terça-feira, 14 de abril de 2015

OS CLÁSSICOS PAULISTAS E O ADEUS AO VIETNÃ


Vivi a época áurea dos torneios estaduais, quando ser campeão paulista, por exemplo, era tão ou mais importante do que ser campeão brasileiro. Sim, apesar da cara de "mamão murcho" de muita gente da atual geração Playstation quando lê algo do gênero, a Copa Libertadores tinha até menos prestígio que o Campeonato Paulista. Mas isso passou. E passou faz tempo. Hoje essas competições, desorganizadas e que atendem aos interesses de quem nunca chutou uma bola na vida, são verdadeiramente uma piada de mau gosto. Do tipo que o ingresso de uma partida entre um time grande com escalação mista contra um modesto time do interior, em plena quarta-feira às 22h00, com transporte ruim e falta de segurança, custa três vezes mais caro que uma peça de teatro de alto nível ou assistir a estréia de um filme de primeira linha dentro de uma confortável sala de cinema 3D.
No Brasil, o torcedor ainda "abraça" os torneios estaduais mais pela paixão que o move e não pelo "espetáculo" que lhe é proporcionado. Porém, a cada temporada, uma parcela maior de torcedores (embora ainda apaixonados) decide fazer as contas e descobre a temerária relação custo-benefício de tais campeonatos. E desiste. A prova disso é que os Estaduais no Brasil possuem médias de público inferiores às das competições de futebol no Vietnã, Tailândia, Uzbequistão, Indonésia e Irã. Enquanto isso, a Federação Paulista de Futebol libera nos estádios a venda de cerveja quente e sem álcool a R$ 12. E exalta a proibição ao uso de pau de selfie.
Apesar disso tudo, mais um modorrento Campeonato Paulista está chegando ao fim. Vem aí os jogos eliminatórios de matar ou morrer, cuja única vantagem do time de melhor campanha é fazer a partida dentro de seus domínios.
Foram três meses de uma primeira fase arrastada, sem graça, sem audiência, sem torcida nos estádios. E com um regulamento bizarro, onde uma das equipes que foi rebaixada dependia de uma vitória a mais para se classificar à etapa decisiva. Por essas e outras razões, ficaram somente os clássicos. Que o são-paulino prefere não lembrar de nenhum.
Em 2015, para alegria de todos aqueles que mandam e desmandam no futebol, a teoria não complicou a prática. Ao contrário de 2014, onde o Corinthians sequer se classificou entre os oito melhores, São Paulo e Palmeiras foram eliminados na fase final e o Ituano foi campeão sobre o Santos, o quarteto voltou novamente para decidir. Tudo deu certo num campeonato que é preparado desde a concepção para eles, os grandes. Na verdade, a prática quase brincou de novo com a teoria no jogo em Itaquera, quando os homens do apito roubaram a cena prejudicando a Ponte Preta.
Mas, de forma mais que previsível, os quatro grandes passaram. Afinal, apesar do torneio não valer nada, seria "mais ou menos feio" para algum deles novamente ficar pelo caminho diante de um franco-atirador do interior, onde a folha de pagamento de todo o elenco geralmente é menor que o salário mensal daquele jogador famoso do time grande.

Depois de três meses, o clube grande que é campeão sobre um pequeno "só ganhou o Estadual" ou "bateu em cachorro morto". Porém, quando perde, fatalmente entra em crise.
Agora não. Tudo mudou. O Paulistinha que não valia nada, agora vale. E não adianta o torcedor do time que for eliminado querer imitar o outro torcedor também eliminado exclamando que "o Paulistinha não vale nada mesmo". Os clássicos valem. E somente eles. O título sobre o rival mais ainda. E dessa vez com um ingrediente apimentado: Santos e São Paulo têm a chance de erguer e levar para casa o primeiro troféu disputado dentro do Itaquerão. O sabor de uma conquista dessas não tem preço para seus torcedores. Entraria para a história.
A mídia já está posicionada com seus holofotes para quem vencer os jogos que finalmente valem alguma coisa. E sua metralhadora também estará na direção de quem perder.
Agora, como planejado pelos dirigentes, é "briga de cachorro grande". E apenas um vai continuar rindo a toa. Mesmo "sem valer nada" para quem perder.

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