O TITE "LIBERTOU" OS CORINTIANOS

Quando eu comecei a gostar de futebol e acompanhar (e isso faz tempo, hein), mais ou menos por volta de 1979, 1980, eu já ouvia coros nos estádios de que o Corinthians jamais seria campeão brasileiro. Que o time do Parque São Jorge era apenas regional, pois só ganhava Campeonatos Paulistas e mais nada. Passaram-se mais ou menos 10 anos e a turma de Wilson Mano, Tupãzinho e Neto deram ao Corinthians o sonhado título nacional, numa final contra o São Paulo, no Morumbi. Mais uma década depois, e o Corinthians já ostentava 3 títulos brasileiros. Mas havia outro troféu a conquistar. Este mais pomposo, mais perseguido, mais mítico e mais iluminado: o da Copa Libertadores da América. Em 1999, o Palmeiras conseguiu levantar esse troféu. Coisa que Santos e São Paulo já haviam feito por duas vezes. Nas arquibancadas, ecoavam-se os gritos de "Puta que Pariu, Libertadores o Corinthians nunca viu!!!...e nem vai ver!!". Era a piada mais pronta da história do futebol. Pois todo time grande que se preza precisa ter uma Libertadores no currículo. A coisa ficou mais feia ainda para os corintianos quando o São Paulo conquistou o tri em 2005 e o Santos também conquistou o tri em 2011. Sem falar que no meio dessas duas conquistas dos rivais, o Corinthians ainda foi rebaixado para a 2ª divisão do Campeonato Brasileiro, em 2008. O "time do povo" precisava desesperadamente de uma Libertadores para calar a boca dos adversários, para se livrar de um verdadeiro bullying que sofria em 102 anos de existência. Faltava o título sulamericano, o mais difícil torneio de clubes do planeta.
Quando foi rebaixado para a segundona com o técnico Nelsinho, veio Mano Menezes para devolver o clube à elite do futebol brasileiro. E devolveu, assim como já havia feito antes com o Grêmio. Com o fiasco na Copa da África e a demissão de Dunga, Mano assumiu a seleção devido à recusa de Muricy Ramalho. O Corinthians chamou Tite de volta. Treinador estrategista, porém que sempre gosta de ser "culto" nas palavras. Logo inseriu no contexto do futebol o jargão "treinabilidade", para delírio dos torcedores rivais. Tite sofreu. Liderou o Brasileirão de 2010, mas acabou na 3ª posição. Por causa disso, teve que disputar a Pré-Libertadores em 2011 contra o modesto Tolima-COL e foi eliminado. Mais uma vez para delírio dos rivais. Também perdeu a final do Paulistão de 2011 para o Santos. Apesar de  bastante protesto, a diretoria ainda resolveu mantê-lo no posto. Sem nada mais para disputar em 2011, Tite montou seu time. Conseguiu implantar um padrão de jogo. E deslanchou no Brasileirão. Foi campeão com seus méritos. Contestado por utilizar um sistema tático feio, mas foi campeão. Focou novamente na Libertadores, quando percebeu que tinha o time em suas mãos e que poderia fazer história. Foi eliminado pela Ponte Preta no Paulistão de 2012, mas caminhava seguro no torneio sulamericano. Tão seguro que aqueles cânticos de "....Libertadores o Corinthians nunca viu" ficou muito ameaçado. O futebol do Corinthians era feio, retrancado, fechado, sem brilho. Mas era eficiente. Passou pela etapa de grupos com facilidade, passou pelos equatorianos do Emelec nas oitavas, pelo Vasco nas quartas e pelo então atual campeão Santos nas semifinais. Não havia perdido nenhuma partida. Chegaram às finais contra o temido Boca Juniors. Empate em La Bombonera. E vitória por 2 x 0 no Pacaembu, na noite histórica de 4 de julho.
Eu assisti a decisão. Vi corintianos comemorando com uma rajada de rojões sem fim por toda a madrugada. E me lembrei de quando, ainda criança, frequentava os estádios sabendo que o Corinthians era apenas um time meramente regional. Mas o técnico Tite pôs fim nessa história após mais de 30 anos e fez do Corinthians campeão da Copa Libertadores da América pela primeira vez. Eu achei um dia que os corintianos jamais teriam esse gostinho. Mas o Tite foi, de novo, campeão para o Corinthians, e não apenas pelo Corinthians.
Dizem que o mundo vai acabar em 2012. Não duvido mais. Se isso realmente acontecer, a culpa é de Adenor Leonardo Bacchi, mais conhecido como Tite. O cara que, com a sua treinabilidade, "libertou" os corintianos do bullying.