sábado, 13 de fevereiro de 2016

A PAIXÃO E A RAZÃO DE ROBINHO

(imagem de Robinho é pichada no muro do CT Rei Pelé)

Robinho é daqueles jogadores que nasceram para ser ídolos e, mesmo assim, conseguiu tumultuar tudo quase no fim do caminho. E sua ida para o Atlético-MG talvez tenha sepultado de vez o sentimento nutrido pelo torcedor ainda romântico, que celebra o amor à camisa, que cultiva as juras de paixão de um jogador a um time de futebol.
As pedaladas, a irreverência e a molecagem de Robinho ajudaram o Santos a sair de um longo jejum de 18 anos sem títulos, exatamente a sua idade em 2002, quando ao lado de Diego e uma turma de meninos, devolveu aos santistas o orgulho e o prestígio. A conquista irretocável do Campeonato Brasileiro daquele ano foi ainda mais saborosa por um motivo especial: justamente sobre "eles", os "caras", os "manos". O santista jamais se esquecerá disso. Para muitos, tal conquista foi mais importante até mesmo que o título da Copa Libertadores da América de 2011. E que Robinho não participou.
Giovanni, o "Messias", foi a chama de esperança dos santistas na Idade das Trevas durante a década de 90. E Robinho, anos depois, finalmente conseguiu ser a luz que irradiou essa chama. Com Robinho e a segunda geração de meninos da Vila, a magia havia voltado à Vila Belmiro.
Robinho é daqueles jogadores quase irresponsáveis que um dia decidiu pular o alambrado e levar para dentro de campo a alegria de jogar futebol, do mesmo jeito que fazia sorrindo nas praias de Santos. É cria do Santos, menino da Vila, e não deixará de ser mesmo vestindo outra camisa. Mas a paixão, eterno sentimento inerente ao torcedor, não aceita apenas a gratidão. O torcedor quer mais de seu ídolo. Além da alegria da vitória e do choro da derrota, o torcedor quer honras, promessas, lembranças e declarações verdadeiras. De uma verdade singular que ele (e somente ele, torcedor) carregará por todos os dias de sua vida.
O Santos tentou mais uma vez convencer seu ex-camisa 7 a voltar, lhe oferecendo um salário 200% acima do teto estipulado pelo clube. O Atlético-MG ofereceu mais. Sem titubear, Robinho foi para o clube que o arrematou pelo maior lance do leilão. Afinal, ele tem somente 32 anos e ainda tem tempo para poder preterir a razão no lugar da "paixão".
Aquele Robinho, moleque e franzino revelado pelo Santos em 2002, valia R$ 800 mil por mês, com toda certeza. Mas pode ser que esse Robinho atual, que antes de ser repatriado pelo Atlético-MG era reserva no inexpressivo Guangzhou Evergrande, da China, esteja valendo exatamente o que recebia o então Robinho de 2002. O atleticano terá a resposta.
E qual a razão de Robinho valer tanto e ainda possuir status de craque no futebol brasileiro? Sua história no Santos, ao qual o jogador dessa vez escolheu dar as costas.
No fim das contas para o santista, ficam três coisas: uma afirmação, uma certeza e um alerta, todos inexatos, pois o futebol não é matemática.
A afirmação é de que, para o torcedor, os dribles, os gols, a ginga, as pedaladas e o encanto do futebol valem bem mais do que cifras. A certeza é de que, pelo salário proposto à Robinho, é possível ao presidente santista Modesto Roma Junior  pagar dezenas de moleques bons de bola, já que o celeiro místico conhecido como Vila Belmiro nos mostra que o raio sempre pode cair diversas vezes no mesmo lugar. E o alerta é para aquele torcedor que ainda insiste em ser romântico, imaginando que, um dia, Neymar também retornará da Europa direto para o clube que o revelou. No caso, o mesmo clube de Robinho.

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