sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A NOITE DO SÃO JOSÉ x SÃO JOSÉ


Primeira quarta-feira de fevereiro, noite chuvosa no Vale do Paraíba.
Aos poucos, o público vai chegando ao estádio Martins Pereira. O jogo é válido pela 2ª rodada da terceira divisão do Campeonato Paulista.
O São José, até então o "dono" do campo, agora terá que dividir “seu” palco com outro São José. Pela primeira vez, os dois “bichos” alvi-azuis que moram na mesma cidade vão se enfrentar por um torneio oficial, a Águia contra o Tigre, o São José Esporte Clube diante do São José dos Campos Futebol Clube.
Dentro e fora do estádio, olhares desconfiados.
- E agora, para quem torcer?”, perguntam-se os torcedores.
Mas não importa, todos estão vestidos de azul e branco. E por outro lado, dá para decidir em qual lado ficar no decorrer da partida. Ou quem sabe do campeonato. Tudo pode depender da trajetória de cada São José. Mas a situação incomoda os mais antigos. Ser fiel ao velho São José, que até já foi vice-campeão paulista numa memorável final contra o São Paulo? Ou esquecer o passado e focar no presente, incentivando o futuro de um time novo, que vem crescendo de produção e tem a chance de desbancar o antigo e cair nas graças da torcida?
O jogo começa. O estádio ainda quieto e indeciso. De repente, abre-se na arquibancada uma bandeira que não passa despercebida, nem pela equipe de rádio que transmite a partida. Metade da bandeira mostra o escudo do antigo São José, o tradicional. A outra metade do tecido está imaculadamente branco, com os dizeres em vermelho: “SÃO JOSÉ SÓ EXISTE UM”.
Ninguém se manifesta. Um grupo de torcedores apenas, os criadores da bandeira. Eles vibram a cada lance do time tido como “original” e ficam calados nos ataques perigosos do time “genérico”.
Aos 3 minutos do 2º tempo, Robson Silva faz, de cabeça, 1 x 0 para o debutante São José, o genérico. Uma parte do estádio comemora. Aos poucos, surgem os primeiros gritos de incentivo ao novo time da cidade.
O grupo de torcedores que confeccionou a bandeira se agita e começa a empurrar o velho São José. O restante do estádio se contagia e reaparecem os gritos de guerra e os saudosos cânticos da torcida dos anos 80 e 90.
Aos 32 minutos, Cláudio Bala, também de cabeça, empata a peleja. Festa dos joseenses na arquibancada. Ou melhor, da maioria que torce para a Águia.
Fim de jogo. São José 1 x 1 São José. Placar mais "amigável" impossível, dadas as devidas circunstâncias. Na saída do estádio, ainda sem saber bem o que aconteceu, dois torcedores travam um pequeno embate.
“ – Jogo fácil de assistir, né”, diz um deles sorrindo.
“ – Fácil por que?”, questiona o outro com a camisa do São José, o original.
" - Ora, qualquer um que ganhasse seria bom. Aliás, não sei porque a implicância com o novato São José. Temos que torcer para os dois, e prestigiar aquele que tem mais chances de fazer uma boa campanha".
E completa, olhando para o escudo na camisa do colega:
" - Se o outro for melhor, qual o problema? Será bom do mesmo jeito, pois é um time da cidade também".
Contrariado, o outro responde em tom incisivo:
" Certo. Neste caso, um corintiano também deveria ficar feliz mesmo quando seu time perde para o Palmeiras".
" - Por que?", retruca o torcedor misto.
" - Ué, não são times da mesma cidade?", responde ironicamente o torcedor joseense de um time só, atravessando para o outro lado da calçada. Para ele, em São José dos Campos, São José só existe um.

Leia mais: site globoesporte.com - "No primeiro embate entre São Josés, Águia e Tigre empatam pela Série A3" - http://migre.me/owmDB

Nenhum comentário: