sábado, 5 de abril de 2014

ROGÉRIO CENI É MITO PARA OS SÃO-PAULINOS. ENTÃO POR QUE ARRISCAR?


Pelé nunca foi brilhante com as palavras da mesma maneira que foi brilhante com a bola nos pés. Mas uma das frases do Rei do Futebol merece destaque: “O jogador deve abandonar o futebol antes que o futebol o abandone”. Concordo. Compreender o momento certo de parar é tão louvável quanto uma carreira vitoriosa e repleta de títulos. Tão importante quanto o caminho que se percorre.
O paranaense Rogério Ceni, 41 anos, anunciou sua aposentadoria para o fim da temporada de 2014. Dessa vez em entrevista coletiva e de forma “oficial”, já que o fim da carreira vem sendo arrastado pelo goleiro há dois anos.
Trata-se do maior jogador da história do São Paulo, a frente de Pedro Rocha, Daryo Pereira e Raí. No Morumbi desde 1990, já atuou em 1.119 partidas oficiais pelo clube, ultrapassando o recorde de Pelé, que fez 1.116 jogos pelo Santos. O ídolo que conquistou 17 troféus com a camisa são-paulina e o goleiro-artilheiro que já marcou 113 gols, um feito que jamais será alcançado por outro jogador de sua posição.
Mas por quê Rogério adiou sua aposentadoria há dois anos e agora diz que realmente vai parar?
Porque ele queria encerrar a carreira com um título, de preferência expressivo. Uma Libertadores, por exemplo, para coroar uma trajetória tão vitoriosa. Seria a cereja do bolo. Teve a chance no ano passado, mas o São Paulo fez sua pior temporada da carreira de Ceni. Em 2013, o capitão do time encarou um inferno astral. No Paulista, teve sua pior média de gols sofridos: 20 gols em 17 partidas. Na Libertadores, uma campanha frustrante, que quase não passou da etapa de grupos. No Brasileiro, o clube viveu seu pior campeonato da história e somente se livrou do rebaixamento para a 2ª divisão a poucas rodadas do fim. Não era isso que Rogério esperava para o fim de sua carreira. O próprio goleiro disse mais de uma vez que “seu lado emocional estava muito pesado e que havia envelhecido 10 anos em 6 meses”. Afinal, sobre quem recaíram a maioria das críticas? Em qualquer time grande, o jogador que mais se destaca é também o mais cobrado.
Ceni sabe que o momento do São Paulo ainda é confuso e pode não ser diferente em 2014, como mostrou a participação do time atual no Campeonato Paulista. Por isso, resolveu que parar ainda “por cima” é o melhor a ser feito.
Exatamente o que fez o ex-goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras e também de outras torcidas, muito por seu estilo “boleirão” e “despojado” de ser. Além de questões físicas (que também atrapalham Ceni), Marcos percebeu que o Palmeiras não lhe daria a oportunidade de encerrar a carreira com um título importante e decidiu parar. E Rogério não tem o mesmo carisma de Marcos diante dos torcedores de outros clubes, por isso se torna ainda mais “alvo” das críticas. Em qualquer situação negativa de seu time, é a primeira “vidraça” a ser apedrejada.
Além da questão física, há também a parte técnica. Rogério Ceni ainda é o goleiro rápido e habilidoso de antes, que sempre fazia gols e que sempre se mostrava bastante seguro com a bola nos pés? Ainda é aquele goleiro que sabia como poucos sair jogando, que não errava reposição de bola e que esbanjava confiança? Se ao invés de uma "chegada triunfal" começam a aparecer tantas pedras no meio do caminho, por que então arriscar tudo o que já foi tão bem percorrido?
Ele tem um nome e uma história a zelar dentro do São Paulo e diante de seus súditos são-paulinos. Uma história que ele próprio escreveu com dedicação.
Por isso resolveu pendurar as chuteiras no fim da atual temporada e perpetuar sua imagem na galeria dos grandes jogadores. Sem arranhões.

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