domingo, 12 de julho de 2015

7 x 1: O DIVISOR DE ÁGUAS DO FUTEBOL BRASILEIRO


*por Priscila Ruiz

Confesso que a desclassificação vexatória na Copa América e as “comemorações” de um ano do 7 x 1 diante da Alemanha na Copa de 2014 me deixaram muito reflexiva nos últimos dias. Evidente que a fase que o meu Tricolor tem vivido também contribuiu muito para que eu me voltasse a um mundo de devaneios futebolísticos à luz de um menu tão variado de vergonhas.
Sim, eu ainda sou um exemplar de torcedor do futebol romântico. E fazendo um apanhado geral do nosso recente histórico, concluo que deveríamos ter fechado para balanço em 2 de julho, no Estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, diante da derrota por 2 x 1 para a Holanda, na Copa de 2010.

O primeiro passo e talvez o mais importante seja reconhecermos que não vivemos apenas uma entressafra, mas sim uma crise institucional profunda.
E quando se trata de instituição, se trata da pirâmide como um todo: desde a base, que são os meninos que jogam bola na rua ou aqueles cujos pais tem condições de colocar nas tais escolinhas, até a linha do mais alto comando do esporte em nosso país, que pelo que me consta, sequer tem, de fato, as competências necessárias para comandar alguma coisa.
Vivemos tempos de vacas magérrimas quanto às revelações. Ou talvez não, a questão é que as perdemos cedo demais para mercados muito mais atrativos e organizados e o desdobramento disso impacta diretamente no ciclo da carreira do jogador na linha do tempo e, claro, nos times.
Outras questões essenciais: não temos capacidade nenhuma de planejamento estratégico. Afinal, não é possível fazer nada bem feito e de forma sustentável sem, ao menos, planejar o mínimo que seja. A seleção de Felipão de 2014 foi montada em 2013, a da Alemanha oito anos antes, simples assim.
Possuir protagonistas jovens demais, embora sobre talento, falta inteligência emocional. Foi estabelecido um abismo das gerações das últimas Copas para a de agora.
Sem falar em calendário, violência e especialmente em qualidade. Ou seja, a qualidade de quem administra os clubes, de quem forma os jogadores, de quem dirige as equipes e dos próprios times em campo, da arbitragem e por aí vai.
Em pesquisa realizada nos últimos quatro anos, 25% dos brasileiros indicaram que não torcem por time algum e nem pela Seleção Brasileira. E as nossas crianças? Pois é, a referência delas é Messi, Cristiano Ronaldo, Ibra, etc.
Falando em Seleção e por que não da maioria dos clubes brasileiros também. Como sair dessa? O ponto de partida é enterrar, de vez, o modelo mental que nos acompanha desde então e abrir os olhos, porque futebol é ciência em sua teoria e paixão em sua prática. Xô arrogância!
Um time se forma com planejamento, pois é, olha a palavrinha mágica aí de novo. O planejamento envolve escolhas acertadas, conhecimento do plano físico, tático e técnico atualizado, respeito à história e ao momento e, claro, tempo e comprometimento.
Respiramos com ajuda de aparelhos sim e já tivemos choques de realidade suficientes para acordar esse paciente gigante adormecido em coma.
O futebol brasileiro não pode estar relegado a ser só política, cifras, status. É muito, muito mais que isso. Torcer contra? Jamais. Esse caso visceral que me referi em minha apresentação, é no amor e na dor. Para sempre!

Um beijão e até a próxima!


* Priscila Ruiz é advogada, especializada em Segurança e Direitos Humanos. E para ela "la vida es aquello que sucede cuando no hay fútbol". Ou seja, sim, ela é loucamente apaixonada pelo esporte bretão. Contribui com o AL MANAK FC através de sua opinião inteligente e analítica.

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