um pênalti que eu não daria, afinal, a bola acerta o braço do zagueiro Gil que salta protegendo o rosto após chute forte de longe. Leandro Bizzio Marinho não só assinalou o pênalti como expulsou o zagueiro corintiano. E essa era a possibilidade do empate para depois o São Paulo partir para o "tudo ou nada" em busca do fim do tabu. Mas Rogério Ceni bate, a bola rebate na perna do goleiro Cássio e depois ainda explode no travessão, para desespero dos são-paulinos que olham para o céu nublado do Morumbi e perguntam: " - Por que?"
Cássio vibrou e depois da partida, ao lado de Tite, disse que usou seus "recursos" para defender. Não, a bola do empate não entrou por méritos do goleiro Cássio. Foi Rogério Ceni que bateu mal o pênalti, chutou baixo e no meio do gol diante de um oponente que possui três metros só de perna.
Com a expulsão de Gil no lance do pênalti, Tite se abdicou ainda mais do futebol bonito e armou dois blocos defensivos quase intransponíveis. Afinal de contas, no futebol moderno não se busca acertar mais e sim errar menos. A fórmula do treinador corintiano foi prender a bola, tocar rápido, com passes curtos e jogadas previsíveis de contra-ataque. O talento individual do São Paulo novamente se rendeu à disciplina tática do Corinthians. E por mais organizada e bem posicionada que estava a defesa corintiana, faltou mais confiança ao time do São Paulo, o que é fundamental num clássico.
Depois que Rogério perdeu o pênalti, o time de Muricy ficou mais nervoso e se descontrolou. Ao contrário do Corinthians que, mesmo com um jogador a menos, sabia exatamente o que tinha de fazer com a bola. Talvez seja essa a diferença entre as duas equipes. Um time que entra para não perder, porque "não aguenta mais perder para o rival". Enquanto o outro time é treinado para jogar de forma eficiente, no chão, trocando passes, arriscando pouco, porém ficando com a bola para não dar chances ao adversário.
Apesar de nova derrota, no Majestoso do Campeonato Paulista o São Paulo foi um pouco melhor do que no Majestoso da Libertadores. Já o Corinthians foi o mesmo. E parece que todos já sabiam.

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