domingo, 17 de maio de 2015

ELIMINAR O BOCA JUNIORS RESOLVE O PROBLEMA?


O estádio de futebol é talvez o único lugar capaz de reunir ao mesmo tempo, pelo mesmo motivo e com a mesma intensidade, milhares de pessoas de todas as idades, estilos, crenças e classes sociais. Faça frio ou faça sol, durante o dia ou de noite, é no estádio que a catarse coletiva transcende a razão. O torcedor ri, chora, xinga, berra, se lamenta, se desespera, celebra o gol. É no estádio que, enfim, o torcedor se liberta das amarras do cotidiano.
Porém, há uma ressalva. O torcedor pode e deve extravasar sua emoção, mas não pode acreditar que ali, dentro do estádio, tudo é permitido e liberado. Não, nem tudo é tolerado. Há limites, digamos, civilizados.
Jogar um composto de pimenta ou sabe-se lá o quê no rosto dos jogadores do River Plate quando entravam em campo para o 2º tempo é passar com folga desses limites. Nas arquibancadas, o torcedor pode pressionar, provocar, intimidar o adversário. Mas o futebol não pode se tornar uma guerra, pura e simples.
E quando a violência toma o cenário do futebol, quando se extrapolam os limites e a demência prevalece no estádio, quem deve ser punido? Os marginais que praticaram a violência ou o clube, razão de ser da esmagadora maioria dos torcedores do bem?
A exclusão do Boca Juniors da Copa Libertadores da América pela estupidez de meia-dúzia de imbecis disfarçados de torcedores, dentro de La Bombonera, é inútil. Inócua.
É justo punir o fabricante da arma ao invés do autor do disparo?
Um clube não pode ser penalizado dessa forma por causa da irresponsabilidade de um torcedor inconsequente que, em pleno século 21, sente-se no direito de agredir um jogador do time rival, seja com gás de pimenta ou qualquer outra coisa. O clube não pode ser responsabilizado por atos criminosos de alguém que veste as cores de sua camisa.
Como revistar 50 mil pessoas em menos de duas horas ou controlar suas atitudes, sendo que ali, numa imensa aglomeração, existe todo tipo de gente? Afinal, não há exame de sanidade mental ou psicológico na hora de se adquirir um ingresso. Nenhum torcedor responde a um teste eliminatório de bons modos antes de passar pela catraca. O clube não tem como prever o que uma pessoa vai fazer dentro ou fora de seu estádio.
É preciso identificar e punir rigorosamente o agressor. Prendê-lo. Mostrar à sociedade que existe um limite e que o infrator será sempre detido e preso. Interditar La Bombonera por 50 anos, obrigar o Boca Juniors a pagar multa de US$ 1 bilhão ou eliminá-lo sumariamente de uma Copa Libertadores não fará um marginal mudar sua "consciência social". Pelo contrário, só pune o torcedor do bem, o verdadeiro e autêntico amante do futebol. Expulsar o Boca Juniors do principal torneio do continente não vai acabar com atitudes covardes de quem está na arquibancada.
Punir o Boca é um desserviço ao futebol e o torcedor de verdade continuará sendo vítima dos marginais e de decisões como essa da Confederação Sul-americana de Futebol. Nada vai mudar. Somente o afastamento cada vez maior do torcedor que vai ao estádio somente para vibrar e torcer.
Daqui a algum tempo não ouviremos mais os gritos e os cânticos das torcidas dentro dos estádios. Apenas rugidos. E quem paga essa conta é quem não tem nada a ver com isso, especialmente o futebol.

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