terça-feira, 26 de maio de 2015

LUXEMBURGO, A ESTRELA DO "PROJETO"


" Na Copa, eu trabalhei e analisei o que tem de moderno. Nada. Nós elogiamos a Holanda, a Costa Rica, e nós abominamos o 3-5-2. Para mim, é retrógrado. Não vi nada de novo. O que necessitamos é a mudança estrutural do futebol brasileiro."
(Vanderlei Luxemburgo, em julho de 2014, durante sua primeira entrevista coletiva como novo técnico do Flamengo)


Vanderlei Luxemburgo se acostumou a "ganhar" e agora tem sido difícil para ele aprender a "perder", principalmente depois de mais um "projeto" fracassado a frente de seu time do coração. Contestado, decadente e cada vez mais solitário num grupo de ex-treinadores vitoriosos, que estão a margem das mudanças que aconteceram no futebol mundial.
Luxemburgo ainda é um bom treinador, ao melhor estilo do boleiro disciplinador. Contudo, tem a incrível mania de repetir o mesmo defeito por onde passa: o de sentir-se mais importante que a instituição e, talvez, que o próprio futebol.
Pouca gente se lembra de Vanderlei Luxemburgo como jogador, mas sabe-se que ele era um lateral meio volante de nível mediano, sempre à sombra de Junior, este sim um craque.
Já como treinador, Luxemburgo fez escola. Em qualquer enquete sobre quais foram os treinadores mais vitoriosos do Brasil, certamente seu nome será lembrado. Começou há mais de 20 anos no interior de São Paulo, fazendo o Bragantino ser campeão paulista e vice-campeão brasileiro. E logo de cara, do jeito que mais gosta, com seu primeiro "projeto": transformar um time pequeno em grande. Não conseguiu. Mas ganhou impulso fulminante na carreira e conquistou títulos expressivos por Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro e Santos. Como prêmio, veio a seleção brasileira.
Embora sem nenhum título internacional na bagagem, há dez anos Luxemburgo viveu o melhor momento de um treinador brasileiro no exterior ao ser contratado pelo galáctico Real Madrid. Sem a mesma badalação da imprensa em terras espanholas, sua passagem pelo Real ficou mais lembrada por seu portunhol arrastado do que por seu desempenho na beira do campo. Bastante questionado, seu trabalho na Espanha era o resultado de um período de regressão do futebol brasileiro, de um jogo feio e improdutivo, de aumento da violência dentro e fora de campo. Era mais um de seus projetos que naufragava, provavelmente o mais ambicioso deles. No moderno futebol europeu, Luxemburgo era o "banguela" num lugar onde todo mundo tem todos os dentes na boca, um território até então inexplorado para ele. Inibido, porém milionário, ficou bem menos tempo do que esperava no Santiago Bernabéu.
Desde então, Vanderlei Luxemburgo se tornou decadente. Seu último título nacional foi conquistado com o Santos em 2004. De lá para cá, apenas alguns torneios estaduais. Em suas quatro passagens pelo Flamengo, somente um Campeonato Carioca. Sem parar para reciclar e repensar seus conceitos, o técnico ainda facilmente substitui sua visão estratégica de jogo e seus métodos motivacionais pelo "estrelato". Uma mostra, entre tantas que passam despercebidas, é sua costumeira saída para o vestiário sempre a 5 minutos antes da conquista de um título, não "somente para deixar a festa para os jogadores em campo", como ele diz, mas atrair para si os holofotes da mídia num momento estratégico de uma decisão, ainda com a bola rolando.
Vanderlei se considera mais que um treinador e, dentro de seus "projetos", sempre se inclui também como gestor. Se coloca como dono de um estilo incompreensível, incapaz de conciliar treinamento com gestão extra-campo. Se julga detentor de uma credibilidade que não possui. Seu excesso de protagonismo e sua vocação à celebridade lhe fazem ficar em baixa no vestiário com os jogadores e nos bastidores com os dirigentes.
Depois de mais uma vez assumir um novo projeto refazendo juras de amor ao clube que o revelou, foi novamente dispensado pelo Flamengo após duas derrotas e um empate nas três primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, deixando o time na zona de rebaixamento. Há quem o defenda e diga que a diretoria se precipitou, mas para os dirigentes o que de fato importa é a vitória no domingo e na quarta, seja qual for o adversário, dentro ou fora de casa. Afinal, no país do 7 x 1, os resultados são mais importantes que a qualidade do espetáculo.
Além de um novo revés, Luxemburgo ainda viu o São Paulo anunciar a chegada do colombiano Juan Carlos Osório para o lugar deixado por Muricy Ramalho e, com isso, perder a chance de seu ultimo projeto: o de comandar um clube com maior estrutura e de tentar ressuscitar o futebol de Alexandre Pato e Paulo Henrique Ganso, por exemplo.
Seria sua derradeira chance de se recriar para o futebol.

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