quinta-feira, 5 de março de 2015

TREINADORES QUE "SE ACHAM MAIS DO QUE SÃO"

" - Eles precisam entender que fazem parte de uma equipe, que precisam trabalhar para essa equipe. Não é fácil, alguns atletas se acham mais do que realmente são. Não conquistaram nada no futebol profissional, não são referências e ainda têm muita coisa para caminhar e buscar. A conquista traz credibilidade, é importante que esse atleta tenha esse pensamento."
Essa foi uma das últimas declarações de Enderson Moreira como técnico do Santos, feita à Rádio Bandeirantes dois dias antes de ser demitido pelo clube, ou "ter feito um acordo", nas palavras do presidente santista Modesto Roma Jr.
Pois bem. O mineiro Enderson Moreira tem 43 anos e nunca foi jogador. Começou sua carreira no futebol em 1995 como preparador físico do América-MG. Um ano depois foi trabalhar como treinador nas categorias de base de Atlético-MG, Cruzeiro e Ipatinga. Seu primeiro trabalho como técnico de uma equipe profissional foi no próprio Ipatinga em 2008, quando o clube foi rebaixado para a Série B. Voltou a treinar times de base no América-MG, Atlético-PR e Internacional. Em 2011, teve nova chance no time profissional do Fluminense. Ficou somente 13 partidas e deu lugar a Abel Braga. Foi contratado pelo Goiás, onde conquistou o Campeonato Goiano e o Campeonato Brasileiro da Série B. Em 2013 foi substituir Renato Gaúcho no comando do Grêmio, até ser dispensado sete meses depois. Contratado pelo Santos, foi novamente demitido após seis meses de trabalho. Seu melhor desempenho foi no Goiás, onde teve um aproveitamento razoável de 64% nos dois anos em que permaneceu no clube.
Portanto, é importante que Enderson faça jus à sua tese e procure crescer mais para ter mais conquistas no futebol. Isso lhe dará credibilidade necessária para que seja tão marrento. Ninguém sabe o que de fato acontece nos bastidores de cada clube, mas certamente o ex-treinador do Santos já bateu de frente com muita gente. "Mas o Muricy também bate". Sim, e como bate. Mas é o Muricy. E ele só está ainda no São Paulo porque é o Muricy. Sua história no futebol lhe dá o direito de ser o cara rabugento que é. Goste-se ou não de seu trabalho, Muricy Ramalho é um técnico vencedor e um ícone do nosso futebol. E qual é a história de Enderson Moreira no futebol brasileiro? O que ele já conquistou?
O Santos é um clube tradicionalíssimo por revelar e usar jogadores das categorias de base no elenco profissional. Isso é regra e quase obrigatório na Vila Belmiro. Está no DNA do Santos, é uma filosofia, uma identidade. O Santos joga para frente e aposta na base. E Enderson resistia a isso. Seu estilo de jogo é defensivo e ele tinha sérios problemas de relacionamento com os "pratas da casa". Em seu último jogo como técnico da equipe, diante do fraco Linense em pleno Pacaembu, Enderson deixou Gabriel, Lucas Octávio e Gustavo Henrique de fora e escalou Ricardo Oliveira, Valencia e Werley como titulares. Também eram constantes as fortes cobranças e o estresse com os mais jovens durante os treinamentos, como Lucas Lima, Geuvânio e principalmente Gabriel, o que normalmente causava mal-estar no elenco, até com os mais experientes. Enderson passou a discutir frequentemente com vários jogadores e o clima de insatisfação certamente ajudou a detonar sua saída. O treinador reclamava do "estrelismo" de Gabriel. Muricy Ramalho e Oswaldo de Oliveira, ex-treinadores do Santos e que também trabalharam com Gabriel, nunca se queixaram do menino e até elogiavam sua conduta dentro e fora de campo.
Então de quem seria esse "estrelismo"? Do menino de 18 anos que se dá bem com todo mundo, que foi revelado na base e que é o futuro do Santos? Ou de um treinador que se sentia incomodado porque os dirigentes não atendiam seu pedido em contratar o amigo Walter, que sequer vem jogando no Campeonato Carioca pelo Fluminense? Aliás, uma reflexão desnecessária: para quê contratar o gordo Walter quando se tem Ricardo Oliveira, Diego Cardoso, Gabriel e até Robinho para o ataque?
Por falar em Robinho, quando soube do anúncio da saída de Enderson Moreira, o atacante imediatamente avisou os demais jogadores pelo WhatsApp. Todos comemoraram. Mas por que tamanha felicidade? Será que somente Enderson tem o "pensamento" correto que os atletas não têm?
Assim como jogadores, muitos treinadores também "se acham mais do que são". Bem mais.

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