quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O ABENÇOADO TIME DOS RAIOS


Todo mundo sabia como seria difícil a vida sem ele.
Pior: Será que existiria vida sem ele?
Há 40 anos, a bola veio para o meio de campo durante um jogo contra a Ponte Preta e ele a segurou com as mãos. Ajoelhou no centro do gramado e, com os braços em forma de cruz, o Rei do Futebol reverenciou seus súditos aos quatro lados do campo, logo sendo reverenciado pelos companheiros e adversários. Era o fim.
Sua descida para o vestiário parecia deixar seu torcedor não apenas órfão, mas com a certeza de que aquele jogador era simplesmente insubstituível. Jamais haveria outro.
A vida realmente ficou mais difícil. Afinal, era complicado dissipar a sensação de que toda aquela magia existiria para sempre, de que os domingos e quartas se tornariam "normais" sem aquele time genial desfilando de branco pelos gramados do mundo inteiro.
Mas ali, naquele mesmo local, o futebol renasce de tempos em tempos, encontra forças dentro de si mesmo e devolve o brilho à imaculada camisa branca. Dos meninos da máquina de jogar bola com Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe ao futebol discoteca de Pita, João Paulo e Juari. Passando pelo futebol moleque e irreverente da turma de Robinho e Diego. E pela ousadia e alegria do Cirque Du Soleil liderado por Neymar e Ganso.
Pelo passado, pelo presente e pelo futuro, a Vila famosa só faz sentido se houver um bando de meninos fazendo arte com a bola nos pés vestindo a lendária camisa branca. Garotos atrevidos que decidem pular o alambrado e fazer dentro de campo o que fazem tão naturalmente na praia ou no campinho de terra batida. Se não for Pelé, que seja Pita. Que seja Pepe. Que seja Robinho, Diego ou Neymar. Mas que sempre tenha alguém dando risada, pedalando, driblando meio time adversário e fazendo muitos gols. E que tudo isso faça valer o ingresso mesmo em caso de derrota.
Porque futebol é isso. É alegria, é encantamento. Mesmo que não seja campeão, pois o revés também faz parte. Porém, o futebol bonito, estético, bem jogado, os craques e os ídolos que nascem em casa, esses sim são ingredientes que tornam um time verdadeiramente grande. De DNA ofensivo, aquele que mais fez gols na história do futebol. E quando se trata apenas de futebol, pura e genuinamente, um time assim pode ser considerado maior que todos os seus oponentes.
É um perrengue danado ter de aprender com nossos erros. Mas as vezes dá certo. A safra as vezes demora, mas normalmente nos encanta. E nos faz gostar ainda mais de futebol. Feridas doem, porém quase sempre são necessárias. Que o digam os torcedores ou "meninos da fila" de duas décadas atrás, de um longo período de jejum, quando torcer era uma prova de amor.
Uma paixão verdadeira por aquilo que um time representa e é. E não por aquilo que sempre desejamos que seja. Torcer além do erro. E acreditar que dá para ser melhor do que se imaginava.
A esse torcedor, resta a esperança e a grata certeza de que ali, naquele acanhado, mítico e pulsante Alçapão, o raio sempre cairá. Dezenas, talvez centenas de vezes.
Porque assim querem os Deuses do Futebol. E todos os Santos.

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