quinta-feira, 29 de outubro de 2015

"LA SÉTIMA": UM PASSEIO DE 25 MINUTOS

" – Se você se conhece e ao inimigo, não precisa temer o resultado de cem combates."
(Sun Tzu, general, estrategista e filósofo chinês)




"A Arte da Guerra" é um livro escrito por Sun Tzu na China há cerca de 2.500 anos.
Sua tradução em língua portuguesa possui pouco mais de 100 páginas e se tornou leitura quase obrigatória no mundo empresarial e político. Uma espécie de doutrina básica sobre estratégias e táticas de liderança, originalmente direcionadas para generais e comandantes de forças militares.
Li "A Arte da Guerra" há mais de dez anos e confesso que o segundo jogo entre Santos x São Paulo, na Vila Belmiro, válido pelas semifinais da Copa do Brasil, me fez relembrar os milenares ensinamentos do chinês Sun Tzu.
O técnico Doriva, recém chegado ao São Paulo, sabia que o clássico era de vida ou morte para seu time (e talvez até para ele próprio). Mais de morte é claro, já que o Santos havia vencido a partida de ida no Morumbi por 3 x 1 e com isso adquiriu larga vantagem para o duelo final que seria disputado em sua casa, onde tem aproveitamento de quase 100% na temporada. Historicamente, o Santos é o time que mais joga e deixa jogar. Doriva resolveu então adotar uma tática, digamos, "suicida". Armou sua equipe de forma ofensiva, fora de casa, mesmo contra um adversário veloz e quase sempre letal nos contra-ataques.
Resultado? O time de Dorival Júnior não precisou de mais do que 25 minutos para liquidar o São Paulo, que rapidamente se desequilibrou. O Santos fez três gols e depois nitidamente se acomodou e controlou a partida como quis, mesmo quando não tinha a posse da bola. O time da casa só não fez mais três ou quatro gols porque não se preocupou com isso. Decidiu se dar ao luxo de se poupar para seu próximo jogo do Campeonato Brasileiro, outro clássico diante do Palmeiras, que vale sua atual vaga no G4. Com mais espaço e menos resistência dos santistas, Michel Bastos fez o gol-de-honra dos são-paulinos a minutos do fim: 3 x 1. No placar agregado, Santos 6 x 2 São Paulo.
Foi a sétima vez seguida que o Santos eliminou o São Paulo em confrontos de mata-mata. Dessa vez, certamente a mais fácil. E com ares de crueldade.
Doriva não conhecia o "inimigo". Ou seja, ao adotar um esquema ofensivo e com apenas um volante na Vila Belmiro, o treinador mostrou que não conhecia tão bem assim o rival como muita gente imaginava. Afinal, uma das razões pela qual o ex-técnico da Ponte Preta foi contratado para ocupar o lugar do colombiano Osório era justamente seu "retrospecto favorável" frente ao Santos nas duas últimas temporadas.
Doriva não conhece ainda sequer a "si mesmo", ou seja, o que tem em suas mãos. Seu time não se mostrou disciplinado taticamente, nem os jogadores pareciam estar de comum acordo com as ideias de seu comandante. Alguns atletas são-paulinos falaram bastante numa possível "reação" no segundo jogo após a primeira derrota no Morumbi por 3 x 1, mas em nenhum momento souberam ou tiveram motivação suficiente para transformar palavras em atitudes.
Ao contrário do Santos, que se conhece e conhecia muito bem seu adversário. Nos dois jogos, o Santos soube ser eficiente. Foi vencedor sendo atrevido e calculista ao mesmo tempo. Soube quando atacar e quando tirar o pé do acelerador. Controlou suas forças. Seus jogadores se mostram mais comprometidos com os planos do comandante. É um time animado, confiante e bem mais ousado. Entusiasmado, joga com alegria.
O time da Vila Belmiro conseguiu sua classificação às finais de forma quase natural, porque surpreendeu e se impôs nos dois clássicos. Foi um time corajoso fora e dentro de casa, soube tirar vantagem de seu futebol rápido e envolvente e depois foi prudente quando necessário.
O Santos não alterou seu jeito de jogar. E o São Paulo, aquele do Osório e esse do Doriva, ainda não encontrou um.


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