sábado, 24 de outubro de 2015

GUERRERO É ÍDOLO OU EX-ÍDOLO DOS CORINTIANOS?

 Como já falei várias vezes: eu gosto do Corinthians. No Brasil, só jogaria no Corinthians. Não tem jeito de jogar por outro time."
(Paolo Guerrero, declarando em novembro de 2014 que não trocaria o Corinthians por nenhum outro clube brasileiro).


Marcos sempre teve um enorme carisma junto aos torcedores de todos os times. Mas, para o são-paulino, nenhum outro goleiro se compara ao "mito" Rogério Ceni, por exemplo.
Ainda para o são-paulino, quem deveria ter vestido a camisa da seleção brasileira na Copa do Mundo era Luis Fabiano e não o "cone" Fred. Para o torcedor do Fluminense, Fred é craque e só não foi bem na Copa simplesmente porque a bola não chegava até ele e ponto final. Para o santista, Felipão foi injusto ao levar Bernard no lugar de Robinho. Para o corintiano, o peruano Paolo Guerrero era até o início deste ano o melhor centroavante do futebol brasileiro. Ao deixar o Parque São Jorge e se apresentar ao Flamengo, o peruano não vale mais sequer o feijão que come, tornou-se um mercenário e um ingrato que só ficou conhecido após ganhar títulos pelo Corinthians, mesmo com uma longa passagem anterior pelo futebol alemão. Para o palmeirense, o peruano nunca foi nada mais que um atacante de sorte, que joga menos que o argentino Cristaldo, por exemplo.
Sim, o torcedor é volúvel. E é normal que seja assim. O ídolo de uma torcida representa um mito ou uma farsa na ironia dos torcedores rivais.
Mas e Paolo Guerrero? Definitivamente não é mais o ídolo de outrora dos corintianos?
Para cair nas graças da torcida e se tornar um ídolo, o jogador acima de tudo tem de ser protagonista. Algumas vezes para o bem e para o mal. E o centroavante peruano foi exatamente isso. A maldade de hoje que tanto fez bem ontem aos corintianos.
Jose Paolo Guerrero Gonzales, 31 anos, vestiu a camisa do Corinthians em 130 partidas e fez 54 gols. Desses, o gol do título mundial conquistado no Japão diante do Chelsea, em 2012. Há quem diga que este foi o gol mais importante da centenária história do clube, mais até do que o gol de Basílio em 1977 que encerrou um longo jejum de 23 anos sem títulos. Na ocasião, Guerrero foi tão idolatrado pelos corintianos ao ponto de que, para a maioria, seu contrato poderia até se tornar vitalício. Hoje, pouco menos de três anos depois, parte da torcida pretende confeccionar cédulas falsas de dinheiro com seu rosto estampado para atirá-las no gramado quando o peruano entrar no Itaquerão pela primeira vez desde que deixou o Corinthians. É o protesto de um torcedor angustiado, mesmo sabendo que o ex-jogador ainda é o maior artilheiro do Itaquerão com 15 gols, três a mais que Jadson.
O torcedor é fiel aos seus ídolos? Sim, mas em sua maioria normalmente até a página três. Porque a paixão é efêmera.
O atacante que foi idolatrado quando marcou o gol de cabeça contra o inglês Chelsea é o mesmo que quase foi "esganado" por torcedores no CT quando o Corinthians foi goleado pelo Santos por 5 x 1, pouco mais de um ano depois do feito histórico no Japão.
Além de volúvel e efêmera, a paixão do torcedor também é cega. Muitos não conseguem enxergar que o futebol é, para muita gente ligado a ele, um enorme clube de amigos nos bastidores. Um "show-business" altamente lucrativo movido por interesses diversos de todos os lados. E um ídolo, ou aspirante à tal honraria, muitas vezes usa os atributos de sua alcunha para falar exatamente o que o torcedor, apaixonado por seu time, gosta de ouvir. Guerrero, por exemplo, ao declarar que "jamais jogaria em outro clube no Brasil", para delírio dos corintianos à época, de certa forma colocou os dirigentes contra a parede. As vezes tal apelo funciona, as vezes não. Deu certo algumas vezes com Valdívia no Palmeiras, por exemplo. Mas dessa vez não funcionou com o presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, que se mostrou mais preocupado com os cofres do clube do que com o fanatismo imediatista dos torcedores. Pouco mais de seis meses depois de suas juras de amor ao time alvinegro do Parque São Jorge, Guerrero estava se apresentando na Gávea vestindo a camisa rubro-negra do Flamengo.
Mas ídolos são assim. Tem seus momentos de heróis e seus lampejos de estupidez. Fazem partidas marcantes, marcam gols importantes e, de repente, saem pela porta dos fundos. Possuem legiões de fãs e também de desafetos dentro de sua própria torcida. Ídolos dividem opiniões.
Mas por que Guerrero saiu pela porta dos fundos? Só porque queria permanecer no Corinthians, porém com um salário maior? Isso não é o que todo profissional deseja em qualquer segmento ou atividade? Ser reconhecido pelo seu trabalho e ser melhor remunerado? E o Corinthians? Por que então não renovou seu vínculo? O principal jogador da história recente do clube não merecia ter o contrato renovado? Quem agiu errado?
O clube entendeu que a pedida salarial estava muito alta e confiou no "amor à camisa" do peruano que, como profissional, entendeu que deveria ser mais valorizado por tudo o que fez. Simples assim.
Nenhum jogador, por mais importante que seja, é indispensável. Afinal, o clube é sempre maior no coração do torcedor. Ou deveria ser. Porém, ídolos são sempre apaixonantes. É o tal do protagonista que erra e acerta, torna a errar e se regenera de novo. Um ciclo quase vicioso que leva torcida aos estádios, que gera audiência, que instiga a rivalidade, que conduz ao delírio.
Qual seria a graça do futebol sem os Edmundos e os Romários? Sem os Ronaldinhos e Luis Fabianos? Ou sem os Sheiks e Guerreros? E se tivéssemos apenas Didas, Kakás, Caio Ribeiros e Bebetos? O futebol não teria a dimensão que possui, nem despertaria essa paixão tão emblemática e, ao mesmo tempo, tão efêmera. O futebol também é isso. E precisa disso.
E se Paolo Guerrero desperta nos corintianos um sentimento de amor e ódio, é porque ele é sim um ídolo. Mesmo que a contragosto de muitos ou com notas falsas de dinheiro com seu rosto estampado espalhadas pelo campo.


Nenhum comentário: