sábado, 16 de maio de 2015

É MUITO POUCO, SÃO PAULO


O argentino Centurión foi ovacionado no Morumbi lotado quando marcou, a minutos do fim, o sofrido gol que deu ao São Paulo a vitória por 1 x 0 sobre o Cruzeiro na partida-de-ida das oitavas-de-final da Copa Libertadores. A torcida comemorou bastante a vitória e a vantagem do empate no jogo de volta no Mineirão. Afinal, seja por meio a zero, vantagem é vantagem. Mas e se o gol são-paulino tivesse sido marcado aos 5 minutos do 1º tempo? Centurión e seus companheiros sairiam vaiados de campo, porque certamente o torcedor entenderia que o placar mínimo de 1 x 0 "era muito pouco" numa disputa de mata-mata com a segunda partida fora de casa. Coisas do futebol.
E foi mesmo muito pouco para um time cuja torcida está sedenta por um título. Muito pouco para o ídolo dessa torcida que resolveu até adiar novamente a aposentadoria pela mesma sede de um título. Para um time que espera por um lance genial de Ganso, um "maestro" que hoje só existe virtualmente. Pouco para depender apenas do talento individual de um Michel Bastos ou do esforço de um argentino recém-chegado. E muito pouco para acreditar que dessa vez Luis Fabiano decidiria um jogo importante ou que Alexandre Pato teria disposição o jogo inteiro.
Apesar da eliminação no Campeonato Paulista, a Copa Libertadores continuava ali, ainda viva. Depois de uma fase de grupos cheia de erros, veio a segunda chance. O rival mineiro, desconsertado pelas recentes mudanças de peças no time bi-campeão brasileiro, era um adversário favorável. Porém, o São Paulo é um time sem alma, sem identidade, sem referência. Um time que o próprio são-paulino não mostrou prazer em vê-lo jogar este ano, nem na Libertadores (a torcida só lotou o Morumbi no primeiro jogo das oitavas-de-final). O Cruzeiro, que se desmontou e tenta se remontar com a temporada em andamento, possui algo que o São Paulo ainda não mostrou plenamente em 2015: confiança, interesse, vontade de vencer. Porque além de técnica e conjunto, na Libertadores é preciso artimanha, suor, catimba, é preciso algo a mais. E o time do São Paulo, seja aquele de Muricy Ramalho ou esse de Milton Cruz, ainda é o mesmo: quieto, previsível, morno. Que pode mais, mas que parece se contentar por ter chegado até "onde deu pra chegar".
No Mineirão, a partida também terminou 1 x 0, só que para os mineiros. O São Paulo, apático, parecia querer os pênaltis. A caminhada de Luis Fabiano em direção ao gol na cobrança de seu pênalti, tenso, inseguro, como um boi indo para o abate, era a tradução e o prenúncio do resultado final de mais um jogo decisivo. Contra o Corinthians, ainda na etapa de grupos, a equipe teve um suspiro numa noite de outono. Contra o Cruzeiro, o último suspiro. O time que, fora de campo, diz ter "sede de título" é o mesmo que, dentro de campo, não tem ambição em vencer. Rogério Ceni, o ídolo maior, deu sobrevida ao time após os 180 minutos e esperança na hora dos pênaltis. Insistiu em acreditar que seu time estava vivo, mas no fundo sabia que, de novo, o time estava morto. E a eliminação veio mais uma vez.
O goleiro-artilheiro e seus súditos queriam a Libertadores. Mas o time dentro de campo preferiu morrer sem sentir dor. Ganhar ou perder faz parte do jogo. Mas normalmente a bola pune os times que somente jogam para não perder.
O "grupo da morte" na Libertadores morreu cedo demais.

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